Escrito pelo leitor Caio Peclat da Silva Paula
O que Nietzsche não nos conta!
Talvez a maior justificação
para as nossas ações seja o tão famoso - “porque eu quero”. Como estamos
acostumados, o “querer” está sempre por trás das nossas escolhas. Entretanto,
nem sempre – pelo menos, na filosofia- foi assim. A ideia de escolha sempre foi
pautada em algo fora do agente (indivíduo) que está a escolher. A vontade dos
deuses, o bem comum, a sociedade sem classes; tudo isso – e um pouco mais-
servia de balança (critério) para pesar as possíveis ações. Note que todas
essas balanças não pertencem ao agente, elas estão fora dele. Nesse contexto
aparece um tipo de pensamento antropocentrista, que entende a decisão com um
ato do agente e para o agente, sendo o agente o autor, o que serve de balança e
o que recebe o resultado, assim a escolha faz parte do próprio organismo do
agente.
Um dos primeiros a pensar
dessa forma foi o alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche – um cara bem legal, mas
(porém, contudo, entretanto, todavia, rsrs) discordo muito dele. A ideia dele
vocês já viram, é a de instituir o “querer” (desejo) como balança para suas
escolhas. Deste modo, sempre atrás de uma escolha deve haver o desejo, na
perspectiva Nietzschiana. Ora, é aqui que começa a minha crítica ao referido
autor. Nietzsche pressupõe que todos os nossos desejos podem ser satisfeitos no
que ele chama de mundo da vida (o mundo perceptível pelos sentidos), assim, não
se dá conta de que o desejo é maior que o objeto desejado. O grande fracasso do
existencialismo de Nietzsche foi esquecer a frustração que sentimos quando
tentamos realizar um desejo e notamos que a parte metafísica (o desejo) é muito
mais bela e prazerosa que a parte física (realização). Somos muito otimistas no
momento do desejo.
C. S. Lewis explica:
"As criaturas não nascem com desejos
que não podem ser satisfeitos. Um bebê sente fome: bem, existe o alimento.
(...) Se descubro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode
satisfazer, a explicação mais provável é que fui criado para um outro mundo. Se
nenhum dos prazeres terrenos satisfaz esse desejo, isso não prova que o
universo é uma tremenda enganação. Provavelmente, esses prazeres não existem
para satisfazer esse desejo, mas só para despertá-lo e sugerir a verdadeira
satisfação." (Cristianismo Puro e Simples/C. S. Lewis)
É possível notar em Lewis um
grande espanto: nossos desejos não tem o mesmo tamanho que as suas realizações,
outros ainda, nem realizados podem ser. Como sempre lembramos: é do espanto que
nasce a filosofia. Mas Lewis não termina aqui, ele nos conta o que Nietzsche
nos escondeu: a frustração, o malogro, o sentimento desesperador não poder
satisfazer tudo aquilo que queremos (pelo menos, não neste mundo). Nossos sentimentos mais íntimos estão sujeitos
a nos perturbarem durante toda a nossa vida (terrena) sem oportunidade à
satisfação.
Note que Nietzsche ainda tenta
apagar da memória a frustração exaltando a importância do esquecimento:
“A vantagem de ter péssima memória é
divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira
vez.” (Humano, Demasiado Humano / F. W. Nietzsche)
Nietzsche tenta a todo o
momento desesperadamente fugir da frustração (ou pelo menos esquecê-la). Vejam
que o autor se ocupa frequentemente para esquecer o que já aconteceu e abrir
espaço para o novo, só que esse “novo” é o “velho” que já foi esquecido. Mas
esquecer por qual motivo? Para que o que vem depois da escolha (o sentimento de
frustração) ser esquecido juntamente. É esse ponto que Nietzsche não nos conta.
Tenho desejo de terminar
falando só mais um pouco a respeito da frustração. Certa vez ouvi uma frase que
respondeu o motivo de sua existência com certa elegância e profundidade, é
daquele tipo de frase pra encerrar o dia pensando.
“(...) porque nos fizeste para ti, e nosso
coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso.” (Confissões/Agostinho)
Talvez a busca inconstante do
homem por o que quer (juntamente com o fenômeno da frustração) nos ensine uma
lição de grande importância: Procuramos Deus, inconscientemente. Alguns O
procuram em meio às drogas, outros em meio ao crime, alguns em meio à fama, mas
fato é que todos nós procuramos. Desejamos ardentemente escapar do terrível
sentimento de frustração que encontramos em nossas vidas. Para isso, o cristianismo
é claro. Doação: esta vida por outra vida (a eterna). Somente a vida eterna
poderá satisfazer os nossos desejos, pois: como lembra Lewis: “fomos criados
para outro mundo”.
Caio Peclat da Silva Paula
Muito bom!
ResponderExcluirParabéns Caio! Texto sucinto mas de grande profundidade.
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