Olá, Felipe.
Tenho estudado sobre falácias
lógicas recentemente e isso me travou num dilema.
Dizer "Se fez isso não é
cristão de verdade", "Cristão não faz isso", "Cristão não
faz aquilo", "Quem faz/fez isso não é Cristão!", etc, não seria
cometer a "falácia do escocês de verdade"? Como penso que sim, já que
não encontro outra escapatória lógica, como fugir dessa falácia? Como apontar
os reais frutos do Cristianismo visto que, aparentemente, não há como fazer
isso sem recorrer a essa falácia lógica?
Vejo muitos irmãos utilizando
dessa falácia, e queria saber se tem um jeito de corrigí-los, sem tirar a
essência do que realmente querem dizer.
A Paz do Senhor Jesus.
Atenciosamente,
Yasmin
Resposta
Para quem não conhece, a
falácia do escocês de verdade é cometida quando uma suposição ad hoc é feita
sobre o alvo da critica apenas para fugir da crítica. Por exemplo, se eu digo
que vi um corintiano com a camisa do Palmeiras, alguém que respondesse dizendo “Nenhum
corintiano usaria a camisa do Palmeiras!” estaria cometendo tal falácia. Outro
exemplo seria quando alguém diz que “todo brasileiro gosta de samba!” quando se
diz que não gosta de samba.
Yasmin, a falácia pode ser
cometida por alguns cristãos, de fato, mas se você pensar no que é ser um
cristão, então tal acusação se torna sem fundamento. Por exemplo, suponhamos
que um Mexicano, nascido e criado, seja acusado de falar apenas mandarim. Ora,
seria bem esquisito não dizer ou pensar que nenhum mexicano fala apenas
mandarim. Eles aprendem, em geral, primeiro o espanhol! Da mesma forma, não poderíamos
dizer “nenhum cachorro faria isso!”, se nos contarem uma história de um
cachorro andando sobre duas patas e falando mandarim!
Note que, se o comentário for
contrário ao que define ou à natureza daquele que é criticado, então se
justifica a resposta sem nenhuma postulação ad hoc, já que não é uma suposição
adicional, mas apenas a atestação de um fato sobre aquele que é criticado.
Partamos para exemplos que
estejam mais relacionados ao assunto. Suponha que alguém te diz ser Judeu,
porém que não é circuncidado, não guarda o sábado e come todos os alimentos
proibidos na Antiga Aliança. Ora, seria no mínimo estranho ver um Judeu assim!
Apesar de muitos serem dessa forma e se denominarem Judeus, o que classifica um
Judeu de verdade é o cumprimento das normas da Torah. Não é o se dizer Judeu
por nascer em uma família judaica que o torna Judeu, mas sim a crença no Deus
único do Antigo Testamento e tentar seguir as normas da Antiga Aliança, como a
circuncisão e a guarda do sábado. São essas as coisas que caracterizam um Judeu
desde a época de Moisés! Então, seria ad hoc, na verdade, dizer que ele é um
Judeu, mas não cumpre essas coisas.
Similarmente, quando falamos
de um Cristão, ele tem que no mínimo crer que Jesus é Deus e crer em Cristo e
nas doutrinas essenciais do Cristianismo. Essas são: Deus existe, Deus é uma
Trindade, Jesus Cristo é Deus, o Espirito Santo é Deus, o Pai é Deus, etc. O que
o classifica como Cristão são suas crenças básicas. Porém, de acordo com o Novo
Testamento, essas crenças não ficam apenas na cabeça do Cristão, é necessário
que elas produzam os frutos do Espirito, que aparecem naqueles que
verdadeiramente seguem a Cristo. De acordo com o apóstolo Paulo:
Porque as
obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza,
lascívia,
Idolatria,
feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões,
heresias,
Invejas,
homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das
quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não
herdarão o reino de Deus.
Mas o fruto
do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão, temperança.
Contra
estas coisas não há lei.
Gálatas
5:19-23
Tiago também enfatiza muito
que devemos duvidar do cristianismo de alguém se este for apenas de uma fé
morta, que não produz frutos:
Se alguém
entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu
coração, a religião desse é vã.
Tiago 1:26
Mas dirá
alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas
obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tu crês que
há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.
Mas, ó
homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
Tiago
2:18-20
Então, é parte do ser Cristão
produzir os frutos do Espirito e evitar as obras da carne. Claramente, como todo
Cristão crê, nós nunca seremos perfeitos em todos os aspectos, e falharemos
hora ou outra. Porém, não podemos sair por ai dizendo que pessoas como Hitler
eram Cristãs simplesmente porque foram na igreja uma ou outra vez, ou porque o
Papa supostamente o ajudou durante período de campanha. (Alias, Hitler não era
Cristão.)
Suponhamos que alguém faça as
seguintes coisas: Trai a esposa, mata os vizinhos, dorme com prostitutas,
engana os amigos, dentre outras coisas, mas vai à Igreja todo domingo de manhã,
le a Bíblia todo dia e se diz Cristão. Fica mais do que evidente que ele,
na verdade, não é um Cristão! Simplesmente porque ele não segue a Cristo e
constantemente viola o ensinamento de amar ao próximo como a ti mesmo. E isso já
o desqualifica como Cristão:
Se alguém
diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu
irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?
E dele
temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão.
1 João
4:20,21
Aquele que
tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama
será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
João 14:21
Nós realmente deveríamos duvidar do cristianismo de alguém que não produz frutos! Não seria ele apenas um Igrejeiro? Claro que, se foi apenas um tropeço, Cristo é aquele que pagou por seu pecado. Além disso, também é possível que ele tenha feito tudo isso e depois tenha se arrependido, ido à Cristo, sido perdoado, e agora esta tentando mudar de vida - O que é o processo de santificação.
Portanto, Yasmin, vemos que a
falácia pode ser cometida quando se usa uma suposição ad hoc desnecessária.
Porém, se a acusação vai contra o que significa o próprio ser do acusado, então
tal falácia não é cometida. Seria como se você me dissesse que viu uma pedra
liquida e eu respondesse que nenhuma pedra é assim!
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