domingo, 9 de outubro de 2016

O que Nietzsche não nos conta!


Escrito pelo leitor Caio Peclat da Silva Paula

O que Nietzsche não nos conta!


Talvez a maior justificação para as nossas ações seja o tão famoso - “porque eu quero”. Como estamos acostumados, o “querer” está sempre por trás das nossas escolhas. Entretanto, nem sempre – pelo menos, na filosofia- foi assim. A ideia de escolha sempre foi pautada em algo fora do agente (indivíduo) que está a escolher. A vontade dos deuses, o bem comum, a sociedade sem classes; tudo isso – e um pouco mais- servia de balança (critério) para pesar as possíveis ações. Note que todas essas balanças não pertencem ao agente, elas estão fora dele. Nesse contexto aparece um tipo de pensamento antropocentrista, que entende a decisão com um ato do agente e para o agente, sendo o agente o autor, o que serve de balança e o que recebe o resultado, assim a escolha faz parte do próprio organismo do agente.

Um dos primeiros a pensar dessa forma foi o alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche – um cara bem legal, mas (porém, contudo, entretanto, todavia, rsrs) discordo muito dele. A ideia dele vocês já viram, é a de instituir o “querer” (desejo) como balança para suas escolhas. Deste modo, sempre atrás de uma escolha deve haver o desejo, na perspectiva Nietzschiana. Ora, é aqui que começa a minha crítica ao referido autor. Nietzsche pressupõe que todos os nossos desejos podem ser satisfeitos no que ele chama de mundo da vida (o mundo perceptível pelos sentidos), assim, não se dá conta de que o desejo é maior que o objeto desejado. O grande fracasso do existencialismo de Nietzsche foi esquecer a frustração que sentimos quando tentamos realizar um desejo e notamos que a parte metafísica (o desejo) é muito mais bela e prazerosa que a parte física (realização). Somos muito otimistas no momento do desejo.
C. S. Lewis explica:

"As criaturas não nascem com desejos que não podem ser satisfeitos. Um bebê sente fome: bem, existe o alimento. (...) Se descubro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui criado para um outro mundo. Se nenhum dos prazeres terrenos satisfaz esse desejo, isso não prova que o universo é uma tremenda enganação. Provavelmente, esses prazeres não existem para satisfazer esse desejo, mas só para despertá-lo e sugerir a verdadeira satisfação." (Cristianismo Puro e Simples/C. S. Lewis)

É possível notar em Lewis um grande espanto: nossos desejos não tem o mesmo tamanho que as suas realizações, outros ainda, nem realizados podem ser. Como sempre lembramos: é do espanto que nasce a filosofia. Mas Lewis não termina aqui, ele nos conta o que Nietzsche nos escondeu: a frustração, o malogro, o sentimento desesperador não poder satisfazer tudo aquilo que queremos (pelo menos, não neste mundo).  Nossos sentimentos mais íntimos estão sujeitos a nos perturbarem durante toda a nossa vida (terrena) sem oportunidade à satisfação.
Note que Nietzsche ainda tenta apagar da memória a frustração exaltando a importância do esquecimento:

“A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.” (Humano, Demasiado Humano / F. W. Nietzsche)

Nietzsche tenta a todo o momento desesperadamente fugir da frustração (ou pelo menos esquecê-la). Vejam que o autor se ocupa frequentemente para esquecer o que já aconteceu e abrir espaço para o novo, só que esse “novo” é o “velho” que já foi esquecido. Mas esquecer por qual motivo? Para que o que vem depois da escolha (o sentimento de frustração) ser esquecido juntamente. É esse ponto que Nietzsche não nos conta.
Tenho desejo de terminar falando só mais um pouco a respeito da frustração. Certa vez ouvi uma frase que respondeu o motivo de sua existência com certa elegância e profundidade, é daquele tipo de frase pra encerrar o dia pensando.

 “(...) porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso.”  (Confissões/Agostinho)

Talvez a busca inconstante do homem por o que quer (juntamente com o fenômeno da frustração) nos ensine uma lição de grande importância: Procuramos Deus, inconscientemente. Alguns O procuram em meio às drogas, outros em meio ao crime, alguns em meio à fama, mas fato é que todos nós procuramos. Desejamos ardentemente escapar do terrível sentimento de frustração que encontramos em nossas vidas. Para isso, o cristianismo é claro. Doação: esta vida por outra vida (a eterna). Somente a vida eterna poderá satisfazer os nossos desejos, pois: como lembra Lewis: “fomos criados para outro mundo”.

Caio Peclat da Silva Paula

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