terça-feira, 23 de maio de 2017

Como pensar o problema do sofrimento


Como pensar o problema do sofrimento

Por: Caio Peclat da Silva Paula

ATENÇÃO: Neste post não fiz a distinção entre mal moral e mal físico. Não é um texto introdutório. Sugiro leitura deste texto aqui.
Se você estuda a arte do pensamento, perceberá que para responder uma pergunta complexa é necessário construir um sistema filosófico, uma estrutura de pensamento. Eu não sei se você já teve esta impressão, mas quando estudei o problema do sofrimento (pode ser conceituado como: “Por que um Deus bom e amoroso permitiria o sofrimento humano?”) conseguia encontrar algumas explicações, mas nada concreto, parecia que todas as tentativas de respostas (teodiceias) foram em vão. Neste contexto nasce a estrutura que John W. Wenham para, primeiro pensar, e depois responder o problema do sofrimento.
  • ·         Liberdade;

Este ponto é praticamente universal entre a maioria dos autores que já li. A liberdade é o que possibilita que a ação humana seja boa ou má. Assim, a natureza pecaminosa humana faz com que a ação a ser escolhida seja a má. Neste sentido, boa parte do mal que existe no mundo é causada primeiramente pelo pecado, e este pela liberdade do homem. Contudo, dessa vez, tenho que ir além de Wenham para demonstrar o motivo de possuirmos a liberdade.
Primeiramente note que se retirarmos a liberdade do homem, com certeza grande parte do mal não existiria. Entretanto, não seríamos livres. Se existe uma coisa que Deus valoriza muito é o relacionamento. E para que um relacionamento seja sincero é essencial que haja a escolha de relacionar-se. E para que uma escolha seja feita, necessário é, evidentemente, a existência da liberdade. Após esta leitura tenho certeza que você pode compreender perfeitamente que a liberdade é um ato de amor de Deus.
  • ·         Pecado;

Wenham também acredita que “o pecado seja relacionado ao sofrimento, sendo este um desestímulo”. Neste sentido, o mal seria tal como a dor de uma ferida. O mal (ou o sofrimento) avisaria que existe algo errado e que deve ser concertado. No caso a ferida deve ser tratada e deve-se tomar cuidado para não causar uma nova ferida, pois a dor é incômoda. Assim, sempre que alguém pensar em pecar lembrar-se-á do mal que o pecado traz.
  • ·         Nosso bem supremo através do sofrimento;

Lembro-me de um autor que dizia que tudo de grande nesta Terra se fez grande por ter passado pelo sofrimento. Neste sentido, o sofrimento é uma ponte para que se alcance a glória. É com este pensamento em mãos que Wenham diz que o que possuímos de mais precioso – a salvação – foi construído em meio à dor, horror e sofrimento na cruz. É assim que temos que lembrar que o sofrimento não é um obstáculo, mas um caminho para a grandeza.
  • ·         Não sabemos de tudo ainda;

“Quem é o homem para dar a impressão de que compreende a sabedoria infinita e a complexidade dos propósitos divinos?” – diz Wenham. O intelecto humano é limitado e não conhece todas as coisas. Portanto, não devemos questionar Deus por coisas que não sabemos. Deus pode ter um motivo muito especial para que exista o meu e o seu sofrimento, contudo, este motivo pode ser tão complexo que nem o mais inteligente de nós poderia entender. Se Deus nos respondesse a pergunta “Por que sofremos?”, neste pensamento, Ele diria algo parecido com isso: “Eu te responderei, mas na minha resposta irei falar de coisas que você ainda não conhece, como pessoas, leis da natureza e uma matemática muito complicada para você entender...”.
  • ·         O sofrimento pode estimular a vida espiritual;

É nítida a impressão, ao se ler a história de homens que andaram com Deus, de que ainda que o sofrimento seja doloroso, há algo de útil no mesmo. É impressionante a capacidade de o sofrimento tornar aquele que sofre um tanto mais sensível a dor do outro. Acredito que não seja necessário falar que esta não é a única característica que o sofrimento nos trás como um presente. Aquele que passa pelo sofrimento (geralmente) bebe do néctar das mais altas virtudes. O sofrimento nos leva para perto de Deus. Este é um fato que cada história bíblica (que envolve o sofrimento) nos apresenta como lição.
  • ·         Retribuição, Postergada e atinge a todos;

No Direito Penal brasileiro vigente, um dos fundamentos da pena é a retribuição. O criminoso comete a infração penal e o Estado retribui com a pena. Para o autor em questão, o sofrimento é a retribuição de Deus dá ao pecado humano. De modo análogo ocorre com uma ação boa a recompensa divina. Mas é interessante notar que esta retribuição é postergada, pois assim o pecador teria tempo para se arrepender e aquele que pratica o bem, mais uma oportunidade para aprofundar a sua fé. Necessário é ressaltar que, o sofrimento é estendido a todos por, a priori, dois motivos, são eles: Para que todos vejam o poder de Deus e sua justiça; e para que todos recebam a punição. Mas neste ponto você me pergunta: ”Todos devem receber a punição? E os inocentes?”. A melhor resposta é: “Não há inocentes”!
  • ·         Sofrimento é limitado;

Mesmo que nosso sofrimento pareça grande, ele ainda é limitado a esta vida. Evidentemente, o cristianismo não acredita que a vida terrena vale por si mesma. Ela vale pela oportunidade de salvação que ela nos dá. Salvação esta que leva o homem à vida Eterna. Nesta segunda vida não há sofrimento. Mas se pudermos observar sinceramente (e também de modo racional – digo, livre de sentimentalismo tóxico) é possível concordar, mesmo que em primeiro momento seja difícil, com as palavras do apóstolo Paulo:

“A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2 Cor 4.17).

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