segunda-feira, 5 de março de 2018

Doze respostas para o sofrimento



Obs: Este texto não é introdutório. Sugiro que leia alguns dos outros textos do blog que abordam o assunto para que você entenda este.

Acho que deveria, aqui, dizer por que quero escrever tudo que prometi no título. Bem, talvez eu só queira te dar as respostas. E, por certo, você acredita que precisa disso. Mas não se iluda! O seu sofrimento não termina simultaneamente com a última frase deste post. Será que depois disso você dirá que não precisava de respostas? Se você quer saber disso, continue a ler!

Nota 1- Aqui eu apresento respostas cristãs e não-cristãs. Nem eu, nem o blog estamos a defender todas elas. Minha proposta é apenas expor.

Nota2- Quero ser sucinto, portanto, não vou falar em detalhes nenhuma das respostas, e sim expor brevemente.

Respostas não-cristãs

Zoroastrismo

Para a antiga religião, fundada por Zoroastro, chamada de Zoroastrismo, existem dois deuses. A saber, Ormuz e Arimã. Os dois criaram o mundo. O primeiro criou as coisas boas e o segundo criou todas as coisas más. A solução para o sofrimento do mundo seria uma vitória final do bem (Ormuz). O mal, assim, seria exterminado no fim dos tempos.

Resposta Hindu

“O hinduísmo, tanto em sua forma clássica como na popular, ensina que os homens maus sofrem hoje o resultado de más ações praticadas nalguma existência anterior. Cegueira, luto, fome, desastre e dor são merecidos castigos dos erros de uma vida anterior. Esta é a doutrina hinduísta do karma, e associada a ela está a crença na transmigração das almas, da qual virtualmente não há fuga”. (William Fitch – Deus e o Mal)

Resposta Budista

Para o Budismo o problema não é o sofrimento. O mal é um sintoma. Há sempre um desejo por detrás de todo mal e sofrimento. A perda de um filho só é um mal, pois nela reside o desejo de permanência da vida do filho. Uma grave doença só causa uma forte dor, pois o que lhe sustenta é o desejo de conforto e boa saúde. A solução para não sofrer seria a extinção do desejo.

“Cultivar a morte do desejo veio a ser o fim supremo da vida. O mal reside no desejo; e, portanto, a libertação do mal necessariamente está na fuga ou na morte do desejo. A resposta do budismo ao problema do mal é o cultivo dessa morte. O Nirvana é realmente a extinção de toda a realização pessoal”. (William Fitch – Deus e o Mal)

Respostas Cristãs

Resposta do Livre-Arbítrio

Esta é a resposta clássica mais antiga do Cristianismo. Para seus defensores: Uma das coisas que Deus mais valoriza é o relacionamento. Mas para que o relacionamento seja verdadeiro é necessário que seja livre isto é, que os envolvidos nele escolham livremente se relacionar juntamente. É graças a esta liberdade que os homens podem ser bons, mas, também, é graças a ela que podem ser maus. Deus ao criar o homem, viu que ao dar o livre-arbítrio para o mesmo, poderia dar a chance para que sua criação se torne má e cause sofrimento no mundo. Mas, mesmo assim, decidiu nos criar com esta tal de liberdade, pois visou um bem maior: Longe da liberdade não existe amor. É graças a ela que podemos ser bons e, também, ter um relacionamento com Deus.

Resposta pedagógica

“Na teodiceia pedagógica, o enfoque e deslocado da origem do mal, e é colocado principalmente nos possíveis bons resultados da experiência do sofrimento. A ideia é que a experiência do sofrimento (mal) seria um beneficio indispensável para o melhor desenvolvimento das capacidades humanas, do contrario a humanidade permaneceria eternamente na infância. Argumenta-se, por exemplo, que um pouco de sofrimento aumenta a nossa própria satisfação com a vida e que um sofrimento maior e mais intenso desenvolve em nós uma maior profundidade de caráter e de compaixão. Além disso, essa posição enfatiza a realidade de que vivemos em um mundo regulado por leis naturais e que boa parte do mal existente no mundo decorre da atuação dessas leis”. (Luiz Sayão – O problema do mal no antigo testamento)

Resposta de Gordon H. Clark

Deus criou, para Clark, o mal e o sofrimento – sendo estes a consequência do pecado. Mas Ele é a causa e não o autor. Assim como Deus é a causa das Institutas e não o seu autor – deste modo, Calvino seria a causa imediata e Deus a secundária. Deus determina até os nossos pecados, não havendo liberdade para o homem escolher não pecar. Em suma, Deus seria a causa, até mesmo, dos nossos pecados. Mas, posto que Ele não pode pecar, a responsabilidade pelo pecado e o sofrimento é do homem. Aliás, a palavra responsável indica que alguém deve prestar contas a um superior. Visto que não há superior a Deus, o responsável é sempre um homem.

Resposta de John W. Wenham 

Diferentemente de Clark, Wenham acredita na liberdade humana. E é pelo mau uso desta que ocorre o pecado. Você deve estar perguntando: “Qual é a relação do pecado com o sofrimento”, né? A resposta é que o sofrimento é o sintoma do pecado. Todos sofremos como punição de Deus por conta de nossos pecados. Como todos pecaram, todos sofrem. E esta punição ocorre de modo que todos veem a consequência do pecado no mundo: o sofrimento.

Teoria do mal aparente

Para seus defensores, um fato que trás sofrimento pode até ser doloroso e, aparentemente, mal. Mas visto depois de certo tempo, com mais cuidado, o que era mau pode ter causado um bem maior. O mal é aparente.

Ex.: Ter perdido o voo para aquela reunião importante por ter chegado atrasado pode parecer ruim. Mas, se depois você descobrir que o avião caiu, um homem com bom senso dirá que foi uma benção não ter entrado no avião.

A teodiceia da edificação da alma - John Hick:

Fomos criados a uma distância epistêmica de Deus. Se o oposto estivesse correto, a liberdade inexiste. Acalme-se que eu explico! Ao olharmos o mundo, pelo menos em primeira análise, vemos o mundo, e não, Deus. Se olhássemos o mundo e víssemos Deus, mais uma vez, em primeira análise, ficaríamos tão maravilhados  com a sua beleza que não agiríamos para nós, e sim, para Deus. Perderíamos a nossa liberdade. Deus, assim, cria um mundo ambíguo. Onde você pode ver o mundo por si só, mas pode, também, ver a Deus. Ele o faz para que ninguém limite a própria ação por conta dEle. Somos, desse modo, imperfeitos (moralmente), para que um dia sejamos perfeitos. Nascemos longe de Deus para que um dia, depois de muito sofrimento e aprendizado moral, venhamos a amá-lo e conhece-lo. Se fossemos criados de outro modo, não O (Deus) desejaríamos. Nesse sentido, a história da humanidade é a história de um povo que evolui moralmente tornando-se capaz, depois de ver a maldade se manifestar, de extrair alguma lição, quem sabe, de descobrir uma nova virtude, pois só damos valor à lição depois da perda. Em suma, o sofrimento é necessário para a evolução no tocante à moralidade humana.

Resposta de Caio Peclat

Tudo o que existe possui grau algum de existência. Deus também a possui, contudo, em grau máximo, visto que existe antes de todas as coisas. O Criador ao criar o homem, dá uma existência apequenada para que o homem não se glorie. Sua criação, assim, possui uma data de nascimento - diferentemente de seu criador. Note que a ideia é que: a criação não pode louvar a si mesma. Portanto, tenha em mente sempre que a existência do homem não pertence a ele e sim a Deus.

O problema é que o homem acredita que é senhor de seu corpo – “meu corpo, minhas regras”, dizem alguns, mas que coisa é essa de “meu corpo”? Ele não é seu! -, de seu tempo, de sua família e de toda a infinidade de exemplos que você imaginar. Mentimos a nós mesmos para assenhorarmos – tornarmos donos de algo. É neste ponto que surge o sofrimento. Deus envia a infelicidade para que o homem pare de se ver justo, senhor, chefe – e et cetera – e reconheça que é miserável, isto é, não é dono de nada. Eis aqui a explicação para o sofrimento! É desta infelicidade que nasce a miséria, e, da miséria nasce uma palavra para louvar e agradecer a Deus pelo que Ele é e pelo que fez: Senhor. Que reconhece que Ele é dono de tudo e eu, de nada.

Respostas diversas

Resposta de Lucrécio

Lucrécio, em seu poema-filosófico, afirma que a natureza das coisas é o acaso. Não há uma ordem no mundo, em Lucrécio, senão a aleatoriedade.  Isto significa que se um mal lhe atingiu, não é culpa sua. Você foi apenas mais um sorteado, no bingo da existência, para sofrer. Não faz a menos diferença no que escolher, a vida é muito maior que você e ninguém possui controle sobre ela. Por isso, o sofrimento é irracional. Não importa o que você fizer, é a vida, e não você, quem decide quem irá sofrer.

Teísmo aberto

Para seus defensores, Deus não sabe das coisas futuras. Imagine que uma mulher pede ao Senhor um marido por anos. Ao conseguir, o homem a trai e a deixa grávida para viver com a amante. O teísmo aberto diz que Deus não sabia das ações futuras do marido desta mulher. O Senhor o preparou para um feliz casamento, mas um mau uso da liberdade causou tanto sofrimento. A culpa não seria de Deus.
Caio Peclat da Silva Paula