Em defesa dos valores - uma crítica a Nietzsche
Um tema que "está na moda" nos últimos anos
é a imoralidade, mesmo que esta venha a ser chamada por nomes como: inversão de
valores ou, até mesmo, degradação dos valores.
Em ambos os nomes, estamos diante de uma - pelo menos - aparente troca
de algumas construções morais por outras.
Um crítico da moral - que gostava de ser chamado de
imoralista - foi o alemão F. W. Nietzsche. Este, em alguns de seus textos -
como "Genealogia da moral", "Humano, demasiado humano",
"Além do bem e do mal" e etc - demonstra que a moral é uma barreira
nascida da fraqueza humana e que deve ser superada.
· O que Nietzsche diz:
Vamos falar sobre isso detalhadamente:
O autor divide a humanidade em 2 tipos de pessoas: as
que possuem poder em suas mãos (fortes) e as que devem se submeter a este poder
(fracos). Os fortes utilizam a sua força para humilhar e desprezar os fracos,
já estes, por sua vez, tentam controlar
as ações dos fortes através de um instrumento chamado moral. Os fracos, por
serem maioria, dizem o que é certo e
errado e esta é a única forma de tentar limitar o poder dos poderosos.
Assim, a moral seria um instrumento de dominação em
que os fracos tentam ferir a consciência dos fortes dizendo que suas ações são
más. Segue-se, então, que a moral é fruto da fraqueza humana, sendo isto, a
mesma é algo que deve ser desprezada e superada. Dessa forma, a gênese (origem)
da moral demostra o motivo pelo qual ela deverá ter seu fim. Nietzsche
anunciava a troca destes valores pela expressão da natureza humana. Assim o
valor do altruísmo seria trocado pelo egoísmo (da natureza humana), por
exemplo.
·
A
minha crítica:
Nietzsche ao classificar os homens em duas espécies, a
saber, fortes e fracos, acaba atribuindo a característica do poder (potência)
fundamentando-se somente no que pode ver. O autor pressupõe que o mundo
material (mundo inteligível) é tudo o que existe - que é um pensamento
anti-cristão - para chegar a uma conclusão que também é anti-cristã. Se você
analisar, Nietzsche não prova nada, ele parte do mesmo ponto que ele quer
concluir (ele pressupõe o que quer provar mais a diante). - Minha pergunta é: E
se existir algo além da matéria? - Acredito que não é necessário dizer que o
autor utilizou em sua argumentação uma falácia (falha no pensamento).
Outro erro é percebido quando o referido escritor
tenta demonstrar a partir da origem da moral que a mesma deve ser abandonada.
Mas a origem de um sistema de crenças, por mais absurda que seja, não demonstra
que a mesma seja uma inverdade. Exemplo: Se uma pessoa acredita que hoje irá
chover, pois sonhou com isso, não significa que não irá chover, ainda assim
pode haver chuva. Seguindo a mesma linha de raciocínio, é possível entender
que a moral não é, necessariamente, uma barreira mentirosa para as ações do
forte. Ela pode ser a expressão de uma lei natural. A sua gênese, mesmo que
Nietzsche esteja certo na sua explicação (da gênese), ainda assim, seria um
fato que não permite conclusões, não podemos concluir nada a seu respeito.
Rodrigo Constantino em um breve texto lembra que os
valores são conquistas históricas da humanidade. Você pode perceber que existe
uma lei acima de nós, uma ideia de justiça que comparamos com os fatos do
cotidiano. Quando alguém diz: "Isto não é justo". O indivíduo
está comparando o acontecimento com a lei natural acima de nós. Esta lei é a
mesma para todos, o que muda é a interpretação que cada pessoa ou cultura faz
dela. Assim, os valores seriam a interpretação mais sofisticada da lei natural.
Demoramos milhares de anos para construir esta interpretação. Não podemos
jogá-la fora como se faz com um produto descartável. Os valores não são
descartáveis e não podem ser trocados pela perversa e maligna natureza humana.
Lutamos contra ela (natureza humana) há anos, todos os nossos esforços serão em
vão se deixarmos o nosso lado mais obscuro e miserável tornar-se a parte dominante
da humanidade. Note a seriedade da questão! É o destino da humanidade que está
em jogo. Acredito que se existe algo de bom no século passado é o conhecimento
de que a natureza humana deve ser superada. Não queremos tornar a viver tudo
isso para só depois aprender, né? - Bem, espero que não!
Ainda falando de superação, seria de uma gigantesca
perspicácia se você notasse a falácia do táxi no discurso Nietzschiano.
Vou explicar: Você pode lembrar que as pessoas através da cultura - e até
Nietzsche, especialmente em seu Zaratustra - tendem a aplaudir a
superação (transcendência). Quando um pobre se torna rico, quando um indivíduo
se torna um grande músico, obras de arte, as pirâmides do Egito e et cetera.
Em suma, a superação é sempre louvada e digna de admiração. Já no caso da
natureza humana, não. O autor a
considera uma exceção. Se você analisar os exemplos que lhe dei, verá que não
há motivos para que haja a exceção.
Nietzsche comete a falácia do táxi. Em se tratando de artes, música e
arquitetura a superação é bem vinda, mas quando se fala em natureza humana,
Nietzsche covardemente tenta dar um tchau para a mesma - como alguém que
acena ao abandonar um táxi - a encarando como exceção.
Assim, poderíamos concluir que a crítica de Nietzsche
é impotente, no sentido de que a mesma não consegue demonstrar que a moral seja
uma ilusão. Como também, que a troca da moral pela natureza humana se constitui
em uma punhalada nas costas de nossos ancestrais que se empenharam em
interpretar a lei natural durante anos e anos. Além disso, pudemos compreender
que o autor manipulou o conhecimento a ponto de nos omitir informações. Mais
uma vez poderei dizer: Isso "Nietzsche não nos conta"!
Caio Peclat da Silva Paula
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