Como pensar o problema do sofrimento
Por: Caio Peclat da Silva Paula
ATENÇÃO: Neste post não fiz a distinção entre mal moral e mal
físico. Não é um texto introdutório. Sugiro leitura deste texto aqui.
Se você estuda a arte do pensamento, perceberá que para
responder uma pergunta complexa é necessário construir um sistema filosófico,
uma estrutura de pensamento. Eu não sei se você já teve esta impressão, mas
quando estudei o problema do sofrimento (pode ser conceituado como: “Por que um
Deus bom e amoroso permitiria o sofrimento humano?”) conseguia encontrar
algumas explicações, mas nada concreto, parecia que todas as tentativas de
respostas (teodiceias) foram em vão. Neste contexto nasce a estrutura que John
W. Wenham para, primeiro pensar, e depois responder o problema do sofrimento.
- · Liberdade;
Este ponto é praticamente universal entre a
maioria dos autores que já li. A liberdade é o que possibilita que a ação
humana seja boa ou má. Assim, a natureza pecaminosa humana faz com que a ação a
ser escolhida seja a má. Neste sentido, boa parte do mal que existe no mundo é causada
primeiramente pelo pecado, e este pela liberdade do homem. Contudo, dessa vez,
tenho que ir além de Wenham para demonstrar o motivo de possuirmos a liberdade.
Primeiramente note que se retirarmos a
liberdade do homem, com certeza grande parte do mal não existiria. Entretanto,
não seríamos livres. Se existe uma coisa que Deus valoriza muito é o
relacionamento. E para que um relacionamento seja sincero é essencial que haja
a escolha de relacionar-se. E para que uma escolha seja feita, necessário é,
evidentemente, a existência da liberdade. Após esta leitura tenho certeza que
você pode compreender perfeitamente que a liberdade é um ato de amor de Deus.
- · Pecado;
Wenham também acredita que “o pecado seja relacionado ao sofrimento,
sendo este um desestímulo”. Neste sentido, o mal seria tal como a dor de
uma ferida. O mal (ou o sofrimento) avisaria que existe algo errado e que deve
ser concertado. No caso a ferida deve ser tratada e deve-se tomar cuidado para
não causar uma nova ferida, pois a dor é incômoda. Assim, sempre que alguém
pensar em pecar lembrar-se-á do mal que o pecado traz.
- · Nosso bem supremo através do sofrimento;
Lembro-me de um autor que dizia que tudo de
grande nesta Terra se fez grande por ter passado pelo sofrimento. Neste
sentido, o sofrimento é uma ponte para que se alcance a glória. É com este
pensamento em mãos que Wenham diz que o que possuímos de mais precioso – a
salvação – foi construído em meio à dor, horror e sofrimento na cruz. É assim
que temos que lembrar que o sofrimento não é um obstáculo, mas um caminho para
a grandeza.
- · Não sabemos de tudo ainda;
“Quem é o homem para dar a impressão de que
compreende a sabedoria infinita e a complexidade dos propósitos divinos?” – diz
Wenham. O intelecto humano é limitado e não conhece todas as coisas. Portanto,
não devemos questionar Deus por coisas que não sabemos. Deus pode ter um motivo
muito especial para que exista o meu e o seu sofrimento, contudo, este motivo
pode ser tão complexo que nem o mais inteligente de nós poderia entender. Se
Deus nos respondesse a pergunta “Por que sofremos?”, neste pensamento, Ele
diria algo parecido com isso: “Eu te responderei, mas na minha resposta irei
falar de coisas que você ainda não conhece, como pessoas, leis da natureza e
uma matemática muito complicada para você entender...”.
- · O sofrimento pode estimular a vida espiritual;
É nítida a
impressão, ao se ler a história de homens que andaram com Deus, de que ainda
que o sofrimento seja doloroso, há algo de útil no mesmo. É impressionante a
capacidade de o sofrimento tornar aquele que sofre um tanto mais sensível a dor
do outro. Acredito que não seja necessário falar que esta não é a única
característica que o sofrimento nos trás como um presente. Aquele que passa
pelo sofrimento (geralmente) bebe do néctar das mais altas virtudes. O sofrimento
nos leva para perto de Deus. Este é um fato que cada história bíblica (que
envolve o sofrimento) nos apresenta como lição.
- · Retribuição, Postergada e atinge a todos;
No Direito Penal brasileiro vigente, um dos
fundamentos da pena é a retribuição. O criminoso comete a infração penal e o
Estado retribui com a pena. Para o autor em questão, o sofrimento é a
retribuição de Deus dá ao pecado humano. De modo análogo ocorre com uma ação
boa a recompensa divina. Mas é interessante notar que esta retribuição é postergada,
pois assim o pecador teria tempo para se arrepender e aquele que pratica o bem,
mais uma oportunidade para aprofundar a sua fé. Necessário é ressaltar que, o
sofrimento é estendido a todos por, a
priori, dois motivos, são eles: Para que todos vejam o poder de Deus e sua
justiça; e para que todos recebam a
punição. Mas neste ponto você me pergunta: ”Todos devem receber a punição? E os
inocentes?”. A melhor resposta é: “Não
há inocentes”!
- · Sofrimento é limitado;
Mesmo que nosso sofrimento pareça grande,
ele ainda é limitado a esta vida. Evidentemente, o cristianismo não acredita
que a vida terrena vale por si mesma. Ela vale pela oportunidade de salvação
que ela nos dá. Salvação esta que leva o homem à vida Eterna. Nesta segunda
vida não há sofrimento. Mas se pudermos observar sinceramente (e também de modo
racional – digo, livre de sentimentalismo tóxico) é possível concordar, mesmo
que em primeiro momento seja difícil, com as palavras do apóstolo Paulo:
“A nossa leve e momentânea tribulação produz
para nós eterno peso de glória, acima de
toda comparação” (2 Cor 4.17).
Nenhum comentário:
Postar um comentário