sábado, 13 de agosto de 2016

Reflexões sobre o tempo, multiverso e universos paralelos


Há alguns temas que são bem complexos. Um deles é o tempo. Quando se fala em viagem no tempo, a coisa fica ainda mais bizarra. O que isso tem a ver com Deus e apologética? Nem idéia. Mas eu vou escrevendo e o que surgir aqui eu escrevo.

Reflexões sobre o tempo, multiverso e universos paralelos


Pano de fundo


Antes de começar, um pequeno pano de fundo é necessário. Existem duas teorias do tempo que são discutidas. Uma é a teoria do tempo dinâmico (ou teoria-A) que vem de uma interpretação Loreniana da Relatividade Especial de Einstein. De acordo com esta teoria, o passar do tempo é objetivo e real. Dessa forma, o passado não existe mais, o presente existe e o futuro ainda não existe. A outra teoria, é a teoria do tempo estático (ou teoria-B), que vem da interpretação Minkowskiana e Einsteiniana da Relatividade Especial. Nesta teoria, tanto o passado quanto o presente e o futuro existem igualmente e eternamente em uma espécie de “bloco” do tempo. Para fins de reflexão, o texto irá pressupor esta segunda teoria do tempo como verdadeira, apesar de eu crer na primeira.
Um outro pequeno background é necessário para a questão do multiverso. Existem quatro tipos de teorias do multiverso. A primeira diz que o universo em que vivemos é muito maior do que observamos, e nós somos apenas uma parte (universo) dele. A segunda diz que existem vários universos alem do nosso, mas estes não são universos paralelos. São apenas outros universos, no mesmo sentido que existem outros planetas alem do nosso, mas não são “planetas paralelos”. Geralmente, é esse tipo de multiverso que é referido quando cientistas falam de multiverso. E é este que será pressuposto para a reflexão a seguir.
Por curiosidade, há ainda o tipo 3 de multiverso, que vem de uma interpretação em particular da mecânica quântica. Nesse caso sim se fala de “universos paralelos”, pois, de acordo com tal interpretação, cada ação ocorrida no universo cria uma nova “linha do tempo”. Por fim, o tipo 4 de multiverso é completamente especulativo, e diz que todos os universos matematicamente possíveis existem por ai.
Em suma, no texto a seguir é pressuposta a teoria do tempo estático (porque é a única em que viagens do tempo seriam possíveis) e o tipo 2 de multiverso.

Viagens no tempo, multiverso, realidade, bloco de tempo, etc...


Já se perguntou se viagens no tempo são possíveis? Do mesmo modo que Marty McFly faz em De Volta Para o Futuro, Trunks faz em Dragon Ball Z/Super e Link em The Legendo of Zelda. Claro, cada tipo de viagem no tempo tem suas particularidades.
No caso do Marty McFly, se ele viaja pro passado, ele já muda diretamente o futuro. Não há a criação de nada paralelo (pelo menos, não que se saiba). Com o Trunks, mudar o passado não afeta o futuro. Neste caso, duas linhas do tempo são formadas. Já no caso do Link, estranhamente, é a ida ao futuro e a volta que cria uma outra linha do tempo.
Confuso? Calma ai. Agora imaginemos o mundo real e pressuponha que viagens no tempo sejam possíveis. Se você for pro futuro e depois voltar pro presente, então o futuro se torna o seu passado? Ou, vamos ver algo mais bizarro. Se você alterar o passado, então de duas uma: ou o presente vira outro presente, ou um outro presente é criado paralelamente ao “antigo” presente.
Isso geraria coisas mais bizarras ainda em uma conversa sobre “o passado”. Se eu estou em 2016 e volto pra 1916, então eu posso falar algo como “Eu estava em 2016...”. Mas a proposição “eu estava” comunica um evento passado, e neste caso 2016 seria o futuro.
Se juntarmos com multiverso, a coisa se torna um tanto quanto mais bizarra. Pressupondo que o tempo exista no multiverso, mesmo antes do nosso universo existir (o que não parece ser o caso no mundo real), então o tempo é algo real em toda a realidade. Mas, se uma viagem no tempo cria uma realidade paralela, então o próprio tempo que domina o multiverso teria que se dividir em dois. Dessa forma, uma mudança temporal iria gerar um multi-multiverso! Ou, de forma mais clara, multiversos paralelos.
Pensando bem agora, se todos os momentos de tempo existem igualmente, e o tempo existirá eternamente pro futuro, então se torna logicamente impossível o “bloco de tempo”, mesmo em uma teoria-B, ser eterno. Isso porque existem diversos argumentos para a impossibilidade de um numero infinito de coisas. Mas, se um numero infinito de coisas é impossível, e os momentos de tempo tiverem que ser infinitos no futuro, então a única solução é se o bloco do tempo que contem todos os momentos de tempo também estiver expandindo ou simplesmente aumentando. Desse modo, até mesmo esse bloco do tempo deve ter tido um inicio absoluto.
Supostamente, o tempo não pode acabar, a não ser que algo ou Alguém com autoridade diga pra ele acabar. E se pensarmos nesse bloco de tempo com os momentos de tempo co-existindo eternamente, isso não pressupõe um passar do tempo objetivo fora do bloco do tempo? Já que tal bloco possui uma passagem do tempo dentro dele, ele deve estar em um fluxo constante. O que, dada a lei de Leibniz de Indiscernibilidade de Idênticos – que diz que se A e B tiverem as mesmas propriedades, então B = A – então o fluxo nesse bloco de tempo é o suficiente para que haja a passagem do tempo objetiva, já que fluxo é uma propriedade do tempo.
Então, desse modo, o argumento cosmológico kalam poderia ser adaptado para a teoria do tempo estático da seguinte forma:

P1 – Tudo o que começa a existir tem uma causa
P2 – O bloco de tempo da realidade física começou a existir.
Conclusão – Portanto, a realidade física teve uma causa.

Agora, você quer ver como as coisas podem ficar mais estranhas? Introduza a lógica modal em tudo o que eu falei. Nada do que foi dito é logicamente impossível. Isso implica que haja um mundo possível com essa descrição de realidade!
Outra coisa interessante é que a realidade sempre existe. Quando dizem que não há verdade imutável, é porque nunca pararam pra pensar que a afirmação “a realidade existe” é uma verdade imutável. Mesmo que a realidade mude ou que coisas dentro da realidade mudem, “a realidade existe” é uma verdade absoluta. Alem, é claro, do fato de que “a verdade sempre muda” é auto-refutável. (Uma nota que deve ser feita: verdade não muda. Antes as pessoas acreditavam que a Terra era plana, mas elas simplesmente estavam erradas. A Terra não era plana, as pessoas que acreditavam em uma mentira sem saber.)
Mas o que isso tem a ver com todo o assunto? É que se a realidade for dividida em duas paralelas, ainda assim vai ser A Realidade que existem duas linhas temporais. A questão é que, no exemplo de “realidade paralela”, o que se esta realmente querendo falar é sobre “linha do tempo paralela”. Então, não importa o quanto A Realidade mude, sempre haverá uma realidade que “encobre” tudo o que acontece.
Pode ser respondido que o universo teve um inicio e, portanto, não é verdade que a realidade sempre existiu. Porém, dada a lei da causalidade, se o universo começou a existir então ele teve uma causa. E, se há causa, há algo real. Se há algo real, há realidade. Portanto, a realidade sempre existiu. Mas, eu vou falar mais sobre isso em outra oportunidade...

Enfim, acho que já pirei demais por hoje. Não, eu não uso nenhum tipo de droga. Nem álcool. Sou só um estudante de filosofia com muito tempo livre... Mais do que o Pokémon GO ocupa.

2 comentários:

  1. Eu vou dar uma sugestão: o caso de Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban, quando Harry e Hermione voltam três horas no passado para salvarem Sirius. Vai bugar o teu cérebro quando tu analisar a cena e "entender" ela.

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  2. "[...] Não, eu não uso nenhum tipo de droga. Nem álcool. [...]"
    Kkkkk... Foi bom, mesmo, ter explicado. Alguns mais leigos em Filosofia poderiam achar exatamente isso.

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