quinta-feira, 12 de outubro de 2017

“Argumentos e evidências são para os que tem fé fraca.” – Uma Resposta

http://www.patheos.com/blogs/unequallyyoked/2016/07/rational-faith-more-working-hypothesis-than-logical-proof.html

Proponentes do Fideísmo costumam dizer que aqueles que possuem argumentos e evidências para sua fé são os que possuem uma fé fraca e, por isso, precisam de um apoio intelectual para ela.
Já lidamos com argumentos baseados em João 20:29 e Hebreus 11:1, que são versículos usados para tentar defender uma fé cega com base na Bíblia. Agora, vamos lidar com a afirmação de que as evidências são para aqueles que possuem uma fé fraca.


“Evidências são para os que tem fé fraca.” – Uma Resposta


Fé cega = Fé forte?
Se a fé cega é uma fé forte, então a fé bíblica não é uma fé forte. Isso por que a fé bíblica passa longe de ser uma fé cega. Imagine se Jesus não tivesse aparecido aos discípulos. Eles teriam terminado em uma extrema onda de descrença. Paulo e Tiago também jamais viriam a crer sem a evidência da aparição de Jesus.
O Apóstolo Pedro é bem enfático quando fala de sua fé baseada em evidência:

Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.
Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido.
E ouvimos está voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo.
(2 Pedro 1:16-18)

Em outras palavras, se a fé bíblica fosse uma fé cega, Jesus teria sido um dos maiores inimigos da própria fé bíblica, o que não faz sentido algum.
Não apenas isso, mas desde o começo nós vemos o próprio Deus utilizando evidências. Em Êxodo 4, Moisés diz que não acreditarão nele quando disser que o Senhor falou com ele. A partir daí, Deus da a Moisés diversas evidências “para que creiam que te apareceu o Senhor Deus de seus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.” (Êxodo 4:5) Evidências como a vara que se tornava serpente, a mão que ficava leprosa e a água que se tornava sangue. Todos esses sinais eram evidências de que Deus havia aparecido a Moisés.
Ainda antes disso, Abraão não respondeu cegamente a Deus com seu ato de fé quando foi sacrificar Isaque. Deus havia falado com ele. Abraão havia visto Deus. E mais do que isso, Deus havia prometido a Abraão que ele seria o pai de nações por meio deste filho (Gênesis 17:16).
Então, não parece que a Bíblia ensina algum tipo de fé cega. Pelo contrario, como disse R. C. Sproul, “A Bíblia nunca nos diz para dar um salto na escuridão e esperar que exista alguém lá. Ela nos diz para saltarmos das trevas para a luz.” [1]

Conflito de Cosmovisões: A dita “fé fraca” é necessária
A apologética cristã é a arma central do cristão em sua batalha pela fé que uma vez foi entregue aos santos (Judas 1:3). Nancy Pearcey coloca isso muito bem quando diz:

Apologética diz respeito a defender a fé crista e fazer comentários críticos sobre outras crenças ou cosmovisões. Parte da tarefa de evangelismo é libertar as pessoas do poder das falsas cosmovisões, diagnosticando os pontos em que não condizem com a realidade. Da mesma maneira que Isaías teve de falar contra os ídolos de madeira nos tempos do Antigo Testamento, mostrando como era estupidez curvar-se diante do trabalho das próprias mãos (Is 44.6ss), assim, hoje temos de desconstruir os ídolos conceituais que mantêm tanta gente cativa.[2]

Ela também está correta quando alerta os pais e as igrejas sobre a necessidade da apologética. Pearcey diz:

Hoje, a apologética básica tornou-se habilidade crucial para a simples sobrevivência. Sem as ferramentas da apologética, os jovens podem ter firmes bases de estudo e doutrina bíblica; porém, mesmo assim, tropeçam indefesos quando encaram o mundo secular sozinhos. A tragédia é representada inúmeras vezes quando os adolescentes cristãos arrumam as malas, despedem-se dos pais e vão para universidades seculares, apenas para perder a fé antes de se formarem, tornando-se presas das mais recentes novidades intelectuais.[3]

Defender o fideísmo é auto-refutável
Uma coisa a se considerar é que toda a argumentação a favor de uma fé cega é auto-refutável. Se você possui razões para crer em uma fé cega, então sua fé cega passa a ser justificável. Mas, se ela é racionalmente justificável então ela não é cega. Desse modo, o fideísmo torna-se auto-destrutível, pois faz uma apologética contra o uso da apologética.

Conclusão
Concluindo, a verdadeira fé bíblica é uma fé forte que não é levada pela ignorância do mundo. Aquele que diz “apenas creia” não conhece a fé bíblica. Até um Mórmon e um Muçulmano podem dizer “apenas creia.” O que difere o conhecimento de uma fé verdadeira são as razões para se crer nela. A fé não pode ser o mero desejo de que algo é verdadeiro. Como diz Greg Koukl

Essa atitude de “eu apenas escolhi o Cristianismo pela fé (cega)” não pode ser a atitude correta. Ela deixa a Bíblia sem defesa, embora Pedro nos direcione a fazer uma defesa da esperança que há em nós.
Além disso, a palavra bíblica para fé, pistis, não significa desejo. Ela significa confiança ativa. E confiança não pode ser conjurada ou fabricada. Ela deve ser ganha. Você não pode exercitar o tipo de fé que a Bíblia tem em mente a não ser que você esteja racionalmente certo de que algumas coisas em particular sejam verdadeiras.
De fato, eu sugiro que a frase “salto de fé” seja completamente banida do seu vocabulário. A fé Bíblica é baseada no conhecimento, não em desejos ou saltos cegos. O conhecimento constrói a convicção e a convicção leva à confiança. O tipo de fé que Deus está interessado não é a do desejo. É a confiança baseada no conhecimento, uma convicção certa fundamentada na evidência. [4]

A fé racional é o que a igreja mais precisa atualmente. Não é um “Jesus te ama” que vai trazer pessoas pra Cristo. A hora da soneca acabou. E não importa o quanto defendam a fé cega, uma defesa dela sempre será auto-contraditória, pois defende uma fé cega contra a defesa da fé. Em outras palavras, da razões para crer em uma fé cega para não se ter razões para a fé.
Eu termino com as palavras de Eric Chabot: “no fim, os Cristãos que dizem que não precisam dessa coisa de apologética porque eles possuem uma fé forte precisam ler a Bíblia de novo.”[5]



[1] SPROUL, R. C., Defendendo sua fé: Uma introdução à apologética, Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 20
[2] Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: Libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural, Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 150
[3] Ibid. p. 141
[4] Stand to Reason, Faith is not wishing, disponível em acesso 12 de outubro de 2017
[5] Think Apologetics, Is apologetics for those Who are weak in their faith?, disponível em acesso 12 de outubro de 2017

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