domingo, 16 de agosto de 2020

Minha história pessoal e como conheci meu Deus

 

A maioria dos que acompanham o blog não me conhece pessoalmente. Por conta disso e por conta da minha necessidade recente de expressar o que penso sobre alguns problemas pessoais, vi a oportunidade (já que esse é meu blog pessoal) de escrever *um pouco* sobre minha vida pessoal. Pretendo compartilhar como são as relações da minha família, meus amigos e como conheci meu Deus.

Eu não nasci em uma família cristã. Quando digo “família cristã”, não me refiro àquele sentido de “culturalmente cristã”, que possui apenas os mesmos valores morais, ou ao brasileiro católico de nome tradicional. Minha família via importância ritualística nos sacramentos católicos e em participar da Missa, mas nem meu pai, nem minha mãe, nem meus irmãos entregaram a vida a Cristo e se preocuparam em ser mais santos. Por isso, digo que minha família não é cristã de fato, é apenas o brasileiro católico tradicional.

Minha família primária era composta por mim, meu pai, minha mãe, meu irmão mais velho e meu irmão mais novo. Tínhamos um “tio postiço” que era como se fosse da família. Na verdade, em termos de intimidade emocional, eu era muito mais apegado a ele do que a muitos outros parentes. Poderíamos dizer que ele era um segundo pai pra mim. Além destes, eu tive uma irmã mais velha a qual não conheci. Ela faleceu com alguns meses de vida (ou talvez com pouco mais de 1 ano, não tenho certeza).

Nunca fui muito interessado em religião. Na verdade, em toda a minha infância e adolescência eu tive meio repulsa por religião e (ironicamente) por estudar. Reflexos do meu desgosto prévio nos estudos talvez tenham sido percebidos nos primeiros textos do blog, onde diversos erros de redação eram cometidos (erros de acentuação, concordância, etc.). Quanto à religião, eu achava os rituais da igreja católica um saco. Afinal, eu era uma criança, e não via nenhum sentido em ler textos, ajoelhar, levantar e comer a “bolachinha”, como eu chamava na época.

Nessa fase da infância, minha vida tinha suas peculiaridades. Meu irmão mais velho e eu saíamos bastante com meu tio. Meu irmão e eu éramos fissurados em Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Power Rangers, Jiraya, Jaspion, Black Kamen Rider e todos esses clássicos da TV Manchete. Até hoje eu gosto desse tipo de programa, mas meu irmão deixou de lado com o tempo. E, com certeza, esses programas constroem o caráter da criança bem melhor do que os desenhos infantis de hoje em dia. Minha primeira lembrança com meu irmão foi jogando Super Mario World em seu Super Nintendo.

Com 5 anos meu irmão mais novo nasceu. A partir daí, ele virou meu companheiro em várias atividades. Até hoje jogamos Tíbia, um MMORPG criado pela CipSoft juntos. Nos primeiros anos de sua vida ele não gostava muito de futebol, o que fazia com que passássemos mais tempo juntos enquanto os outros assistiam. Quando ficou um pouco mais velho ele passou a gostar e virou um torcedor do São Paulo. O único jogo que eu consegui assistir inteiro foi um jogo do Palmeiras, mas isso não é muito relevante.

Aos 9 ou 10 anos eu fiz a Primeira Comunhão depois de fazer o “curso” do Catecismo na escola. Para mim era só uma atividade que todo ser humano deveria fazer. Em sentido análogo, podemos dizer que era algo que eu via como atividade essencial, assim como muitos brasileiros acham que torcer para algum time de futebol é algo essencial. Basicamente, de modo mais explícito, fui obrigado a fazer. Como eu era criança, não achei que poderia me livrar disso, então aceitei. Aliás, a professora disse que ao final do “curso” nós iríamos simular o sacramento católico do casamento, e eu queria que meu nome fosse sorteado junto de uma menina que eu admirava. Mas, isso não aconteceu e ela “casou” com outro indivíduo.

Eu nunca fui um cara popular, pelo contrário. Na escola, meu tio era o diretor, meu pai o professor de educação física e minha mãe era a professora de informática. Por conta disso, a escola me dava uma liberdade zero. Bom, isso não me impediu de ser um dos caras mais palhaços da minha turma. Afinal, essa era uma das únicas coisas que me dava atenção positiva por algo que eu fazia na época. Minha família elogiava apenas meus desenhos, já que sempre gostei muito de desenhar.

Quando digo que recebia elogios apenas pelos meus desenhos da minha família, digo isso porque é a única coisa que me lembro que os agradava. Eu nunca recebi elogios por aparência ou qualquer outro ato, apenas por desenhar. Na escola, recebia elogios pelos desenhos também, mas chamava a atenção pelas “graças” que fazia. Afinal, se eu não recebia atenção positiva pela família, eu tinha que receber de fora. Nunca fui encorajado a fazer nada pela minha família.

Dentre meus pais e meu tio, o único que deixava mais explícito que acreditava em mim, pelo menos um pouco, era meu tio. Por conta disso, nunca consegui acreditar muito em mim. Aliado a isso vieram vários outros problemas que destruíam minha autoestima. Eu sempre fui mais gordo do que o normal, o que ocasionou em algum bullying na escola. Meus parentes de longe, para tentarem ser educados, me recebiam com frases como “nossa, como emagreceu!”, mas eu sabia que era mentira. Isso me levou a desconfiar de todo e qualquer elogio que eu recebi na vida. Para piorar, no começo da adolescência meu olho esquerdo deu uma “desviada” para o lado e fiquei estrábico. Imaginem como é ser adolescente com isso.

Mas, mesmo antes disso, eu já sofria com algumas ofensas por parte de colegas. Até hoje eu me lembro de uma menina que sentava na minha frente na sala de aula que, no meio da aula e sem motivo nenhum, virou pra trás e disse “Nossa, Felipe, como você é feio, hein?”. E depois tem gente que duvida da Depravação Total.

Minha confiança em mim mesmo e nos outros não foi algo que teve qualquer melhora por um bom tempo (talvez o que virá a seguir seja expor demais outras pessoas, mas eu não me importo muito e vou falar mesmo assim). Meu pai sempre mentiu muito e sempre teve fantasias muito fortes. Ele é daquele tipo que pensa “vou por coentro no macarrão e dizer que é salsinha, ninguém vai perceber”. Parece uma mentirinha a toa, não? Agora imagine mentiras desse tipo em absolutamente todos os aspectos da vida. Quando eu digo que ele também tinha fantasias muito fortes, eu digo isso porque ele interpreta o mundo de uma forma o torne o “herói injustiçado e perseguido”. Por conseguinte, ele sempre foi muito ciumento no relacionamento com minha mãe, mesmo depois do divórcio. Esse ciúme sempre gerou fantasias muito além do normal, como, por exemplo, dizer que ouviu nossa mãe no telefone e o cara do outro lado da linha perguntava se ela podia falar ou se meu pai estava presente.

Agora, com um pai que tem compulsão por mentir, houve duas consequências: (1) eu e meu irmão mais novo não conseguimos confiar nele; e (2) meu irmão mais velho vive em uma fantasia contando inverdades para o mundo inteiro. O pensamento é mais ou menos o seguinte: eu e meu irmão mais novo pensamos que, se mentir é errado e nosso pai mente bastante, então ele está sempre errado; por outro lado, meu irmão mais velho pensa que nosso pai sempre está certo, como ele sempre mente, então mentir não é errado.

Desde pequeno, meu irmão mais velho tem uma “pira” de dizer que é mexicano. Ele diz coisas como “soy mexicano en mi corazon”. Parecia apenas uma fase boba quando era uma criança, mas isso permanece até hoje. Mesmo com mais de 30 anos, meu irmão vive essa fantasia. Apesar de ser um gênio em geopolítica e relações internacionais (ele tem uma pós em jornalismo internacional e escreveu um TCC de 1044 páginas!), ele mente descaradamente sobre sua nacionalidade. Diz que nasceu em Monterey e que já trabalhou em vários lugares como colunista ou historiador. Também mente sobre seus estudos e tudo mais. Por ter um ciclo social majoritariamente virtual, as pessoas acreditam em tudo que ele diz. Nos últimos 6 ou 7 anos ele tem gostado muito do Irã, o que o levou a aprender Farsi. Ele tem uma grande habilidade em aprender línguas (e nem é pentecostal). Apesar de tudo isso, por não ter desenvolvido nenhuma confiança em si mesmo, ele não teve coragem de encarar a vida adulta e vive nessa fantasia de “mexicano”, debatendo na internet diversos tópicos de geopolítica.

Pelo lado da minha mãe, apesar de termos passado boa parte da infância juntos jogando videogame e fazendo lição de casa juntos, não há muito mais que isso em nossa relação. Em ambos os casos – do lado do meu pai e do lado de minha mãe – eu nunca ouvi um encorajamento, um pedido de desculpas sincero ou um “eu te amo” que não fosse apenas por convenção momentânea. Além disso, os dois lados esperavam que aprendêssemos coisas “no automático”. Poucas coisas sobre a vida adulta nos foram ensinadas por eles. Na verdade, eu mesmo aprendi a lidar com contas e a cozinhar totalmente sozinho.

Três episódios me marcaram muito na infância: o primeiro foi, em vista do bullying da escola, eu falar pros meus pais que estava sofrendo pela vida estar difícil e meu pai rir e dizer “o que é difícil? Ser gordo?”; o segundo foi quando eu pedi ajuda com o dever de casa e meu pai falou com tom irônico “ain, o filhinho quer ajuda com a liçãozinha?” enquanto socava minha televisão; e, por fim, eu dizendo que sentia que ninguém gostava de mim e meus pais dando risada disso.

(Edit: isso não é dizer que meu pai nunca fez nada bom ou não tentou aproximação.  Eu mesmo, após minha conversão tentei me aproximar e ajudá-lo com algumas coisas. Entretanto, seu orgulho e amor por sua imagem sempre estiveram acima de sua vontade de ter uma relação familiar.) 

Em vista disso, você já deve imaginar que a intimidade familiar é inexistente: meus pais não sabem sobre minha vida pessoal, sobre meus amigos, "primeira namorada", desejos, planos para o futuro, medos, anseios etc. Não existe nada – absolutamente nada – de intimidade familiar nessa casa. A impressão que dá é que o pensamento sempre foi “dei a vida e pago contas, portanto, sou pai e mando nessa joça”. Um pensamento extremamente primitivo e, na melhor das hipóteses, burro. Esse tipo de pensamento e essas atitudes foram o que fizeram com que eu perdesse muito do respeito que eu tinha pelo meu pai. Apesar disso, ainda o via como meu pai. Por bastante tempo fui mais “próximo” dele do que de minha mãe, pois eu acreditei em algumas de suas mentiras por muito tempo.

Bom, aos 13 anos eu tive meu primeiro contato com um cristão genuíno: Valter, o Taxista (sim, vou me referir a ele dessa forma). Eu e meu irmão voltávamos quase todos os dias pra casa com o Valter, o Taxista, e ele nos contava as mais variadas histórias de sua vida. Certo dia, ele nos contou sobre sua conversão e sua fé evangélica. Eu fiquei fascinado naquilo por um tempo, pois ninguém em toda a minha vida havia me falado sobre a fé cristã daquela forma. Pouco tempo depois, me lembro de imaginar a minha pessoa conversando com Deus (obviamente, um senhor barbudo) e apertando as mãos dele, como se estivéssemos fazendo um tipo de acordo. Mesmo assim, toquei minha vida normal, mas me lembro de ter sentido uma paz e uma alegria muito marcantes naquele dia.

Valter, o Taxista, continuou sempre nos levando pra casa, até que, no final de 2004, o colégio em que eu estudava fechou. No ano seguinte, fui estudar em um colégio católico, mas tive que mudar de escola no final do ano por conta de notas baixas. Nesse ano eu acabei me tornando meio popular nas duas escolas em que estudei, pois eu comecei a fazer imitações de pessoas famosas, principalmente pela influência que o Pânico na TV tinha. Meus pais não gostavam muito dessas imitações, apenas diziam que eu “parecia louco”. Mas, meus colegas gostavam e, a essa altura do campeonato, isso me importava mais.

Nesse período eu deixei meu cabelo crescer bastante. As pessoas me olhavam e perguntavam se eu era metaleiro. Isso, é claro, teve uma reação dos meus pais. Meu pai mentia continuamente para que eu cortasse o cabelo. Dizia coisas como “olha, eu fui em *tal lugar*, mostrei uma foto sua e me ofereceram 10.000 reais pelo seu cabelo!”, ou “eu ouvi aquelas senhorinhas ali atrás conversando e elas estavam dizendo que não sabiam se você era homem ou mulher!”. Como eu ainda tinha certa confiança em meu pai, na época eu acreditei nisso.

Apesar de acreditar em Deus, minha cosmovisão de adolescência era mais deísta. Mas isso era algo que mudaria eventualmente. No final do Ensino Médio, cortei meu cabelo, o qual foi jogado no lixo por não valer nada. Também fui “obrigado” a prestar vestibular para cursar Design Gráfico, simplesmente por “saber desenhar”. Bom, quem já fez Design sabe que “saber desenhar” não é nem uma condição necessária e nem suficiente para se fazer o curso. Essa foi minha primeira graduação. Não fiz estágio, a faculdade que estudei inventou uma matéria que substituía o estágio para quem não tivesse feito durante o curso. Mesmo assim, uma empresa me chamou para uma entrevista pra estágio. Por não ter a mínima confiança em mim mesmo, eu faltei à entrevista, achando que não era bom para aquilo. Eu gostava um pouco de Design, mas não me motivei a estudar o bastante por achar que não adiantaria muito. Por isso, tentei convencer a mim mesmo e à minha família que não tinha gostado do curso. É claro, isso é só uma manobra evasiva, algo que havia aprendido com meu pai.

No último ano do curso, comecei a cursar teatro profissionalizante. Eu gostava de atuar e queria ser um dublador. Na verdade, depois eu acabei cursando dublagem, mas ainda não consegui me motivar a continuar nesse caminho. Mas isso não vem ao caso agora. Ao final de 2009 eu conheci uma garota no falecido Orkut. Por 2 anos, compartilhamos muito de nossas experiências de vida. Era a única pessoa que parecia ver algo útil em mim e que fazia eu me sentir importante para algo. Como uma amiga próxima, foi a primeira vez que alguém disse “eu te amo” e eu achei ser sincero. Claramente, isso criou uma certa dependência emocional de minha parte, o que ocasionou em uma tristeza profunda em mim por conta do que aconteceu no final. Ela começou a namorar um baixista, e o cara, por ciúme, a impediu de falar comigo e ela concordou.

Depois disso, uma enorme carga emocional negativa caiu sobre mim (essa linguagem parece meio esotérica, mas foi o melhor que consegui agora). Fiquei cerca de 6 meses sem vontade de viver e com muito ódio. Pouca coisa me motivava a continuar vivo e a sorrir. Me lembro de ficar irritado com Deus. Irritado, mas não descrente. Fazia todo tipo de coisa para provocar Deus e mostrar minha indignação: ouvia músicas que ofendiam a Deus e pensava coisas perversas sobre ele. Pensei em várias formas de cometer suicídio, mas nunca puis nenhuma em prática. Como você deve imaginar, minha família não sabe de nada disso. A única pessoa que percebeu minha tristeza foi meu tio, que me ofereceu ajuda psicológica, mas não cheguei a me tratar na época.

Apesar de ter tentado chamar a atenção de Deus por métodos, digamos, negativos, eu também tentei por métodos positivos. Um de meus primos sempre compartilhava no Twitter os tweets da página Leia a Bíblia e, em um desses tweets, a página citou Tiago 4.8 (“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós”). Por conta disso, segui a página no Facebook e no Twitter e baixei o app Bíblia do YouVersion no meu primitivo iPhone 3gs para tentar “me achegar a Deus”. Nesse app, comecei o plano de leitura diário de 1 ano de leitura da Bíblia e toda noite antes de dormir eu lia a Bíblia (admito que pulei as genealogias e leis detalhadas). Esse movimento de “chamar a atenção de forma positiva” não veio por mim mesmo. Na época eu havia conhecido dois amigos pelo Orkut que eram cristãos. Um deles era moderador de uma comunidade do Nintendo Wii comigo.

Pouco tempo depois meu irmão mais novo, por conta de problemas talvez similares, se tornou ateu. No começo, era um desses ateus toddynho de internet com argumentos “piores que ônibus lotado”. Mas, como eu não tinha treino nenhum em apologética (afinal, nem sabia o que era isso), os argumentos expostos por eles e por seus amigos me pareciam convincentes. Nesse tempo, me tornei agnóstico, mas também pensei em ver o que o outro lado pensava.

Certo dia (5 de Janeiro de 2012, pra ser mais exato), a página Leia a Bíblia compartilhou um vídeo do filósofo William Lane Craig, destruindo, demolindo, aniquilando os argumentos do ateu Peter Atkins em um debate. Após esse momento, comecei a devorar os vídeos do Craig: vi seus debates com Atkins, Christopher Hitchens, Sam Harris e outros. É impossível alguém intelectualmente honesto assistir a esses debates e achar que o Craig perdeu.


Print do post da página "Leia a Bíblia"


Bom, você deve saber que, depois disso, eu aceitei que o cristianismo era a verdade absoluta sobre a realidade e me preparei para “estar sempre preparado a responder a qualquer um que pedisse a razão de minha esperança”. Mas, assistindo um dos debates do Craig, uma das coisas que ele disse ao final me chamou a atenção. Craig é um servo fiel de Cristo, e disse ao final de um de seus debates:

Existe o perigo de os argumentos a favor da existência de Deus distraírem a atenção das pessoas com relação ao próprio Deus. Se você busca a Deus com sinceridade, ele se mostrará evidente para você. A Bíblia afirma: "Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros" (Tiago 4.8). Não devemos focalizar toda nossa atenção nas provas a ponto de não ouvirmos a voz de Deus falando conosco. Para quem estiver disposto a ouvir, Deus se tornará uma realidade viva e imediata.

Conhecer a obra de Craig não só foi o método usado pelo Espírito Santo para me convencer do cristianismo, como também foi algo que mudou muito minha vida. Comecei a me interessar por filosofia e teologia, mesmo tendo passado a vida inteira detestando estudar e repudiando a vida religiosa. Então, após ler a Bíblia inteirinha, eu comecei a me preocupar em ir a alguma igreja. Aquele meu amigo cristão que era moderador no Orkut comigo me enviou um site chamado “Encontre uma igreja”. Bom, o site só tem igreja adventista. Consequentemente, eu fui à mais próxima de casa, sem conhecer sua doutrina. Antes disso eu ia em uma igreja católica aqui perto de casa de vez em quando.

Com pouca pesquisa, vi que Ellen White estava muito relacionada, historicamente, com a ascensão do criacionismo de terra jovem nos séculos XIX e XX, algo que eu não concordava, pois já havia ouvido os comentários de Craig sobre isso. Nunca acreditei em Ellen White, pois, pensava que se ela tinha errado sobre o criacionismo, em que mais não poderia ter errado, não é mesmo? Mais tarde, vi que ela havia errado também sobre a data em que a igreja supostamente teria abandonado o sábado e começado a guardar o domingo. Na época, um bom amigo meu me indicou um livro de apologética adventista, que apresentava argumentos até “ok” para a defesa das doutrinas adventistas. Neste mesmo ano eu também tive alguns problemas musculares que me causavam uma dor constante. Após ir em vários médicos, um deles me aconselhou a fazer fisioterapia e pilátes.

Bom, por ser meio cético e não crer em Ellen White, tive uma certa pressão na igreja. Algumas experiências marcantes foram: (1) o porteiro perguntando se o pastor havia aprovado os livros que eu estava lendo; (2) uma senhora pedindo oração por um amigo dela que era pastor batista por ele ter “descoberto o sábado”; e (3) um debate sobre criacionismo que participei com o Michelson Borges, no qual fui impedido de falar depois de refutar o primeiro argumento dele contra o Big Bang com a desculpa de que o debate tinha “pouco tempo”.

No começo de 2015, comecei a pensar em sair da igreja por conta das discordâncias de crenças. Meus estudos de teologia me mostravam que, apesar de haver um número grande de cristãos sinceros naquela igreja, suas doutrinas não poderiam vir da Bíblia. Decidi sair da igreja quando o pastor, um grande amigo meu, tentou me ensinar que Jesus e o Arcanjo Miguel eram a mesma pessoa. Na semana seguinte, no dia 8 de abril de 2015, enquanto eu ia para a fisioterapia, eu pensava pra qual igreja eu iria. No caminho, passei por uma igreja presbiteriana e pesquisei na internet sobre ela. Encontrei o site e o email da igreja e marquei uma conversa com o pastor. Depois da conversa, no dia seguinte, fui na reunião de jovens e fiquei por lá. Desde o dia 11 de abril de 2015 estou naquela igreja.

Bom, ao final daquele ano comecei a fazer terapia com uma psicóloga que frequentava essa igreja, mas que eu não a conhecia. Descobri como lidar com minhas fantasias, neuras, melhorei em partes minha autoestima e descobri diversas coisas sobre mim mesmo que aconselhamento bíblico sozinho nenhum faria eu descobrir. Aprendi diversas técnicas para controle de pensamentos e aprendi a interpretar melhor as pessoas. Consequentemente, aprendi bem a praticar a autoterapia (Eis a vantagem de se ter uma psicóloga honesta).

Em 2016 comecei o curso de filosofia. Mas, a partir daqui, não tem muito o que falar. Em 2019 comecei a teologia. Também não há muito o que falar. Talvez minha aproximação com meu orientador, seja algo interessante de se mencionar. Ele me ensinou, melhor do que ninguém, o valor da filosofia para a apologética. A apologética pela apologética não vai muito longe. Ela só serve pra respostas rápidas e confortantes (é o que aconteceu com Norman Geisler e, infelizmente, acontece com muitos apologistas). Foi o que eu disse no último texto.

Enfim, essa é uma parte da minha vida e o meu processo de conversão. Falo “processo”, porque não teve um momento único lindo e maravilhoso onde eu me ajoelhei e senti arrepios e falei “Senhor eu me entrego a ti e bla bla bla”. Isso não aconteceria comigo, e Deus sabe disso. Por isso, ele escolheu esse método mais longo e sou grato a ele por isso. Grato por todos os “avais epistêmicos” que ele me deu na vida de que eu poderia confiar nele. Deus me convenceu dos meus pecados e mudou minha vida. Foi através do reconhecimento do sacrifício único de Cristo que fui salvo. Salvo pela graça, mediante a fé. Não uma fé cega. Fé cega é “fingir saber algo que não sabe”. Mas, Cristo de tornou uma “realidade imediata” a qual eu “ando lado a lado” desde então. É, a única âncora segura da vida. O resto, como pôde ver, pode ser decepcionante. Mas, como diz Inês Brasil: “Graças a Deus porque Deus existe”. E foi assim, crianças, que eu conheci o meu Deus.

Se me permitem dar conselhos finais:

- Nunca minta para seus filhos (esquece Papai Noel)

- Diga a eles e a seus amigos que acredita neles. Isso não é pecado.

- Não tenha medo de ser quem você é (não, isso não é ser contra o “negue-se a si mesmo” que Jesus disse).

- Seja o “taxista” que leva alguém até Cristo. Não precisa ligar o taxímetro - A viagem já foi paga.