Maria foi assunta corporalmente aos céus? Essa doutrina da Igreja Católica Romana enfrenta dois problemas sérios: Não possui base bíblica e é tardio na história. Apologista católico, Karl Keating admite:
Fundamentalistas perguntam, onde esta a prova nas Escrituras? Estritamente, não há nenhuma. [1]
De fato, nem mesmo tradição pode ajudar aqui. A doutrina é completamente ausente em todos os escritos até séculos depois da morte e ressurreição de Cristo. Epifânio, no quarto século escreveu que, “quanto ao seu fim [de Maria], ninguém sabe.” [2] Ele também negou que ela tenha sido levada ao céu. [3]
Maria foi assunta ao céu?
Escritor católico Padre Mateo admite:
Muitos escritores notaram a ausência
de registro histórico para a Assunção de Maria. Faltam testemunhos litúrgicos e
históricos explícitos para esta crença. [4]
No terceiro século, um documento apócrifo chamado de O
Livro do Repouso de Maria apresentou alguma coisa relacionada ao dogma. Mas
mesmo assim, era de forma diferente do dogma atual da Igreja Católica. Esse
apócrifo ensina que a alma de Maria foi levada ao céu, e um certo tempo depois
seu corpo foi junto. Já a doutrina moderna é a de que ambos foram juntos ao
céu. E mesmo assim, seriam três séculos de ausência do dogma.
Elizabeth Johnson nos diz que “escritos patristicos estão
em silencio.” [5]
Historiador católico e Mariólogo, Juniper Carol, explica a primeira aparição da doutrina:
O primeiro
testemunho expresso no Oeste para uma assunção genuína vem de um Evangelho
apócrifo, o Transitus beatar Mariae de
Pseudo-Melito. [6]
Apologista católico, Ludwig Ott também admite:
A ideia da assunção corpórea
de Maria foi expressa primeiramente em uma certa narrativa-transitus do quinto
e sexto séculos. [7]
Isso é bem importante. Pois o Papa Gelasio condenou esse documento como herético, e não fez qualquer exceção à parte da assunção de Maria. Como explica William Webster:
Em seu
decreto, Decretum de Libris Cononicis
Ecclesiasticis et Apocrypha, que mais tarde foi afirmado pelo Papa
Hormisda, Gelasio lista o ensinamento do Transitus com o seguinte titulo: Liber qui apellatur Transitus, id est
Assumptio Sanctar Mariae sob a seguinte condenação: “Este e outros escritos
similares a este, que [...] todos os heresiarcas e seus discípulos, ou os
cismáticos ensinaram ou escreveram [...] nós confessamos que não apenas foram
rejeitados, mas também banidos de toda a Igreja Romana e Apostólica e com seus
autores e seguidores de seus autores que foram condenados para sempre sob a ligação
indissolúvel de anátema.” [8]
Isso significa que, como diz
James White, “a primeira aparição da ideia da Assunção Corpórea de Maria é
encontrada em uma fonte que foi condenada como herética pelo até então bispo de
Roma, Gelasio I! A ironia é enorme: O que foi definido pelo bispo de Roma como
heresia no final do quinto século se tornou dogma no meio do vigésimo!" [9]
De acordo com John Haldane, os escritos que mencionam a assunção de Maria do quinto século
em diante foram todos forjados por pessoas com nomes falsos. [10] Dentre esses:
Pseudo-João, o Teólogo: A Dormição da Santa Mãe de Deus
(quinto século)
Pseudo-Mélito de Sardis: O Falecimento da Bendita Maria
(quinto século)
Pseudo-Cirilo de Jerusalem: Discurso sobre Maria a Mãe de
Deus (quinto/sexto século)
Pseudo-Evódio de Roma: Discurso sobre a Dormição de Maria
(Sexto século)
Teodosio de Alexandria: Discurso sobre a Dormição de
Maria (Sexto século)
Pseudo-José de Arimateia: O Falecimento da Bendita Virgem
Maria (Sétimo século).
No fim, o dogma foi definido em 1950.
Refutação de argumentos a favor
Existem alguns argumentos que católicos
usam a favor da Assunção de Maria. O primeiro, vem de Mateus 27:52-53, que diz:
E abriram-se
os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados;
E, saindo dos
sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram
a muitos.
Mateus
27:52,53
Não há qualquer menção a Maria. Não
há qualquer menção à assunção de Maria. O texto nem ao menos poderia começar
uma discussão sobre o assunto. Mesmo se nós assumirmos que esses que
foram ressuscitados tiveram o corpo transfigurado e assumido aos céus, isso não
implicaria que Maria também foi. Argumentar que muitos podem ter sido
transfigurados e assumidos aos céus, portanto Maria também foi é cometer a falácia
da generalização inapropriada. Então, tal texto não pode sequer ser usado em
debate.
O próximo texto é provavelmente o
mais usado: Apocalipse 12.
E viu-se um
grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus
pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.
E estava
grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz.
E viu-se outro
sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e
dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas.
E a sua cauda
levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o
dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à
luz, lhe tragasse o filho.
E deu à luz um
filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi
arrebatado para Deus e para o seu trono.
E a mulher
fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali
fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.
E houve
batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam
o dragão e os seus anjos;
Mas não
prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus.
E foi
precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que
engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram
lançados com ele.
E ouvi uma
grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino
do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é
derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite.
E eles o
venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram
as suas vidas até à morte.
Por isso
alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no
mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco
tempo.
E, quando o
dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho
homem.
E foram dadas
à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu
lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da
vista da serpente.
E a serpente
lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a
fizesse arrebatar.
E a terra
ajudou a mulher; e a terra abriu a sua boca, e tragou o rio que o dragão
lançara da sua boca.
E o dragão
irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os
que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo.
Apocalipse
12:1-17
Católicos dizem que o texto se
refere a uma mulher que deu a luz a um menino, e supostamente a mulher seria
Maria ja que o menino é Jesus.
Existem diversos problemas com
essa interpretação: Em primeiro lugar, contradiz a própria teologia católica, pois a
mulher sente dores de parto (v. 2), contrário a teologia católica que diz que Jesus nasceu miraculosamente. Isso também iria contradizer o dogma da Imaculada Concepção de Maria. James Swan explica:
Segundo, é mais provável que o texto esteja fazendo alusão metafórica à Israel. Como disse Beale e Sean McDonough:
Se Maria é
literalmente quem o apostolo João esta se referindo, então se segue que ela
estava com a criança, “ela com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à
luz.” Pense agora no que Deus disse a Eva em Gênesis 3:16 como resultado de sua
queda no pecado, “Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com
dor darás à luz filhos.” Então, se Apocalipse 12 prova que Maria foi assumida
aos céus, isso também refuta o dogma da imaculada concepção. Maria estava
sujeita à maldição do pecado explicito em Gênesis 3, e Apocalipse 12 corrobora
isso. [11]
Segundo, é mais provável que o texto esteja fazendo alusão metafórica à Israel. Como disse Beale e Sean McDonough:
A imagem da
mulher é baseada em Gen. 37:9, onde o sol, lua, e onze estrelas são metafóricas
respectivamente de Jacó, sua esposa e as onze tribos de Israel. Tudo isso
levando a José, representante da décima segunda tribo. [12]
Esse tipo de linguagem era comum
no Antigo Testamento. O profeta Isaías diz:
Antes que
estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, deu à luz um
menino.
Quem jamais
ouviu tal coisa? Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma
terra num só dia? Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e
já deu à luz seus filhos.
Isaías 66:7,8
Canta
alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com
alegria, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher
solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR.
Isaías 54:1
Ainda existe o fato de que uma hermenêutica
adequada se faz olhando os métodos do escritor na sua narrativa. O “filho” é
identificado como Jesus (v. 10) e o "dragão" como Satanás (v. 9). Mas João nunca
identifica a mulher como Maria.
Por fim, e mais marcante, os
primeiros Pais da Igreja não interpretavam esse texto dessa forma. Hipólito, no
final do segundo século, por exemplo, disse:
Por mulher
vestida com o sol, ele quis dizer a Igreja. (Hipólito, On Christ and the Antichrist, 61)
Metódio de Olimpo (260-312 d.C.)
escreveu:
Agora a
afirmação de que ela esta sobre a lua, eu considero, que denota a fé daqueles que estão
lavados da corrupção no tanque da regeneração, porque a luz da lua tem mais semelhança
com a água morna, e toda substancia úmida é dependente dela. A Igreja,
portanto, fica em cima na nossa fé e adoção, sob a figura da lua, até que a
plenitude das nações entre, trabalhando e produzindo homens naturais como
homens espirituais; Por isso também ela é mãe. (Metódio, The
Banquet of the Ten Virgins, Thekla (Discurso 8), Capitulos 4-6)
Vitorino de Pettau, no inicio do quarto século, disse:
A mulher
vestida com o sol, e tendo a lua debaixo dos seus pés, e usando a coroa com as
doze estrelas na cabeça, e tendo suas dores, é a antiga Igreja dos pais, e
profetas, e santos, e apóstolos, que tiveram seus tormentos até verem o Cristo.
(Vitorino, Commentary on the Apocalypse,
Décimo Segundo Capítulo, 1)
Primásio, em 560 d.C. disse:
O período de
três anos e seis meses significa o tempo até o fim do mundo durante o qual a
igreja aumenta e foge da adoração aos ídolos e todos os erros da serpente. (Primário,
Commentary on the Apocalypse, 12.14,
ccl 92:187-88)
Gregório, o Grande, entre o sexto
e sétimo século, disse:
Então também,
João disse: “uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés” Pois
por “sol” é entendido a iluminação da verdade, mas por lua, que diminui e
preenche todo mês, a mutabilidade de coisas temporais. Mas a Santa Igreja,
porque ela é protegida com o esplendor da luz celestial, esta vestida, por
assim dizer, com o sol; porque ela despreza todas as coisas temporais, ela esta
com o sol debaixo de seus pés. (Gregório, o Grande, Morals, Livro XXXIV, em Jó 41:21)
Ainda há um ultimo argumento católico
usado para sustentar essa crença. O argumento é o seguinte: Já que Maria não
tinha pecado, é natural que ela tenha escapado as garras da morte, que é a conseqüência
do pecado. Não apenas tal argumento parte de um raciocínio circular, pois
pressupõe que Maria não tenha tido pecado, como também possui vários problemas
exegéticos. O salário do pecado é a morte espiritual,
não física. Isso fica claro pelo fato de Deus ter dito a Adão que no dia em que comesse o fruto, certamente morreria. Mas, Adão morreu fisicamente
900 anos depois. Portanto, o pecado não deve trazer morte física.
Por fim, um católico que admite a
evolução não pode usar esse argumento. Isso porque a morte já existia antes do
pecado original se a evolução ou a criação antiga forem verdade. Então, se um católico
for um teísta evolucionista ou um criacionista de terra antiga, ele não pode
usar esse argumento.
Conclusão
É mais claro agora que, assim como os outros, esse dogma Mariologico tenha sido apenas introduzido à Igreja alguns séculos depois. É completamente não-bíblico, completamente ausente na história por meio milênio e foi condenado como herético pelo próprio Papa da época.
Para concluir, estudioso
católico Richard McBrien admite o que já foi provado:
Desde o
inicio do sexto século varias igrejas celebraram a assunção corpórea de Maria
ao céu. Essa crença não se originou de evidência bíblica nem do testemunho patrístico,
mas como a conclusão de um argumento baseado em conveniência. Era “conveniente”
que Jesus tivesse resgatado sua mãe da corrupção da carne, e então ele “deve
ter” levado o corpo dela ao céu. [13]
Citações
[1] – Karl Keating, Catholicism and Fundamentalism: Attack on “Romanism”
by “Bible Christians”, p. 275
[2] – Epifânio, Panarion, Haer. 78.23
[3] – Epifânio, Panarion, Haer., 42, 12; PG 41, 777 B
[3] – Epifânio, Panarion, Haer., 42, 12; PG 41, 777 B
[4] – Padre Mateo, Refuting
the Attack on Mary, p. 28)
[5] – Elizabeth Johnson, “Assumption of the Blessed Virgin
Mary,” ed. Richard P. McBrien, The
HarperCollins Encyclopedia of Catholicism, HarperCollins Publishers, Inc.,
1995, p. 104
[6] – Juniper Carol, Mariology, vol. 1, p. 149
[7] – Ludwig Ott, Fundamentals of Catholic Dogma, [TAN Books and Publishers, 1960], p. 209
[7] – Ludwig Ott, Fundamentals of Catholic Dogma, [TAN Books and Publishers, 1960], p. 209
[8] – William Webster, “Did I
Really Leave the Holy Catholic Church?” em John Armstrong, ed., Roman Catholicism, p. 292
[9] – James White, Mary – Another Redeemer?, p. 54, kindle
pos. 564
[10] – John Haldane, Faithful Reason: Essays Catholic and Philosophical, Routledge, 2004, p. 97
[10] – John Haldane, Faithful Reason: Essays Catholic and Philosophical, Routledge, 2004, p. 97
[11] – Alpha and Omega Ministries, Patrick Madrid Interprets Revelation 12, http://www.aomin.org/aoblog/index.php/2009/01/01/patrick-madrid-interprets-revelation-12/
[12] – G. K. Beale, Sean M. McDonough, “Revelation”, eds. G. K. Beale, D. A. Carson, Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, Baker Academic, 2007, p. 1122
[13] – Richard P. McBrien, Catholicism: New Edition, HarperOne, 1994, p. 1085
WHITE, James, Mary - Another Redeemer?, Bethany House Publishers, 1998.
Bíblia Apologética com Apócrifos, Instituto Cristão de Pesquisas, 3ª ed. 2015
[12] – G. K. Beale, Sean M. McDonough, “Revelation”, eds. G. K. Beale, D. A. Carson, Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, Baker Academic, 2007, p. 1122
[13] – Richard P. McBrien, Catholicism: New Edition, HarperOne, 1994, p. 1085
Fontes
WHITE, James, Mary - Another Redeemer?, Bethany House Publishers, 1998.
Bíblia Apologética com Apócrifos, Instituto Cristão de Pesquisas, 3ª ed. 2015
REFORMED APOLOGETICS MINISTRIES, The Assumption of Mary is Unbiblical and Ahistorical, http://www.reformedapologeticsministries.com/2016/05/the-assumption-of-mary-is-unbiblical.html
TURRITIN FAN, Mary Crowned in Revelation?, http://turretinfan.blogspot.com.br/2009/08/mary-crowned-in-revelation.html
CARM: Christian Apologetics Research Ministries, Roman Catholicism, https://www.carm.org/roman-catholicism
Muito bacana, Eu sendo um católico achei bem informativo.
ResponderExcluirO formalismo não ratifica a não assunção de Nossa Senhora. Não há todos os relatos sobre a vida de Jesus na Bíblia também até os seus 30 anos de idade. E ele que viveu e nasceu de sua carne não são ambos carne da mesma carne e com a graça de Deus? E estudos do Santo Sudário a cada dia levam a crer que a relíquia seja verdadeira e carrega consigo tantos elementos ainda inexplicáveis para a ciência.
ResponderExcluirHeinrich Bullinger reformador protestante acreditou na Assunção, entre outros.
ResponderExcluirhttp://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/protestantismo/641-os-reformadores-protestantes-e-a-imaculada-conceicao-de-maria