Por Caio Peclat da Silva Paula
Como um Deus totalmente bondoso permitiria o sofrimento? – Uma Resposta
É sempre lembrada, entre os
filósofos, a fase em que a criança levanta inúmeros questionamentos, a chamada
fase dos porquês. É, em regra, assim que os filósofos se veem – como crianças
que perguntam o porquê das coisas. Entretanto, mais importante que o
questionamento é desejar ouvir – ou encontrar – a resposta. É aqui que há a
separação entre bons e maus filósofos. Sinto que devo contar a vocês uma
pequena história que me fez questionar a mim mesmo se quero verdadeiramente ouvir
a resposta:
Era feriado numa cidade da Europa, mas não
era mais um feriado, era um feriado religioso que movimentava todos os
habitantes daquela cidade. Naquele dia, as igrejas estavam lotadas, e quando
ninguém esperava, houve um terremoto. Como todos sabem, quando há um tremor de
terra as primeiras construções a caírem são as mais altas. Justamente as
igrejas.
Talvez, assim como eu, você
esteja se sentindo tal como uma criança – perguntando: Por quê? Mas será que
você quer ouvir a resposta? Será que você conseguirá entender a resposta? Será
mesmo que existe uma resposta? Acredito que estas são perguntas secundárias e
devemos nos preocupar – neste momento - com a questão principal, que é: Como um
Deus totalmente bondoso e todo-poderoso permite o sofrimento? Será que Ele é
realmente bondoso? Ou que Ele não tem todo poder? Ou, talvez, Ele nem mesmo
exista?
Os teóricos irão classificar o
mal (sofrimento) em dois tipos:
·
Mal moral/espiritual (Ex.: Maldade Humana):
O primeiro, para Kreeft e
Tacelli, tem por natureza o pecado, que nos separa de Deus e a origem do mesmo
é o livre-arbítrio humano. Se você for inteligente, perceberá que se Deus nos
tirasse o livre-arbítrio, estaria acabando com o mal espiritual. Mas por que
Ele não acaba com o nosso livre-arbítrio? Certamente Deus possui um motivo
muito especial para mantê-lo. Vou explicar:
Imagine que um cachorro acaba de
morder João. O cachorro agiu de forma má? Certamente não, pois um cachorro só
sabe ser cachorro, ele não poderia agir
de forma diversa. Agora pense que quem morde João foi um homem. O homem foi
mau? Sim. O homem por possuir o livre-arbítrio poderia agir de forma diversa. Mas é o mesmo livre-arbítrio que faz
o homem ser bom, sem o livre-arbítrio o homem não seria mau nem bom. Deus
somente permite o livre-arbítrio para que haja a possibilidade do homem ser
bom, mesmo podendo escolher ser mau.
·
Mal natural/físico (Ex.: Doenças, Terremotos):
Agora que respondemos uma parte
do problema, só nos falta solucionarmos a outra metade, mas para isso é
necessário entender alguns conceitos:
N. T. Wright denuncia dois erros
no que se trata do problema do mal:
·
Dualismo ontológico – Onde o sujeito acredita
que o mundo é mal e é necessário fugir;
·
Dualismo sociológico- Onde existem duas classes
de pessoas: Nós (os bons) e eles (os maus).
O erro destas duas visões é
retirar a si mesmo do problema. É acreditar que você mesmo não é, também,
responsável pelo mal do mundo. Por isso o referido autor entende que é nossa
responsabilidade acabar com o nosso mal (aquele que você produz) no mundo
através do perdão. Quando Jesus diz na oração do Pai nosso: “E não nos conduzas
à tentação; mas livra-nos do mal [...]” (Mateus 6:13a) Ele pede para nos livrar
do mal que nós mesmos podemos cometer. E é por isso que o problema do mal não
diz respeito, somente, a guerras e pestes, mas também à humilhação que Jorge
passou e a mentira que Jonas contou, este problema tem a ver com você, nós
somos parte do problema. Alguns autores dirão que a causa de terremotos,
doenças e outros males físicos são: Castigo pelo pecado humano e instrumento de
aperfeiçoamento espiritual.
Veremos agora algumas tentativas,
chamadas de teodiceias, de explicar o problema do mal:
Platão
Em Platão não somos essencialmente este monte de coisas visíveis, mas
uma alma, um espírito, uma personalidade, um caráter. Assim, quando alguém faz
mal ao meu corpo, tenho a opção de me vingar ou perdoar, neste sentido, o único
capaz de fazer mal à minha alma sou eu mesmo. Coisas más só podem ocorrer com o
meu corpo e, por isso, a resposta à pergunta “por que coisas más acontecem com
pessoas boas” é que elas simplesmente não acontecem com as pessoas boas, mas
sim com o seu corpo.
Mitos
Quem sente mais por não ser rei como aquele que foi destronado? Quem se
sente mais sozinho do que aquele que acabou de se tornar órfão? Quem sente mais
gratidão por estar vivo como aquele que acabou de ser curado de uma grave
doença? É fato que costumamos a dar valor às coisas por comparação. Só sabemos
que um bolo foi mal feito se já experimentamos algum bem feito. Mas como
podemos saber que o homem é mau? Só poderíamos conceber a ideia de homem mau se
acreditarmos que já existiu um homem bom. Não é esta a ideia do paraíso
perdido? Ideia esta que o cristianismo
nos conta a tantos anos? A explicação
para esta certeza cristã é que a partir da liberdade humana o mal entra no
mundo, mas é por causa da liberdade existir que o homem tem a opção de agir
bondosamente.
Boécio
Boécio diz que as coisas ruins que acontecem em nossa vida são tão boas
para nós quanto as coisas que costumamos chamar de boas. Enquanto o que é ruim
ensina, o que é bom ilude. Quando os brinquedos mundanos nos quais depositamos
totalmente nossas esperanças de felicidade nos são retirados, nossa tolice
também é retirada, e tudo isso nos aproxima da verdadeira felicidade, que não
está em coisas mundanas, mas na sabedoria. As coisas ruins nos acordam do sonho
ilusório, e assim é bom – assumindo, como o corajoso e honesto pensamento
antigo quase sempre assumiu, que precisamos mais da verdade que do conforto,
que precisamos não da falsa, mas da verdadeira felicidade.
Um filósofo analítico qualquer
Você poderia dizer como estará sua saúde nos próximos 5 minutos? Ou
quando será que seu chefe o demitirá? Talvez você tenha uma ideia, mas nunca
terá a certeza de como será o futuro. Existem elementos que causarão o efeitos
no nosso futuro que ainda não conhecemos. É por isso que você não pode dizer
que o sofrimento é ruim. Para dizer que ele é ruim, você deveria comparar a sua
vida com sofrimento com a sua vida sem sofrimento e isto é algo que não está no nosso alcance.
Portanto, não esta em nosso alcance atribuir juízo para o sofrimento e sim
aceita-lo como parte integrante da vida.
Mesmo após ouvir todas estas
respostas, pode parecer que o problema ainda não foi totalmente resolvido.
Talvez pareça que as respostas não foram suficientemente fortes. Esta é uma
possibilidade. Plantinga diz que Deus pode ter um motivo muito especial para
não nos dar uma resposta satisfatória, um possível motivo seria o fato de que
não conseguiríamos entender. Esta é outra
possibilidade. Entretanto as Escrituras são evidencias de uma promessa
futura em que o próprio Deus acabará com o mal no fim dos tempos. Esta resposta
pode parecer um pouco incerta, mas C. S. Lewis lembra que o autor da peça só sobe ao palco quando o espetáculo acaba.
Caio Peclat da Silva Paula
Bibliografia:
Peter Kreeft - Buscar sentido no sofrimento
Peter Kreeft - Buscar sentido no sofrimento
Peter Kreeft e Ronald K. Tacelli – Manual de defesa da Fé
Alvin Plantinga - Deus, a liberdade e o mal
Alvin Plantinga - Deus, a liberdade e o mal
N. T. Wright - O Mal e a Justiça de Deus
Talvez seja por algum motivo nao podermos compararmos as nossas vidas sem um devido sofrimento com a nossa vida sem o devido sofrimento, mas e se pararmos para analisar a vida do proximo? Nao só do proximo mas como a de muitas pessoas que morreram mas que alguem conhece a vida dessa pessoa...
ResponderExcluirSupomos que a pessoa sofreu a vida toda e no final morreu sofrendo apenas tentando ser uma pessoa boa, teria algum sentido pra Deus fazer isso? Voce poderia me responder que Deus permitiu isso para que ele fosse salvo, mas e as outras pessoas que não sofrem, são bons e ainda são salvos?
Outra pergunta bem curta e direta é porque Deus quer acabar com o mal que esta no mundo no fim dos tempos ao invés de acabar com o mal no começo?
De todas as perguntas, somente o última não foi respondida claramente no texto. Sugiro que leia quantas vezes forem necessárias para o seu melhor entendimento. Agora, respondendo a última questão, não podemos esquecer que neste intervalo de tempo em que Deus não resolve o problema do mal, é nossa tarefa fazê-lo, afinal, são os homens e não Deus que fabricam misseis, armas e etc.
ExcluirMuito bom texto mesmo!! 😀😀
ResponderExcluirObrigado, que toda a glória seja dada a Deus!
ExcluirAmém! 😁
ExcluirGosto muito de seus textos, quando não tratam de uma coisa que eu evito ao máximo, que é a Filosofia.