segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Resposta ao vídeo “O que torna algo certo ou errado?” De Stephen Fry


Tem esse vídeo na internet chamado “O que torna algo Certo ou Errado?” do Stephen Fry que tenta, de alguma forma, explicar moralidade sem Deus. O canal Luc Anderssen legendou o vídeo, então se quiser assistir antes de ler o texto, basta clicar >aqui<.

Resposta ao vídeo “O que torna algo certo ou errado?” De Stephen Fry


“Alguns creem que moralidade nunca muda de situação pra situação” (0:05)


Não sei de quem esta falando, mas adeptos a teoria do Comando Divino não pensam assim. Claro que, pensamos que a moralidade é objetiva e o que é certo sempre será certo mesmo que todos pensassem que é errado. Mas dependendo de algumas situações, a escolha pode tornar algo em moralmente certo, que em outra ocasião seria errado.

“Olham para livros religiosos ou autoridade para ver o que é certo” (0:14)


Agora sim, ataque aos que creem que a moralidade vem de Deus... ou quase. Aqui ele comete a falácia do espantalho. Teoristas do Comando Divino dizem que a moralidade vem de Deus e já esta “impressa” em nossos corações. Um ou outro pode olhar em algum livro religioso as vezes, mas não é isso o que dizemos.

“Humanistas olham para o que seria a melhor maneira de viver” (0:30)


Aqui começa o que eu já havia percebido a primeira vez que vi o vídeo. Petição de principio em toda a parte. O vídeo deveria tentar explicar a moralidade de um ponto de vista humanista. Mas ele, na verdade, pressupõe que exista moralidade já na própria argumentação.
Por que a “melhor maneira de viver”, é a melhor? Sem um padrão transcendente não existe “melhor”. Tudo se torna questão de opinião.

“Temos sempre que pensar na felicidade que nossas escolhas trazem aos outros” (0:34)


De novo... Por que se importar com os outros? Isso é “bom”? Por que “felicidade” é “bom”? Talvez ele também esteja tentando apelar para uma teoria normativa ética chamada consequencialismo ou utilitarismo. Que diz que o certo é aquilo que trás o maior numero de felicidade para o maior numero de pessoas. Porem, essa tentativa implica em alguns absurdos. Por exemplo, em uma situação hipotética onde você deve estuprar uma garotinha para salvar a vida de um grande numero de pessoas, tornaria o ato não apenas em certo, como também faria com que você fosse moralmente obrigado a fazer isso.

“Respeitar os desejos dos outros, encontrando a ação mais gentil” (0:48)


Por quê? Sem um padrão transcendente ou um legislador moral, o que torna o ato de “respeitar” os outros em “certo” ou “bom”?

“Temos que ver a evidencia que temos e raciocinar sobre as possíveis consequências e escolher o que é o melhor” (1:02)


Isso é puro raciocínio circular:

“O bem é o que é racional desejar” – “o racional é o que as pessoas desejam como bem”

Ele pode tentar usar outra alternativa a racionalidade usada pelos utilitaristas, que diz que as pessoas podem usar meios eficientes para chegar a certos objetivos, se forem esses colocados. Mas, alguém poderia ter um objetivo moralmente ruim e ser racional caso soubesse de maneiras eficientes para chegar a ele. Por isso, utilitaristas vão dizer que só é racional a pessoa que desejar o mesmo que todas as pessoas psicologicamente normais. Nesse caso, por que alguém normal não escolheria ser um molestador de crianças?
“Por que é errado”, é raciocínio circular. Além disso, isso implicaria que existe um mundo possível onde pessoas normais são molestadores de crianças. Não há nada de ilógico nessa possibilidade.

“Nossos instintos sociais formam a base da moralidade e são parte natural da humanidade” (1:55)


Sem um padrão moral, então isso é tudo. Atos como o estupro não são moralmente errados, são apenas um tabu desenvolvido ao longo do processo de desenvolvimento social.  Esse instinto certamente existe, mas quando falamos de Lei Moral estamos falando de outra coisa. Como  C.S Lewis disse:

“Suponhamos que você ouça o grito de socorro de um homem em perigo. Provavelmente sentirá dois desejos: o de prestar socorro (que se deve ao instinto gregário) e o de fugir do perigo (que se deve ao instinto de auto-preservação). Mas você encontrará dentro de si, além desses dois impulsos, um terceiro elemento, que lhe mandará seguir o impulso da ajuda e suprimir o impulso da fuga. Esse elemento, que põe na balança os dois instintos e decide qual deles deve ser seguido, não pode ser nenhum dos dois. Você poderia pensar também que a partitura musical, que lhe manda, num determinado momento, tocar tal nota no piano e não outra, é equi¬valente a uma das notas no teclado. A Lei Moral nos informa da melodia a ser tocada; nossos instintos são meras teclas.” [C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, p. 14]

Outra forma de perceber que essa Lei Moral não é apenas um instinto é vendo quais instintos reagem nessa situação: O seu desejo de sobrevivência é provavelmente mais forte do que o de ajudar o outro homem. Mas, se em nossa mente só há esses instintos, o instinto mais forte deveria ganhar sempre, não? A Lei Moral nos ajuda a decidir qual a coisa certa a se fazer.

“As experiências ao longo da história nos ajudaram a refinar nossa moralidade” (2:00)


Certo, mas tem dois problemas com isso: Primeiro, confundo epistemologia (como descobrimos) com ontologia (a existência de algo). Como nós descobrimos a “melhor moral” não diz nada sobre sua existência objetiva.
Segundo, sem um padrão transcendente, a moralidade não melhora. Não “refina”. Ela simplesmente muda de regras.

“Moralidade tem a ver com boa vontade individual e responsabilidade social; é sobre não ser completamente egoísta.” (2:25)


Sim! Tem! Mas, por que a “boa vontade individual” é “boa” ou “certa”? E a “responsabilidade social”? E por que ser “egoísta” é errado?

“Liberdade, Justiça, Felicidade, Imparcialidade são invenções humanas” (2:34)


Se ele quiser argumentar que essa moralidade é “invenção”, por causa do desenvolvimento social, esta cometendo a falácia genética. Mesmo que nós tenhamos conhecido a moralidade por desenvolvimento social, isso não diz nada sobre a realidade dessa moralidade objetiva.




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