Pergunta:
Para dar um ponto positivo à
ressurreição de Jesus e à veracidade do Cristianismo usamos às vezes o
argumento de que "É altamente improvável ou quase impossível que os
apóstolos tivessem morrido por uma invenção, uma mentira, um embuste, enfim."
Até aí, tudo em ordem. Mas e se alguém objetasse dizendo: "Homens-bombas
também morrem por causa de Deus, isso quer dizer que o islamismo também é
verdade?", qual resposta eu poderia dar? Será que há alguma coisa a mais
que eu não estou conseguindo enxergar nessa estória toda?
Obrigada, desde já.
Feliz Natal e tenha um próspero
ano novo e que a paz de Cristo esteja com você.
Atenciosamente,
Yasmin.
Os Discípulos de Jesus vs Homens-bomba
Resposta:
Acredito que a questão
fundamental acerca do assunto seja: Por
que os discípulos mentiriam e morreriam por isso? Diferente de Homens-bomba,
a o argumento é o de que os discípulos não poderiam estar dispostos a morrer
por uma mentira que eles mesmos inventaram. No caso dos kamikaze, eles não tem
a menor idéia de que sua crença é falsa. Mas eles creem nisso com convicção.
Muçulmanos que se sacrificam pensam que estão fazendo a vontade de Allah e que
ao chegar o céu haverão dezenas de virgens os esperando.
No caso da ressurreição nós temos
a expectativa zero de um Messias que morreria e passaria por uma ressurreição
isolada como a de Jesus. Dado o fato de que 100% dos historiadores creem que
Jesus foi crucificado[1],
fica a incógnita do porque os discípulos se sacrificariam para espalhar um
Messias ressurreto tão contrário à expectativa judaica. Como explica William
Lane Craig:
Mesmo os mais céticos estudiosos do Novo Testamento
admitem que os primeiros discípulos pelo menos criam que Jesus havia ressuscitado. Na verdade, eles depositavam
toda a fé nesse fato. Observemos apenas um exemplo: a convicção de que Jesus
era o Messias. [...]
Suponha-se que o Messias seria uma figura triunfante
que evocaria o respeito tanto dos judeus quanto dos gentios e que estabeleceria
o trono de Davi em Jerusalém. Um Messias que não liberou e não reinou, que foi
derrotado e humilhado e morto pelos seus inimigos é uma contradição em si. Em
nenhum lugar os textos judaicos falam de um “Messias” assim. [...] Portanto,
quase não da pra descrever o desastre que a crucificação representou para a fé
dos discípulos. A morte de Jesus na cruz punha um fim humilhante a todas as
esperanças que eles haviam nutrido sobre ele como o Messias.[2]
Portanto, não creio que seja uma
questão de simplesmente “morrer por uma mentira.” Mas sim morrer sabendo que é
mentira. Os discípulos, como Judeus, não iria criar a história da ressurreição
do Messias e colocar suas vidas em jogo. Na verdade, seria até mesmo difícil alguém
convencer um judeu da época sem uma evidência convincente, como testemunhas
oculares do Cristo ressurreto.[3] Já
homens-bomba agem puramente por fideísmo.
Felipe.
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[1] Na
verdade, esse ponto é indiscutível entre historiadores. Historiador Luke
Johnson diz: “A evidência para o modo de sua morte, seus agentes, e talvez
coagentes, é esmagadora: Jesus encarou julgamento antes de sua morte, foi
condenado e executado por crucificação.” (Luke Timothy Johnson, The Real Jesus, p. 125) A historiadora
Paula Frederickson diz: “A crucificação é o fato particular mais forte que
temos sobre Jesus.” (Paula Frederickson, observação durante uma discução na
sessão “The Historical Jesus” no encontro anual da Society of Biblical
Literature, 22 de Novembro de 1999) Até mesmo o radical John Dominic Crossan
diz: “Que ele [Jesus] foi crucificado é tão certo quanto qualquer coisa
histórica pode ser.” (John Dominic Crossan, Jesus:
A Revolutionary Biography, p. 145)
[2]
William Lane Craig, Apologética
contemporânea: a veracidade da fé cristã, 2ª Ed., Vida Nova, São Paulo, p. 371
[3] O argumento da origem do Cristianismo como evidência da ressurreição de Cristo foi bem explorado no magnífico livro do historiador N. T. Wright, A ressurreição do filho de Deus, Editora
Paulus, 2013
Obrigada por responder!
ResponderExcluirGraça e paz.