Tem esse vídeo na internet
chamado “O que torna algo Certo ou Errado?” do Stephen Fry que tenta, de alguma
forma, explicar moralidade sem Deus. O canal Luc Anderssen legendou o vídeo,
então se quiser assistir antes de ler o texto, basta clicar >aqui<.
Resposta ao vídeo “O que torna algo certo ou errado?” De Stephen Fry
“Alguns creem que moralidade nunca muda de situação pra situação” (0:05)
Não sei de quem esta falando,
mas adeptos a teoria do Comando Divino não pensam assim. Claro que, pensamos
que a moralidade é objetiva e o que é certo sempre será certo mesmo que todos
pensassem que é errado. Mas dependendo de algumas situações, a escolha pode
tornar algo em moralmente certo, que em outra ocasião seria errado.
“Olham para livros religiosos ou autoridade para ver o que é certo” (0:14)
Agora sim, ataque aos que
creem que a moralidade vem de Deus... ou quase. Aqui ele comete a falácia do
espantalho. Teoristas do Comando Divino dizem que a moralidade vem de Deus e já
esta “impressa” em nossos corações. Um ou outro pode olhar em algum livro
religioso as vezes, mas não é isso o que dizemos.
“Humanistas olham para o que seria a melhor maneira de viver” (0:30)
Aqui começa o que eu já havia
percebido a primeira vez que vi o vídeo. Petição de principio em toda a parte.
O vídeo deveria tentar explicar a moralidade de um ponto de vista humanista.
Mas ele, na verdade, pressupõe que exista moralidade já na própria argumentação.
Por que a “melhor maneira de
viver”, é a melhor? Sem um padrão transcendente não existe “melhor”. Tudo se
torna questão de opinião.
“Temos sempre que pensar na felicidade que nossas escolhas trazem aos outros” (0:34)
De novo... Por que se importar
com os outros? Isso é “bom”? Por que “felicidade” é “bom”? Talvez ele também
esteja tentando apelar para uma teoria normativa ética chamada
consequencialismo ou utilitarismo. Que diz que o certo é aquilo que trás o
maior numero de felicidade para o maior numero de pessoas. Porem, essa
tentativa implica em alguns absurdos. Por exemplo, em uma situação hipotética
onde você deve estuprar uma garotinha para salvar a vida de um grande numero de
pessoas, tornaria o ato não apenas em certo, como também faria com que você
fosse moralmente obrigado a fazer isso.
“Respeitar os desejos dos outros, encontrando a ação mais gentil” (0:48)
Por quê? Sem um padrão
transcendente ou um legislador moral, o que torna o ato de “respeitar” os
outros em “certo” ou “bom”?
“Temos que ver a evidencia que temos e raciocinar sobre as possíveis consequências e escolher o que é o melhor” (1:02)
Isso é puro raciocínio circular:
“O bem é o que é
racional desejar” – “o racional é o que as pessoas desejam como bem”
Ele pode tentar usar outra
alternativa a racionalidade usada pelos utilitaristas, que diz que as pessoas
podem usar meios eficientes para chegar a certos objetivos, se forem esses
colocados. Mas, alguém poderia ter um objetivo moralmente ruim e ser racional
caso soubesse de maneiras eficientes para chegar a ele. Por isso, utilitaristas
vão dizer que só é racional a pessoa que desejar o mesmo que todas as pessoas
psicologicamente normais. Nesse caso, por que alguém normal não escolheria ser
um molestador de crianças?
“Por que é errado”, é
raciocínio circular. Além disso, isso implicaria que existe um mundo possível
onde pessoas normais são molestadores de crianças. Não há nada de ilógico nessa
possibilidade.
“Nossos instintos sociais formam a base da moralidade e são parte natural da humanidade” (1:55)
Sem um padrão moral, então
isso é tudo. Atos como o estupro não são moralmente errados, são apenas um tabu
desenvolvido ao longo do processo de desenvolvimento social. Esse instinto certamente existe, mas quando
falamos de Lei Moral estamos falando de outra coisa. Como C.S Lewis disse:
“Suponhamos
que você ouça o grito de socorro de um homem em perigo. Provavelmente sentirá
dois desejos: o de prestar socorro (que se deve ao instinto gregário) e o de
fugir do perigo (que se deve ao instinto de auto-preservação). Mas você
encontrará dentro de si, além desses dois impulsos, um terceiro elemento, que
lhe mandará seguir o impulso da ajuda e suprimir o impulso da fuga. Esse
elemento, que põe na balança os dois instintos e decide qual deles deve ser
seguido, não pode ser nenhum dos dois. Você poderia pensar também que a
partitura musical, que lhe manda, num determinado momento, tocar tal nota no
piano e não outra, é equi¬valente a uma das notas no teclado. A Lei Moral nos
informa da melodia a ser tocada; nossos instintos são meras teclas.” [C. S.
Lewis, Cristianismo Puro e Simples, p. 14]
Outra forma de perceber que
essa Lei Moral não é apenas um instinto é vendo quais instintos reagem nessa
situação: O seu desejo de sobrevivência é provavelmente mais forte do que o de
ajudar o outro homem. Mas, se em nossa mente só há esses instintos, o instinto
mais forte deveria ganhar sempre, não? A Lei Moral nos ajuda a decidir qual a
coisa certa a se fazer.
“As experiências ao longo da história nos ajudaram a refinar nossa moralidade” (2:00)
Certo, mas tem dois problemas
com isso: Primeiro, confundo epistemologia (como descobrimos) com ontologia (a existência
de algo). Como nós descobrimos a “melhor moral” não diz nada sobre sua
existência objetiva.
Segundo, sem um padrão
transcendente, a moralidade não melhora. Não “refina”. Ela simplesmente muda de
regras.
“Moralidade tem a ver com boa vontade individual e responsabilidade social; é sobre não ser completamente egoísta.” (2:25)
Sim! Tem! Mas, por que a “boa vontade
individual” é “boa” ou “certa”? E a “responsabilidade social”? E por que ser “egoísta”
é errado?
“Liberdade, Justiça, Felicidade, Imparcialidade são invenções humanas” (2:34)
Se ele quiser argumentar que
essa moralidade é “invenção”, por causa do desenvolvimento social, esta
cometendo a falácia genética. Mesmo que nós tenhamos conhecido a moralidade por
desenvolvimento social, isso não diz nada sobre a realidade dessa moralidade
objetiva.
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