sábado, 16 de dezembro de 2017

Chamados para sermos desrespeitados!

                     

                       

<https://blogs.universal.org/bispomacedo/wp-content/uploads/2017/03/ovelha-706x432.jpg>


Três de dezembro de dois mil de dezessete no calendário cristão. Poucos veículos circulavam naquela manhã de domingo. É uma pena que não me lembre das condições meteorológicas. Algumas coisas sublimaram de minha memória. E o fizeram mais rápido do que eu poderia perceber. Conto aqui, sem muitos detalhes, algo que aconteceu neste dia que acredito ser interessante para iniciar uma reflexão, mesmo sem a pretensão de terminá-la:

Lecionava acerca de novos desafios que a igreja do presente século deve enfrentar. A discussão começou a se tornar específica, gravitando em torno de um grupo de pessoas que tem crescido e precisam ouvir, mesmo sem eu saber como, o evangelho. Nego-me a dizer qual era o grupo. Isto é completamente irrelevante para o assunto tratado neste texto. Mas o pensamento lançado ao vento, com hercúlea coragem, por parte de um aluno, naquela classe foi: “Se o grupo x não nos respeita, nós (cristãos) devemos respeitá-lo? Se eles não me respeitam, eu também não vou respeitá-los!”. O que se segue parte da problematização do que este discente disse.
Fiquei pensando em como Jesus agiria neste caso. Lembrei-me imediatamente de um dos textos que mais gosto dos evangelhos:

'— Escutem! Eu estou mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos. Sejam espertos como as cobras e sem maldade como as pombas.   '

Mateus 10:16

Alguns versículos antes, Jesus prepara seus discípulos para o ministério dizendo o que devem fazer. A partir do dezesseis (16) o mestre começa a discursar sobre as perseguições que seus seguidores iriam passar.

O Dr. Jonas Madureira costuma citar estes versículos e fazer a seguinte pergunta: “O que fazem as ovelhas em meio aos lobos”? – Ele mesmo responde – “Elas são devoradas”! Você não leu errado. Somos chamados para sermos devorados! Qualquer tentativa de fazer desta Terra um Céu, é mentirosa. E qualquer pensamento que trata este mundo como um lugar de gozo e beatitude, é infiel à verdade anunciada por Jesus. Na forma que expôs Lucas Banzoli: “[Somos] chamados para crer e sofrer”.

Devemos tomar cuidado para que não surja uma geração de arrogantes intelectuais. Pessoas que só pensam em vencer os debates, em serem os mais inteligentes da sala, em terem os melhores argumentos ou em serem os autores das teses mais inovadoras. Não podemos esquecer-nos de dar a outra face. Aliás, em Jesus aprendemos que a melhor forma de ensinar o amor é amando as pessoas de tal maneira a deixar sermos humilhados por elas. Quando alguém me humilha também espera que eu faça de igual modo. Mas quando eu me entrego para ser humilhado sem querer “dar o troco”, as ovelha vence o lobo.

Confesso que não quero dar um ponto final neste texto. Meu desejo é provocar uma reflexão que vai além destas palavras. Gosto de pensar que os meus escritos não foram feitos para se restringirem à tela do computador. Leve isto para onde você for: para casa, para o trabalho, para a vida... Mas, por favor, não esqueça: Se te desrespeitarem, deixe ser humilhado – eu sei, é difícil! Fomos chamados para sermos desrespeitados.

Caio Peclat da Silva Paula

sábado, 2 de dezembro de 2017

O Grito de Desespero do Novo Ateísmo


Nos últimos anos, houve no meio popular a grande ascensão do movimento dos novos ateus (ou neo-ateus) tentando ir contra os movimentos cristãos e tentando dar objeções à fé cristã que, para eles, parecem ser fortes. Os Neo-ateus se dizem os grandes “pensadores livres”, os quais questionaram a cultura cristã em que nasceram, e são aqueles que estão do lado da ciência. Porém, em última análise, o novo ateísmo passa longe de nos proporcionar algum desafio intelectual. A falha miserável de pessoas como Richard Dawkins, Stephen Hawking, Lawrence Krauss, e outros em tentar refutar a fé cristã se vê apenas como um grito de desespero.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Apologistas como advogados da igreja

                                  

Venho de uma família de pastores. Meu avô é pastor, meu tio também e o meu pai é presbítero. Todos os dias aprendia uma lição diferente sobre como deveria me comportar como cristão. Sou um jovem que nunca deixou a liturgia de lado, sempre orei, li a Bíblia, frequentava, e ainda frequento, a maioria dos cultos que posso participar e, como um bom religioso, tenho, o que se pode chamar, de reputação ilibada perante os que me cercam. No entanto, passei há alguns anos por uma crise de fé. É a partir dela que eu inicio toda esta reflexão.

Na época, era eu um porteiro da igreja. Não sabia se meu Patrão (Deus) existia ou se seria eu um tolo. Não me preocupava com o salário (recompensas), queria saber somente: “Seria eu um autônomo ou seu servo”? Foi então que conheci, verdadeiramente, a apologética. Se todos os descrentes conhecessem o que dizem os apologistas, uma considerável parte seria persuadida, como eu fui. O triste problema é que os ateus só conhecem - algumas – igrejas. Mas os problemas não acabaram de vez. Conheci nas leituras apologéticas um Cristianismo diferente daquele que hoje vejo nas igrejas que visito e, também, na que congrego.

Aquele mito, que nós apologistas destruímos, de que a ciência é contrária à fé cristã encontra adeptos dentro de ambientes religiosos. Canso-me de ouvir discursos onde a ciência é negada e desprezada para salvar a fé deste falacioso “dilema”. E o que dizer da falta de conhecimento a cerca do Cristianismo e das demais religiões? Frases como “Os budistas adoram a Buda” ou como “Não existe nem mesmo uma prova da existência de Deus. É tudo pela fé” só mostram o analfabetismo religioso de nossos líderes.

Outro problema é a intolerância religiosa. A apologética cristã mostra que a nossa religião não é intolerante ao fazer críticas a partir de textos bíblicos. Mas em meus dias vejo críticas como: “É necessária muita fé para acreditar em algo desses” ou “É mais fácil acreditar em Cristo do que no Espiritismo”. Minha pergunta é: Se a nossa regra de fé é a Bíblia, onde ela está nestas críticas? Acredito nem ser necessário citar as frases mais vergonhosas que alguns representantes – digo, alguns e não todos- proferem, as frases que escolhi são as mais brandas.

Muitos representantes – repito: Não são todos - não possuem a mínima ideia de apologética e outras áreas da Teologia. Cabe, infelizmente, aos apologistas defender o Cristo que eles pregam, mesmo não concordando em todos os pontos. Cabe a nós o ônus de mostrar aos descrentes um Cristianismo tolerante, alfabetizado religiosamente – pois nossa pretensão, por enquanto, é pequena, não precisa ser culto – e, no mínimo, que entende os conceitos mais básicos da Teologia. Nossa missão – como apologistas - é clamar. Clamar até que haja ouvidos para nossas bocas. Até que tenhamos vozes e alguém nos ouça.

Caio Peclat da Silva Paula

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Dan Brown, Deus e a Ciência


Para o melhor ou para o pior (provavelmente para o pior), Dan Brown novamente tenta falar besteira sobre Deus. Como seu livro O Código Da Vinci já foi demonstrado inúmeras vezes como uma obra que contém tantos erros históricos quanto poderia ter, Brown parece que não pode ficar quieto e fazer alguma pesquisa séria, ele tem que escrever sobre aquilo que acha “ruim” (o que nos faz pensar sobre qual a base dele para chamar algo de “ruim”, mas ok.)

Dan Brown, Deus e a Ciência


Deus e a Ciência
Dan Brown alegou o seguinte:

Historicamente, nenhum deus sobreviveu à ciência. Com os avanços da tecnologia, a necessidade de um Deus exterior, que nos julga vai desaparecer. [1]

Brown está correto em uma coisa: No passado as antigas culturas e religiões explicavam fenômenos dizendo que os deuses os haviam causado. Mas é uma grande extrapolação dizer que os filósofos teístas em toda a história que colocaram Deus como o criador do universo fizeram isso da mesma forma. Na verdade, o Cristianismo em si é diferente dessas religiões pagãs, e a história da ciência nos mostra isso.
Durante a história, os cientistas cristãos eram bastante diferentes dos religiosos pagãos. Por exemplo, enquanto muitos deles viam a natureza como deuses ou causada por deuses, de modo que não deveria ser investigada, os cristãos sempre olharam para a natureza buscando entender como Deus havia feito aquilo.
Por exemplo, por que a ciência não se desenvolveu mais na China, que possui bem mais tecnologia, do que na Europa? O biólogo Edward Wilson responde:

... Os estudiosos Chineses abandonaram a ideia de um ser supremo com propriedades criativas e pessoais. Nenhum Autor racional da Natureza existia em seu universo; consequentemente, os objetos que eles descreviam não seguiam princípios universais, mas, ao invés disso, operavam dentro de regras particulares que eram seguidas por essas entidades na ordem cósmica. Na ausência de uma necessidade para a noção de leis gerais – ou, pensamentos na mente de Deus, por assim dizer – pouca ou nenhuma pesquisa era feira para elas.[2]

David Livingstone, professor de geociência da Queen’s University também foi bem claro quanto à participação do Cristianismo na ciência. Ele diz: “A ideia de que o cristianismo e a ciência estão constantemente em conflito é uma grosseira distorção do testemunho histórico. Na verdade, Robert Boyle, o grande químico inglês, acreditava que os cientistas, mais que quaisquer outros, glorificavam a Deus na realização das suas tarefas porque lhes foi dado investigar a criação de Deus.”[3]
A afirmação de que o Cristianismo e a ciência são opostos está em total contradição com a história da ciência, que foi desenvolvida principalmente por causa dos cristãos.
Na realidade, é impossível que a ciência acabe com Deus. Por quê? Porque poderíamos saber tudo sobre o universo e seu funcionamento por meios naturais, ainda assim isso não descartaria a existência de Deus.
O filósofo da ciência John Lennox demonstrou isso com um exemplo: Imagine que um homem primitivo viesse a ter contato com um carro. Nesse primeiro instante, ele poderia dizer que o carro anda por causa do “deus dos carros”. Com o tempo, ele vai entendendo que o carro funciona com um motor e vários mecanismos. Ele descobre que acontece toda uma química por dentro do carro que faz com que ele funcione. Ok! Ele pode saber tudo isso. Mas isso não faz com que ele seja capaz de dizer que não existe um projetista ou designer do carro. Saber como funciona o motor do carro não significa que não se pode dizer que não há um criador do carro. [4]
O historiador da ciência Alfred North Whitehead colocou muito bem quando disse que: “Os homens tornaram-se científicos porque esperavam lei na natureza; e eles esperavam lei na natureza porque acreditavam em um Legislador.” [5]
Mas e então? Tendo mostrado que os cristãos em toda a história foram a causa do crescimento da ciência, podemos dizer, ainda assim, que a criação do universo por Deus é igual aos mitos antigos das religiões pagãs?
A ciência estuda o mundo natural. Mas antes de existir o universo, não existia natureza. Então como pode a ciência buscar uma causa que seja governada por leis da natureza, sujeita ao tempo, ao espaço e à matéria, sendo que não havia nada disso antes?
O que o teísta esta fazendo não é dizer, “Não sabemos, portanto foi Deus.” O contrário! Ele esta dizendo: Sabemos que a natureza teve um início, portanto a causa só pode ser sobrenatural.
Pense nisso: Como pode algo natural criar a natureza? Seria como se você dissesse que deu a luz a si mesmo. Sendo que não havia nem tempo, nem espaço e nem matéria antes da origem da natureza, a causa tem que, necessariamente, estar além do tempo, do espaço e da matéria. Além disso, já que criou o universo a partir de absolutamente nada, ela deve ser infinitamente poderosa. Mas veja bem: Isso é exatamente o que o Cristão quer dizer quando fala de Deus! Alguém além do espaço, do tempo e da matéria que é onipotente.
Então, o Cristão não esta dizendo que Deus é a causa de algo que não sabemos. Mas sim dizendo que a melhor explicação para um fenômeno que sabemos é a de que há um Criador Transcendente.
Quando fazemos a Teologia Natural, nós não apelamos ao desconhecido. Ao contrário, usamos o que sabemos da ciência como evidência para a premissa de um argumento filosófico que nos leva a uma conclusão teológica. Considere estes exemplos:

Argumento Cosmológico Kalam:

P1 – Tudo o que começa a existir tem uma causa
P2 – O universo começou a existir
Conclusão – Portanto o universo teve uma causa

Argumento Teleológico:

P1 – O ajuste fino do universo se deve a necessidade física, ao acaso ou ao design
P2 – Não é por necessidade física ou ao acaso
Conclusão – Portanto, é por Design

Em ambos esses casos, a P2 é fortalecida por evidências cientificas vindas dos estudos da cosmologia contemporânea. Se ambos os argumentos tiverem sucesso, então há boas razões filosóficas e cientificas para se crer em um Criador e Designer do universo.
Claro, nenhum desses argumentos prova o Deus da Bíblia. Eles nem são intencionados a isso. Mas, se bem sucedidos, provam um Deus que pode ser o Deus do Cristianismo. E, para ir além, devemos partir para as evidências históricas a favor do cristianismo, como as evidências da historicidade do Novo Testamento e as evidências da ressurreição de Jesus.
Porém, algo mais importante se torna evidente pela afirmação de Brown. A pressuposição de que a existência de Deus depende das pessoas crerem n’Ele como alguém útil para explicar fenômenos. Porém, tal pressuposto é completamente falacioso. Supondo que não houvesse nenhuma evidência para a existência de Deus vinda da ciência, ainda assim Deus poderia existir. Deus não é alguém “útil” para explicações. Deus é um ser metafisicamente necessário, que existe mesmo antes de qualquer ser vivo no universo existir.
Em suma, Dan Brown erra miseravelmente com sua afirmação de que a ciência nega a existência de Deus. Ele erra em dois pontos centrais: Não perceber que foram os cristãos que fizeram da ciência o que ela é hoje, e no pressuposto de que a existência de Deus depende da crença n’Ele como forma de explicar fenômenos. Mas mais importante que isso, essas afirmações e pressupostos, mesmo se corretos, ainda assim não descartariam Deus como explicação ultima da realidade. Pois mesmo que explicássemos tudo por meios naturais, ainda seria necessária uma explicação do por que a natureza existe e do por que de conseguirmos compreende-la. Isso o ateísmo jamais conseguirá explicar.



[1] Folha de São Paulo, Deus vai desaparecer, diz Dan Brown, que lança livro em Frankfurt, disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1926555-deus-vai-desaparecer-diz-dan-brown-que-lanca-livro-em-frankfurt.shtml> acesso 15 de outubro de 2017
[2] E. O. Wilson, Consilience: The Unity of Knowledge, Vintage, 2014, p. 31
[3] Citado em Lee Strobel, Em Defesa da fé, São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 296
[4] John Lennox e David Gooding, Cristianismo: Ópio do povo?, Porto Alegre: A Verdade, 2013, p. 43; ao invés do termo “deus dos carros”, Lennox usa “Sr. Ford”
[5] Citado em Cristianismo: ópio do povo?, p. 46

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

“Argumentos e evidências são para os que tem fé fraca.” – Uma Resposta

http://www.patheos.com/blogs/unequallyyoked/2016/07/rational-faith-more-working-hypothesis-than-logical-proof.html

Proponentes do Fideísmo costumam dizer que aqueles que possuem argumentos e evidências para sua fé são os que possuem uma fé fraca e, por isso, precisam de um apoio intelectual para ela.
Já lidamos com argumentos baseados em João 20:29 e Hebreus 11:1, que são versículos usados para tentar defender uma fé cega com base na Bíblia. Agora, vamos lidar com a afirmação de que as evidências são para aqueles que possuem uma fé fraca.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Qual a origem de todas as coisas?


  “De onde viemos”? “O Universo foi criado ou sempre existiu”? ”Qual a origem de todas as coisas”? “Como podemos ter certeza de que o que conhecemos é a verdade”? “Qual a melhor maneira de viver”? Perguntas como estas são feitas por qualquer um, são universais, não importa o grau de instrução, raça, idade ou, até mesmo, local de origem. Meu palpite é que você também já pensou sobre estas perguntas. Mas será que o Cristianismo responde a estas grandes questões da humanidade? É pensando em uma destas questões que escrevo este texto, mas não com a minha interpretação, baseio o texto nos escritos de Francis Schaeffer. A Pergunta que respondemos neste texto é: ”Qual a origem de todas as coisas”?


Para o referido autor existem três respostas para esta pergunta, são elas: 
  • ·         Tudo se origina do nada;
O erro que Schaeffer observa neste pensamento é que sempre que dizemos que tudo vem do nada, este “nada” já é alguma coisa e não “nada” realmente. O nada é ausência de ser, mas aqueles que defendem esta posição costumam chamar de “nada” alguma coisa. Geralmente este “nada” é o que chamamos de vácuo quântico – uma flutuação de energia que produz matéria- mas, se alguém o considerar como “nada”, se constituirá uma contradição – como já foi dito acima – para o autor.
  •              Tudo possui uma origem impessoal;
Existem dois problemas que esta resposta desconsidera. A origem impessoal não explica a complexidade da vida e do universo, como também deixa de responder a pessoalidade humana (o que distingue o homem do restante da criação). Como pode o homem ser pessoal se teve uma origem impessoal? Como pode o impessoal gerar o pessoal? Como podem leis naturais gerar complexidade se o processo não é guiado por qualquer ser pessoal? As duas únicas respostas decentes para estas perguntas são: a) Necessidade Física: diz que era necessário que existisse complexidade, tal qual é necessário que existam leis naturais. Este pensamento cai por terra quando entendemos que as leis da natureza não implicam uma necessidade física. b) Acaso: diz que a pessoalidade  e a complexidade são frutos de um processo sem propósito algum que demorou tempo suficiente para que o acaso consiga os fazer nascer. Ideia estranha, não é? Bem, a minha resposta é que ela é improvável. Assim, a origem impessoal não explica a complexidade nem mesmo a pessoalidade humana.
  •              Tudo possui uma origem pessoal;
Esta parece ser a melhor posição, já que responde muito bem a complexidade do Universo e a pessoalidade humana. Uma causa pessoal parece ser mais verdadeira que uma impessoal. Mas esta causa deve ser infinita e independente do Universo causado. O Cristianismo responderia que esta causa é Deus. Sabemos que o Deus cristão é infinito, mas como poderíamos demonstrar que Ele independe do mundo? É neste ponto que Schaeffer recorre à trindade. No Cristianismo a concepção de Deus é bastante sofisticada, onde Ele é dividido em três pessoas que se amam e se amavam antes da criação do mundo (Deus é só um que se divide em três pessoas). Deus não dependia do mundo para ser amado, Ele já era amado antes da criação do Universo e do homem. É por estes motivos – Deus ser pessoal,  infinito e independente do mundo – que Deus é a melhor explicação para a origem do Universo.
Assim, pode-se concluir que Deus existe – visto que é a melhor explicação para o problema exposto (a origem de todas as coisas) e como tal, existe por necessidade – e que não está em silêncio, pois comunicou a sua existência a nós, como também os seus atributos. O Deus pessoal, infinito e independente fala conosco.
Caio Peclat da Silva Paula

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O que os Estudiosos de Grego Pensam da Tradução do Novo Mundo da Bíblia da Sociedade Torre de Vigia?


Por Chad A. Gross

Em seu pequeno livro Os Fatos sobre as Testemunhas de Jeová, os autores John Ankerberg e John Weldon contendem que “estudiosos de Grego, Cristãos e não cristãos universalmente rejeitam...” [1] a Tradução do Novo Mundo (TNM) da Bíblia usada pelas Testemunhas de Jeová.
Um exemplo que eles oferecem é o falecido Dr. Julius Mantey. Como os autores explicam:

Mantey foi um dos principais estudiosos de Grego no mundo. Ele foi o autor de Hellenistic Greek Reader [Leitor de Grego Helenístico] e co-autor, com H. E. Dana, de A Manual Grammar of the Greek New Testament [Um Manual de Gramático do Novo Testamento Grego]. Não apenas ele rejeitava a TNM, ele publicamente demandou que a Sociedade parasse de citar sua Grammar para sustentá-la. [2]

Mantey escreveu:

Eu nunca li o Novo Testamento tão mal traduzido como em The Kingdom Interlinear Translation of the Greek Scriptures [A Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas]. De fato, não é nem sua tradução. Na verdade, é uma distorção do Novo Testamento. Os tradutores usaram o que J. B. Rotherham traduziu em 1893, para a linguagem moderna, e mudaram a leitura em porções de passagens para que falassem o que as Testemunhas de Jeová crêem e ensinam. Isso é uma distorção, não uma tradução.[3]

Bruce Metzger, outro estudioso do Novo Testamento bem conhecido, disse, “As Testemunhas de Jeová incorporaram em suas traduções do Novo Testamento diversas renderizações erradas do Grego.” [4]
O Dr. Robert Countess, que escreveu sua dissertação para seu Ph.D em grego na TNM, concluiu que a tradução:

... tem sido acentuadamente sem sucesso em manter considerações doutrinarias da influencia da tradução real... Ela deve ser vista como uma obra radicalmente tendenciosa. Em alguns pontos ela realmente é desonesta. Em outras ela não é nem moderna e nem acadêmica. E entrelaçado em sua fabricação ela é uma aplicação inconsistente de seus próprios princípios enunciados no Prefácio e no Apêndice. [5]

Como se isso não fosse o bastante, o estudioso Britânico H. H. Rowley chamou a TNM de “um insulto à Palavra de Deus.” [6]
Então, de acordo com estudiosos Cristãos e não-Cristãos, a TNM é tendenciosa, desonesta e errada.

Traduzido de:
TRUTHBOMB APOLOGETICS, What do Greek Scholars Think of the Watchtower Society’s New World Translation of the Bible?, 21 de julho de 2017, disponível em http://truthbomb.blogspot.com.br/2017/07/what-do-greek-scholars-think-of.html  acesso em 21 de julho de 2017




[1] John Ankerberg and John Weldon, The Facts on Jehovah's Witnesses, p. 31.
[2] Ibid., 32
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Ibid.

terça-feira, 11 de julho de 2017

O Deus que não merecemos - Por: Caio Peclat

O Deus que não merecemos



Um Deus que ainda não existe. O Deus que imaginei castiga qualquer um que colocar os pés nesta Terra. Terra suja de sangue. E de quem é o sangue? “Dos homens que meu Deus torturar e os assistir implorando, com a voz trêmula, por misericórdia com os olhos anunciando o terror presente”. Para castigar, somente um Deus mau. Um Deus que poupa somente os inocentes. Inocentes? Como se esta ideia fosse real. Se houvessem inocentes, Ele até pouparia, mas não há inocentes. Todos merecem uma punição mais grave que a morte.
Este Grande juiz ainda não nasceu, mas bem que merecíamos sermos julgados por Ele. Merecemos um Deus que ama a destruição e o sofrimento do homem. A morte, para nós, seria a punição mais branda. Todos são culpados. Mas e o Deus que existe? Bem, Ele é um Deus de amor. Um Deus de infinita bondade e misericórdia dos homens. Não merecemos Deus, merecemos o Diabo. Não merecemos a salvação prometida por este Deus, mas quem disse que Ele se importa com o merecimento? Ele te dá mesmo assim.
 Olhe a sua volta. Estrelas, montes, animais, talvez vales, ou um mar, até mesmo um deserto. O Deus que existe não fez tudo isto pensando em como é prazeroso criar mundos, foi pensando em você. Não merecíamos a vida, mas a possuímos sem merecer. O Deus que inventei faria você implorar para viver no Inferno, já o [Deus] que existe, promete te levar para o Céu. Já que não merecemos a vida até mesmo viver no Inferno já é um favor, te colocar lá é uma prova da bondade Divina. Não somos nem mesmo dignos de termos nascido, até mesmo uma vida miserável nos é um grande favor.

Caio Peclat da Silva Paula

domingo, 9 de julho de 2017

Cristianismo liberal, interpretação de texto e "é para aquela época"


Um dos perigos do “cristianismo moderno” é o de se cair no conto do cristianismo liberal. Eu defino “cristianismo liberal” como aquela forma de cristianismo que se permite sair dos padrões tradicionais das Escrituras para acomoda-la aos padrões gerais da sociedade moderna. Uma das características dessa forma de “cristianismo” é quando a pessoa vê doutrinas importantes que a afetariam diretamente e diz, “ah, mas isso é questão de interpretação.” Além disso, é normal (nesse meio) a ideia de que tudo que a maior parte do que a Bíblia ensina era apenas para a época em que foi escrito. Esse tipo de teologia se tornou muito comum em meios de “cristãos pró-LGBT”, cristãos de esquerda, etc. pelo simples fato de que essa interpretação das Escrituras os permite abrir espaço para o tipo de “liberdade” que desejam.
Há, porém, um perigo óbvio para quem é adepto disso. E é importante salientar esse perigo antes de ver as falhas lógicas dessa visão religiosa. O perigo é o seguinte: Se você descarta o que não gosta na Bíblia como algo “pra época” sem qualquer estudo da possibilidade desse ser o caso ou não, então você esta se colocando acima da Palavra de Deus. Como disse Santo Agostinho: “Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você.”
Agora, quais são as falhas lógicas desse tipo de perspectiva cristã? O primeiro problema está na afirmação de que doutrinas importantes são uma “questão de interpretação.” Nesse caso, é pressuposto que a Bíblia admita diversas interpretações e que, portanto, não devemos “batalhar” para saber qual interpretação esta correta. Não apenas tal posicionamento contradiz o que a própria Bíblia ensina (Judas 1:3), como também é uma posição auto-refutável, ou autocontraditória. Pense nisso: Para dizer que algo é relativo (como, “a interpretação desse texto é relativa”) você tem que conhecer algum sentido objetivo daquele texto. Em outras palavras, a afirmação de que a Bíblia admite diversas interpretações é em si uma interpretação da Bíblia. 
Para saber qual interpretação da Bíblia está correta, devemos nos utilizar os meios apropriados de interpretação bíblica. Considere, por exemplo, a afirmação de Paulo de que o homem deve ensinar e a mulher não, um ensinamento direto contra o pastorado feminino:

A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição.
Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio.
Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva.
1 Timóteo 2:11-13

Como nós podemos saber que esse ensinamento não é para aquela época? Bom, em primeiro lugar, não há nenhum indicio disso no texto. Não parece que Paulo esteja falando apenas para Timóteo, ou apenas para o grupo em que Timóteo estava envolvido, ou apenas para a situação em que Timóteo estava envolvido. O que nos leva ao segundo ponto: Note que Paulo usa como justificativa Adão e Eva. O que isso implica é que essa seja uma ordem de criação, não de algo para a época.
Acredito que esses pontos tornem extremamente difícil de se interpretar esse texto de outra forma. Porém, se alguém mostrar minhas conclusões como erradas a partir de métodos de interpretação séria do texto, eu posso reconsidera-las.
Como segundo exemplo, considere as leis do Antigo Testamento. Como nós sabemos que elas eram para a sua época, e não pra sempre? Porque elas faziam parte das palavras da Antiga Aliança, as quais a Nova Aliança veio para “substituir”, por assim dizer. Como diz o autor de Hebreus:

Chamando "nova" esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido, está a ponto de desaparecer.
Ora, a primeira aliança tinha regras para a adoração e também um tabernáculo terreno.
Foi levantado um tabernáculo; na parte da frente, chamada Lugar Santo, estavam o candelabro, a mesa e os pães da Presença.
Por trás do segundo véu havia a parte chamada Santo dos Santos,
onde se encontravam o altar de ouro para o incenso e a arca da aliança, totalmente revestida de ouro. Nessa arca estavam o vaso de ouro contendo o maná, a vara de Arão que floresceu e as tábuas da aliança.
Hebreus 8:13-9:1-4

Outros textos, como Colossenses 2:14-17 e Hebreus 8:5 também destacam que leis cerimoniais eram sombras da realidade de Cristo. [Edit: Para evitar confusões, há de ser dito que muitas leis do Antigo Testamento são direcionadas especificamente para Judeus, não pra Cristãos.]
Desse modo, torna-se evidente como devemos tratar, nas Escrituras, questões que são “para a época” ou não.
Ainda mais preocupante do que tratar questões bíblicas como “questões da época” é o tratamento da moralidade como subjetiva para a época. Por exemplo, dizer que Paulo condenou o comportamento homossexual em Romanos 1 porque isso era invalido “para aquela época”, ou dizer que Jesus era contra o divórcio porque era algo errado “para aquela época”, etc. Esses tipos de ensinamentos não só são logicamente inválidos, como também são completamente anticristo. Pense nisso por um segundo: Cristo morreu por nossos pecados. O que são pecados? São atos objetivamente errados. Portanto, se não há uma moral objetiva para todas as épocas, Cristo morreu em vão.
Se a moralidade fosse subjetiva, você não precisaria se reconciliar com Deus. Apenas diria “isso é errado pra você, mas não pra mim. Assim, eu não pequei.” Se não há certo e errado, então não há pecado. Se não há pecado, não tem porque Cristo morrer. 
Agora, apontar para o desenvolvimento moral da sociedade é um tipo de argumentação invalida. Em primeiro lugar, só porque a percepção moral das pessoas mudou com a época, isso não significa que a moral seja subjetiva. Isso seria uma confusão entre epistemologia e ontologia, quer dizer, uma confusão entre “como sabemos” com “o que é.” Em segundo lugar, se a moralidade fosse subjetiva de acordo com a sua época, nós nunca poderíamos dizer que a nossa época tem valores melhores. Isso porque, se não há moral objetiva, então nós não melhoramos de acordo com um padrão, mas, na verdade, apenas mudamos de regras. Desse modo, não temos como dizer que a escravidão era algo errado, ou que torturar pequenos bebês por diversão seja algo errado. São apenas opiniões.
Por fim, se a moral fosse subjetiva de acordo com a sua época, todo e qualquer movimento “revolucionário” de hoje em dia perderia seu fundamento principal. Um movimento como a legalização do aborto pressupõe que haja uma resposta certa ou errada com relação à mulher envolvida e ao bebê que esta para nascer. Do mesmo modo, ninguém poderia proclamar direitos, já que o próprio conceito de “direitos humanos” pressupõe um valor moral.
Também pode ser dito que alguém pode querer responder a esse texto. Porém, tal atitude implicaria que a pessoa crê em uma resposta certa e que eu estou errado. E se eu fosse responder a essa resposta, também seria pressuposto pelo meu adversário que seria errado eu representar sua posição de forma errada, ou utilizar de argumentos ad hominem, ou que eu não minta, ou que eu seja honesto, etc. Desse modo, escapar de uma experiência de moral objetiva torna-se extremamente difícil.

Em suma, não devemos cair no conto de “é apenas a sua interpretação.” Devemos utilizar os métodos apropriados de exegese bíblica para interpretar um texto, assim descobrindo o que é para a época e o que não é. Além disso, é difícil um cristão ser um relativista moral, já que isso acabaria com toda a necessidade da obra de Cristo. 

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Por que rejeitar Ellen White?


Desde que eu saí da Igreja Adventista do Sétimo Dia, me perguntaram o porquê de eu ter saído. Uma das respostas a essa pergunta é: Ellen White. Nem lendo “Caminho a Cristo” ou qualquer uma dessas “obras bonitinhas” eu fui convencido por ela. As razões para isso já foram expostas em outro texto, mas vamos aprofundar nelas.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

P&R #4 - Adão nomeando os animais

http://www.holyhome.nl/bvib-09.html

Pergunta


Olá, primeiramente gostaria de parabenizar pelo conteúdo do blog, muito bom mesmo!
Tenho uma pergunta que possivelmente coloca em cheque o ponto de Adão não ter tempo para nomear todos os animais no sexto dia: Era realmente necessário nomear todos os tipos de animais e "almas viventes" citados em Genesis 2 v19 e v20 ? Porque partindo do ponto de vista do autor de Gênesis seria consistente pensar que não eram muitos animais, uma vez que os judeus provavelmente conheciam poucas espécies, assim do ponto de vista do autor do texto me parece coerente pensar que Adão teve tempo suficiente pra dar o nome de todas as espécies conhecidas pelos judeus.
Também gostaria de pedir indicações de material defendendo diluvio local (livros que defendam essa posição de maneira biblica).
E outra pergunta, apesar de já ter visto argumentos para crer que Êxodo 20 v10 e 11 não defendem os dias de Gênesis 1 como sendo literais, você ainda se sente inseguro com a abordagem biblica "old earth"?
Agradeceria de coração uma resposta, sou simpático ao criacionismo progressista mas ainda me sinto inseguro na questão, se puder indicar livros e vídeos falando a respeito do tema ficaria muito mas MUITO grato mesmo, abraços!

Atenciosamente,
Jessé de Souza Martins da Silva

Resposta


Eu não acho, Jessé, que seja relevante quantos animais o autor de Gênesis conhecia. O simples fato dele nomear os tipos de animais que seriam nomeados já abrange todos os que haviam sido criados anteriormente. O contexto de criação, antes de Adão ter de nomear os animais, implica que Adão, na verdade, nomeou todos os animais criados antes, não apenas os que o autor de Gênesis conhecia.
O texto de Gênesis 2 diz:

Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.
E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea.
Gênesis 2:19,20

Antes disso, o texto narra no versículo 19 que “o Senhor Deus formou da terra todo animal...” É importante ressaltar que o hebraico para “todo” é kol, que significa literalmente, todos. O contexto não da suporte à interpretação apresentada, pelo fato de seguir uma linha:
- Deus criou todo o universo
- Deus construiu tudo no universo
- Deus formou todos os animais
Não faria muito sentido Deus criar tudo e de repente apenas focar nos animais conhecidos pelo autor. Acredito que até mesmo Moisés sabia que havia muitos animais ele não conhecia!
Podemos mostrar outras partes da Bíblia em que o autor também não sabia o que estava se passando, mas narrou de sua maneira. Por exemplo, em Josué 10:13, o sol não parou literalmente, mas sim a terra que parou. Temos aqui a narrativa com o conhecimento do autor, mas esse conhecimento não abrange tudo o que aconteceu de fato. Do mesmo modo, mesmo se Moisés estivesse narrando com base nos animais que conhecia, ainda assim o texto não permite que esse conhecimento do autor abrangesse tudo o que aconteceu. De fato, isso não respeitaria o sentido óbvio do texto. Seria necessário uma pressuposição ad hoc e tentar encaixa-la no texto para que essa interpretação funcionasse, sendo assim uma eisegese, não exegese.
Com respeito a sua segunda pergunta, o que eu posso recomendar é o site godandscience.org e oldearth.org.
Já para a terceira, você diz “apesar de já ter visto argumentos para crer que Êxodo 20 v10 e 11 não defendem os dias de Gênesis 1 como sendo literais, você ainda se sente inseguro com a abordagem bíblica ‘old earth’?” De modo nenhum! Eu tenho plena certeza que a Bíblia em parte alguma ensina a criação recente. A criação recente, a meu ver, é biblicamente fantasiosa e cientificamente indefensível. A ciência de terra jovem depende muito da demonstração de que métodos de datação não funcionem. Também é altamente improvável que tudo o que sabemos nos ramos de geologia, cosmologia, física e biologia estejam errados. Quanto aos argumentos bíblicos, eles também parecem defeituosos. O que é algo que eu já argumentei bastante na série Criacionismo Progressivo, aqui do blog.
Livros que posso te recomendar sobre o assunto são:
- A Matter of Days, Hugh Ross
Espero que tenha ajudado!

Paz,

Felipe Forti

terça-feira, 23 de maio de 2017

Como pensar o problema do sofrimento


Como pensar o problema do sofrimento

Por: Caio Peclat da Silva Paula

ATENÇÃO: Neste post não fiz a distinção entre mal moral e mal físico. Não é um texto introdutório. Sugiro leitura deste texto aqui.
Se você estuda a arte do pensamento, perceberá que para responder uma pergunta complexa é necessário construir um sistema filosófico, uma estrutura de pensamento. Eu não sei se você já teve esta impressão, mas quando estudei o problema do sofrimento (pode ser conceituado como: “Por que um Deus bom e amoroso permitiria o sofrimento humano?”) conseguia encontrar algumas explicações, mas nada concreto, parecia que todas as tentativas de respostas (teodiceias) foram em vão. Neste contexto nasce a estrutura que John W. Wenham para, primeiro pensar, e depois responder o problema do sofrimento.
  • ·         Liberdade;

Este ponto é praticamente universal entre a maioria dos autores que já li. A liberdade é o que possibilita que a ação humana seja boa ou má. Assim, a natureza pecaminosa humana faz com que a ação a ser escolhida seja a má. Neste sentido, boa parte do mal que existe no mundo é causada primeiramente pelo pecado, e este pela liberdade do homem. Contudo, dessa vez, tenho que ir além de Wenham para demonstrar o motivo de possuirmos a liberdade.
Primeiramente note que se retirarmos a liberdade do homem, com certeza grande parte do mal não existiria. Entretanto, não seríamos livres. Se existe uma coisa que Deus valoriza muito é o relacionamento. E para que um relacionamento seja sincero é essencial que haja a escolha de relacionar-se. E para que uma escolha seja feita, necessário é, evidentemente, a existência da liberdade. Após esta leitura tenho certeza que você pode compreender perfeitamente que a liberdade é um ato de amor de Deus.
  • ·         Pecado;

Wenham também acredita que “o pecado seja relacionado ao sofrimento, sendo este um desestímulo”. Neste sentido, o mal seria tal como a dor de uma ferida. O mal (ou o sofrimento) avisaria que existe algo errado e que deve ser concertado. No caso a ferida deve ser tratada e deve-se tomar cuidado para não causar uma nova ferida, pois a dor é incômoda. Assim, sempre que alguém pensar em pecar lembrar-se-á do mal que o pecado traz.
  • ·         Nosso bem supremo através do sofrimento;

Lembro-me de um autor que dizia que tudo de grande nesta Terra se fez grande por ter passado pelo sofrimento. Neste sentido, o sofrimento é uma ponte para que se alcance a glória. É com este pensamento em mãos que Wenham diz que o que possuímos de mais precioso – a salvação – foi construído em meio à dor, horror e sofrimento na cruz. É assim que temos que lembrar que o sofrimento não é um obstáculo, mas um caminho para a grandeza.
  • ·         Não sabemos de tudo ainda;

“Quem é o homem para dar a impressão de que compreende a sabedoria infinita e a complexidade dos propósitos divinos?” – diz Wenham. O intelecto humano é limitado e não conhece todas as coisas. Portanto, não devemos questionar Deus por coisas que não sabemos. Deus pode ter um motivo muito especial para que exista o meu e o seu sofrimento, contudo, este motivo pode ser tão complexo que nem o mais inteligente de nós poderia entender. Se Deus nos respondesse a pergunta “Por que sofremos?”, neste pensamento, Ele diria algo parecido com isso: “Eu te responderei, mas na minha resposta irei falar de coisas que você ainda não conhece, como pessoas, leis da natureza e uma matemática muito complicada para você entender...”.
  • ·         O sofrimento pode estimular a vida espiritual;

É nítida a impressão, ao se ler a história de homens que andaram com Deus, de que ainda que o sofrimento seja doloroso, há algo de útil no mesmo. É impressionante a capacidade de o sofrimento tornar aquele que sofre um tanto mais sensível a dor do outro. Acredito que não seja necessário falar que esta não é a única característica que o sofrimento nos trás como um presente. Aquele que passa pelo sofrimento (geralmente) bebe do néctar das mais altas virtudes. O sofrimento nos leva para perto de Deus. Este é um fato que cada história bíblica (que envolve o sofrimento) nos apresenta como lição.
  • ·         Retribuição, Postergada e atinge a todos;

No Direito Penal brasileiro vigente, um dos fundamentos da pena é a retribuição. O criminoso comete a infração penal e o Estado retribui com a pena. Para o autor em questão, o sofrimento é a retribuição de Deus dá ao pecado humano. De modo análogo ocorre com uma ação boa a recompensa divina. Mas é interessante notar que esta retribuição é postergada, pois assim o pecador teria tempo para se arrepender e aquele que pratica o bem, mais uma oportunidade para aprofundar a sua fé. Necessário é ressaltar que, o sofrimento é estendido a todos por, a priori, dois motivos, são eles: Para que todos vejam o poder de Deus e sua justiça; e para que todos recebam a punição. Mas neste ponto você me pergunta: ”Todos devem receber a punição? E os inocentes?”. A melhor resposta é: “Não há inocentes”!
  • ·         Sofrimento é limitado;

Mesmo que nosso sofrimento pareça grande, ele ainda é limitado a esta vida. Evidentemente, o cristianismo não acredita que a vida terrena vale por si mesma. Ela vale pela oportunidade de salvação que ela nos dá. Salvação esta que leva o homem à vida Eterna. Nesta segunda vida não há sofrimento. Mas se pudermos observar sinceramente (e também de modo racional – digo, livre de sentimentalismo tóxico) é possível concordar, mesmo que em primeiro momento seja difícil, com as palavras do apóstolo Paulo:

“A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2 Cor 4.17).

segunda-feira, 1 de maio de 2017

A repressão dos afetos

(https://bereianews.files.wordpress.com/2014/04/augustus-nicodemus.jpg?w=267&h=300)

Por Caio Peclat da Silva Paula

Não é tão raro ouvir que Freud copiou Nietzsche! Já existem alguns livros publicados que defendem esta tese. Eu, particularmente, não acredito que seja tão relevante assim esta discussão. Afinal, se Freud copiou, copiou com maestria. Entretanto este não será o tema do post de hoje. Falaremos sobre um tema que liga o pensamento destes dois grandes gênios. A repressão de afetos.
Leonardo Zoccaratto Ferreira em suas aulas na internet costuma explicar o pensamento Nietzscheano da seguinte forma: No mundo, ou somos afetados ou o afetamos. O som da televisão ligada neste momento em que escrevo me afeta. O pedido que fiz para abaixarem o volume do aparelho afetou quem o assistia. Quando algo (ou alguém) nos afeta, este afeto entra no corpo e necessita sair de alguma forma. Se não sair de uma, sai de outra (forma).
Assim, se algum homem sente desejo sexual, ele é afetado e necessita afetar o mundo com o seu desejo. Se o afeto é sexual, o desejo, logicamente, deverá ser sexual. Este também é o pensamento de Sigmund Freud.  E é precisamente sobre este tipo de afeto (o sexual) que ouviremos hoje. Digo “ouviremos”, pois a partir de agora a palavra está com o Dr. Augustus Nicodemus:


  • 1-

“Esse argumento parte do princípio de que os evangélicos conservadores são contra o sexo. Já desisti de tentar mostrar aos libertinos que essa ideia é uma representação falsa da visão cristã conservadora sobre o assunto. Nós não somos contra o sexo em si. Somos contra o sexo fora do casamento, pois entendemos que as relações sexuais devem ser desfrutadas somente por pessoas legitimamente casadas. Foi o próprio Deus que nos criou sexuados. E ele criou o sexo não somente para a procriação, mas como meio de comunhão, comunicação e prazer entre marido e mulher”. (NICODEMUS, Augustus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja — São Paulo: Mundo Cristão, 2011. p.95)

  • 2-
“O argumento de que reprimir o desejo sexual causa traumas, no fundo, acaba colocando a culpa em Deus, na Bíblia e na Igreja de serem uma fábrica de neuróticos reprimidos. Sim, pois a Bíblia ensina claramente a abstinência, a pureza sexual e a virgindade para os que não são casados, conforme argumentei no texto anterior, “Carta a um jovem evangélico que faz sexo com a namorada”. Se a abstinência sexual antes do casamento traz transtornos mentais e emocionais, deveríamos considerar esses ensinamentos da Bíblia como radicais, antiquados e inadequados, portanto como meras ideias humanas de pessoas que viveram numa época pré-Freud — e, como tais, deveriam ser rejeitadas e descartadas como palavra de homem, e não palavra de Deus. Ao fim, a contenção dos libertinos é mesmo contra a Bíblia e contra Deus”. (NICODEMUS, Augustus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja — São Paulo: Mundo Cristão, 2011. p.96)

  • 3-
“Bem, para esse argumento ser verdadeiro, teríamos de verificá-lo estatisticamente, na prática. Pesquisa alguma vai mostrar que existe uma relação direta de causa e efeito entre abstinência antes do casamento e distúrbios mentais, neuroses e coisas afins. Da mesma forma que nenhuma pesquisa vai mostrar que os jovens que praticam sexo livre antes do casamento são equilibrados, sensatos, sábios e inteligentes. Pode ser que até se prove o contrário. Os tarados, estupradores e maníacos sexuais não serão encontrados no grupo dos virgens e abstinentes. Talvez fosse interessante mencionar nesse contexto o estudo conduzido na Universidade de Minnesota por Ann Meier. De acordo com as pesquisas, o sexo estava associado à autoestima baixa e depressão em garotas que iniciaram as relações sexuais (entre os 15 e os 17 anos, em média) sem relacionamento afetivo ou romântico”. (NICODEMUS, Augustus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja — São Paulo: Mundo Cristão, 2011. p.96)

  • 4-
“Embora a decisão de preservar-se para o casamento vá provocar lutas e conflitos internos no coração e na mente dos jovens evangélicos, esses conflitos nada mais são que a luta normal que todo cristão verdadeiro enfrenta para viver uma vida reta e santa diante de Deus, mortificando o pecado e se revestindo diariamente de Cristo (Rm 3; Cl 3; Ef 4—5). Fugir das paixões da mocidade foi o mandamento de Paulo ao jovem Timóteo (2Tm 2:22). Esse combate contra a nossa natureza carnal não provoca traumas, neuroses, recalques e distúrbios. Ao contrário, nos ensina paciência, perseverança, a amar a pureza e a apreciar as virtudes, o que significa tomar diariamente a cruz, como Jesus nos mandou (Lc 9:23). Os que não querem tomar o caminho da cruz, entram pela porta larga e vivem para satisfazer seus desejos e instintos.
Por esses motivos acima e por outros que poderiam ser acrescentados, considero esse argumento — de que a abstenção das relações sexuais antes do casamento provoca complexos, neuroses, recalques — como nada mais que uma desculpa para aqueles que querem viver na fornicação. Não existe realmente substância e fundamento para essa ideia, a não ser o desejo de justificar-se diante de uma consciência culpada, da opinião contrária de outros ou dos ensinamentos das Escrituras”. (NICODEMUS, Augustus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja — São Paulo: Mundo Cristão, 2011. p.97)

Caio Peclat da Silva Paula

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Alegria, Confiança e Esperança

http://www.livinghopechicago.com/need-hope.html

A Bíblia nunca prometeu a felicidade terrena. Deus pode nos abençoar de diversas formas, mas não há promessa na Bíblia de que seremos 100% felizes 100% do tempo com coisas terrenas. Mas isso não significa que a Bíblia não fale nada sobre a alegria. Pelo contrário, há uma receita bíblica simples para o homem se alegrar a qualquer momento: Lembre-se de Cristo.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Em defesa dos valores - uma crítica a Nietzsche


Por Caio Peclat da Silva Paula

Em defesa dos valores - uma crítica a Nietzsche


Um tema que "está na moda" nos últimos anos é a imoralidade, mesmo que esta venha a ser chamada por nomes como: inversão de valores ou, até mesmo, degradação dos valores.  Em ambos os nomes, estamos diante de uma - pelo menos - aparente troca de algumas construções morais por outras.
Um crítico da moral - que gostava de ser chamado de imoralista - foi o alemão F. W. Nietzsche. Este, em alguns de seus textos - como "Genealogia da moral", "Humano, demasiado humano", "Além do bem e do mal" e etc - demonstra que a moral é uma barreira nascida da fraqueza humana e que deve ser superada.