O que somos nós, os homens contemporâneos?
Em uma de minhas reflexões, consegui notar alguns absurdos
contidos no nosso pensamento. Acredito
que estes podem nos contar algo de relevante sobre a nossa cultura e o nosso
pensamento. Porém, antes de iniciar, faz-se necessária uma observação: Tudo que
será exposto aqui está dentro de dois contextos, a saber, o cultural brasileiro
e o contexto histórico contemporâneo.
Três Necessidades
·
A necessidade de SEMPRE demonstrar a felicidade:
Em época de redes sociais, esta necessidade é mais que
visível, ela é gritante. A todo o momento é necessário tirar fotos sorrindo, de
preferência em momentos que exprimem a felicidade, tais como, dentro do avião,
ou naquela praia e etc. O triste é que essa felicidade, em muitos casos, é apenas
virtual e não há mais espaço para a tristeza, para o luto, para a expressão da
infelicidade. Os infelizes são mal vistos e aqueles que dizem que não sabem
sorrir (como eu já fiz várias vezes rsrsrs) são tidos como estranhos,
fracassados, esquisitinhos. Imagine que o mundo é um gigantesco baile de
máscaras e todas as máscaras exprimem felicidade. O problema é que as pessoas
não retiram as máscaras, logo, não conheceremos as pessoas propriamente ditas,
conheceremos as suas máscaras. ATENÇÃO!
PARE E REFLITA, POIS ISSO É PROFUNDO!
·
A necessidade de aprovação social:
Talvez esta seja a mais antiga de todas as que irei comentar
aqui, mas ainda é real em nosso meio e, por conseguinte, merece a sua devida
importância. Aliás, devo destacar que esta é a necessidade mais poderosa, as
pessoas fazem de tudo (de tudo mesmo) por ela. Esta funciona da seguinte forma:
O indivíduo não está bem consigo mesmo, então o mesmo procura a sua
estabilidade (emocional) nos outros procurando que estes o aprovem. E é claro
que esta é uma busca demasiadamente infeliz. Digo isto, pois esta é uma busca
pelo infinito, por algo que nunca será alcançado em seu absoluto. Após a
aprovação social a estabilidade do indivíduo começa a cair novamente, levando o
mesmo a uma medíocre relação cíclica. Entenda que o problema principal desta
necessidade é: não estar bem consigo mesmo. Não é possível encontrar em outra(s)
pessoa(s) o que somente você pode dar a si mesmo. Aliás, o sua felicidade
depende exclusivamente de você. Em linguagem de Leandro Karnal: “Somos
solitários, totalmente solitários, ainda que eventualmente, solidários”. Considerem
isto como: O fracasso da tese de Aristófanes!
·
A necessidade de estar sempre ocupado:
Não sei se vocês já notaram, mas se analisarem bem, verão
que sempre estamos a fazer algo, e quando nos sobra tempo sempre existe algo
para nos entreter. Há sempre aquele vídeo no YouTube que você quer ver, ou dá
aquela vontade de dar uma olhadinha na rede social. Em suma, sempre estamos
ocupados, mesmo quando o tempo nos sobra. Mas sabe qual é o motivo? Não
conseguimos suportar a terrível dor de se estar só. Acreditamos que somos a
pior companhia possível e estar consigo mesmo é sinônimo de fracasso. Em outras
palavras, buscamos, a todo o momento, ocupar-nos para estarmos bem longe de nós
mesmos. Somos a doença e a cura, o que nos falta é o encontro entre o (na
linguagem de Nietzsche) Eu e Mim. A distância que separa os dois é o que
chamamos de “medo de estar só consigo mesmo”. Mas talvez esta necessidade
possua algum fundo de verdade, ela pode fazer certo sentido. Afinal, somos tão cruéis
a ponto de rejeitarmos a nossa própria companhia, a companhia de um monstro
(digo isto em sentido histórico), um monstro que atende pelo nome de homem.
Conclusão
É evidente que as necessidades aqui expostas não são as
únicas que poderíamos citar, existem muitas outras e talvez eu fale sobre elas
aqui em outra oportunidade. Mas, acredito que, estas mencionadas aqui, podem
nos contar uma verdade sobre o que somos nós, os homens contemporâneos. Aliás,
esta é uma questão de grande importância, pois chegamos ao mundo moderno sem
saber o que nos tornamos. Talvez tenhamos muitas dúvidas quanto a isso, mas as
necessidades nos dizem uma coisa que talvez faça algum sentido: Somos
necessitados, demasiadamente necessitados, ainda que eventualmente,
desnecessariamente.
Caio Peclat da Silva
Paula
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