Então tem a frase “O Deus das Lacunas”. Em qualquer longa discussão sobre “Ciência e Religião”, essa frase deve eventualmente ser dita por um dos membros do grupo, ou pelo cético (com um tom triunfante como se estivesse finalmente usando sua arma mais poderosa) ou por um articulado e educado defensor de uma fé moderna, mostrando sua habilidade sofisticada de se elevar acima de superstições primitivas: “Mas isso é o Deus das Lacunas!” eles dizem em resposta a um ato Divino proposto, “Nós não podemos acreditar nisso!”
No debate
entre Carrol e St. Craig [nota: o autor original chama todos os cristãos
por “St.”], ambos os participantes tiveram seus cinco segundos obrigatórios de
ódio sobre essa ideia. Craig:
“Isso não é fazer algum tipo de afirmação tola de que a cosmologia contemporânea prova a existência de Deus. Não há raciocínio Deus das lacunas aqui. Na verdade, eu estou dizendo que a cosmologia contemporânea nos da evidencia significativa em suporte a premissas em um argumento filosófico para conclusões com significância teológica.”
Carroll:
“É certamente um verdadeiro problema que nós não sabemos porque o universo inicialmente tinha baixa entropia e entropia sempre tem aumentado. Esse é um bom desafio para a cosmologia. Imaginar que cosmólogos não podem responder a essa pergunta sem invocar Deus é o clássico deus das lacunas. Eu sei que Dr. Craig disse que não é isso que ele esta fazendo mas ele fez isso.”
É difícil lutar contra um slogan
usado com tanta freqüência e com tanta convicção, especialmente quando por
alguma razão perversa pessoas educadas e inteligentes de ambos os lados
insistem em atacar o espantalho [nota: falácia do espantalho é cometida quando
a pessoa ignora a posição real da outra pessoa e ataca ma versão mais exagerada
ou má representada de tal posição*]. Mas deve ser notado, que se os detratores
de uma ideia pudessem simplesmente derrota-la por nomeá-la com uma frase que
soa como tonta, nós não seriamos capazes de acreditar na teoria do “Big Bang”
também.
Carrol cita o filosofo David Lewis dizendo:
“Eu não sei como refutar o olhar de um incrédulo”
Essas referencias ao Deus das
Lacunas funcionam como um olhar de um incrédulo, não como um argumento real.
(Os olhares incrédulos que Lewis recebeu eram por causa de sua crença em
realismo modal, todo mundo logicamente
possível é igualmente real. Talvez esses olhares incrédulos apenas significavam
que idéias que flagrantemente violavam o senso comum deveriam ser atribuídas com
uma pequena probabilidade?)
De qualquer forma, se o Deus das
Lacunas é uma falácia, é uma bem estranha. Não esta em nenhum livro sobre
falácias lógicas, e só é levantado em contexto teológico. Parece como se alguém
dissesse que inferência para a melhor
explicação é uma falácia. Deixe-me colocar algumas verdades aqui, e fazer a
seguinte afirmação:
Sempre que nós acreditamos em alguma coisa racionalmente, nós fazemos
porque há algum tipo de “lacuna” em nosso entendimento de como o universo
funciona, que é cheio de postulações da existência dessa coisa.
Em outras palavras, todos os
argumentos validos de que algo existe são baseados em raciocínio do tipo Das
Lacunas. É assim que o raciocínio (cientifico ou qualquer outro) funciona.
Isso não significa, é claro, que
todas as lacunas são melhor explicadas por postular uma intervenção divina
especifica. Claro que não. Admitidamente, Monoteístas acreditam no seguinte:
Todos os fenômenos que acontecem na Natureza o fazem porque Deus sustêm
o mundo, então (pelo menos indiretamente) causando tudo.
Mas isso dificilmente implica que
todos os fenômenos são igualmente boa
evidencia da existência de Deus.
Em todo meu conhecimento, nenhum apologista
Cristão fez o seguinte argumento: 1) Ciência não pode explicar supercondutividade
de alta temperatura [um fenômeno intrigante em física condensada], 2) portanto
um designer inteligente causou isso, 3) portanto Deus existe. A razão é que
obviamente nesse caso deveria existir em principio uma explicação cientifica
ordinária para esse fenômeno. Supercondutores envolvem complicadas, estranhas
físicas e não há particularmente nenhuma boa razão para ficar surpreso de que
nós não entendemos eles completamente ainda.
(Quando um teorista do Design
Inteligente como St. Behe argumenta que 1) há um fenômeno na Natureza como o
flagelo bacteriano que pode plausivelmente não ter evoluído naturalmente porque
eles tem complexidade
irredutível, 2) portanto eles tem que ter sido criados por um designer
inteligente, ele não esta cometendo nenhum tipo de falácia lógica, menos ainda
o Deus das Lacunas. O problema com esse tipo de argumento é que biólogos tem
mostrado que sua premissa (1) é falsa, mas é um tipo de argumento perfeitamente bom, se as premissas fossem
realmente verdades.) [Nota: O autor é um Teista Evolucionista]
Em outros casos, como o da baixa
entropia no inicio do Universo, ou o ajuste fino das constantes da Natureza
para permitir vida, ou porque algumas formas de vida têm experiências
conscientes, ou por que assassinar é errado, ou que importa o por que há
matéria no Universo, pelo menos não é
completamente obvio que existirá uma explicação natural do tipo cientifico
usual. Há uma razão do porque
filósofos teístas (não sendo totalmente estúpido) travam nesses tipos de
“grandes” ou “fundamentais” questões ao invés de questões sobre
supercondutividade.
Na verdade esse é exatamente o
mesmo motivo do por que muitos filósofos ateus vão negar que esse tipo de
perguntas são significativas e que alguém tem o direito de esperar uma
resposta. (Carroll fez isso no debate, a respeito da questão do porque o
universo veio a existir. Assumindo para a bem do argumento que ele veio, ele
argumentou que isso não é o tipo de coisa que precisa de uma explicação.)
Alguém pode imaginar físicas hipotéticas as quais são em algum sentido um
sistema completo de equações, e ainda falhar em responder algumas ou todas
essas perguntas. Nesse caso, o Naturalista vai (por causa de sua convicção de
que a Ciência é o único caminho supremo para a verdade) negar que essas
perguntas são significativas, enquanto a pessoa que se sente incapaz de engolir
isso vai ter para si mesmo um argumento para a existência de Deus.
Outra, Naturalistas mais
otimistas podem esperar que “um dia a Ciência vai explicar isso”. Já que
informação sobre o que a Ciência vai fazer no futuro infelizmente não pode ser
obtida, esse tipo tipicamente apela para aquelas histórias que eu mencionei em
meu ultimo post [post do autor original]. Para reformular isso mais uma vez
(note que eu não estou acusando o Carrol de fazer esse tipo de argumento; como
eu disse eu estou usando o debate como um ponto de partida para falar sobre
problemas maiores):
“Nossos ancestrais supersticiosos
pensavam que quase todos os fenômenos naturais – o nascer do sol, o crescimento
das colheitas, etc. eram atribuídos a numerosos seres sobrenaturais. Ciência
invalidou quase todas essas idéias, mas claro que a Ciência não esta completa
ainda. Os defensores religiosos modernos, portanto, apesar de sua motivação
original para sua crença ter acabado, usam esses buracos em nosso entendimento
para manter lugar para atividade divina. Se a evolução ou a cosmologia do Big
Bang ou alguma coisa deixam espaço para a atividade de Deus, esses tipos
religiosos argumentam, então nós temos algum papel para a Religião. Mas
enquanto a Ciência continua a descobrir mais e mais, as lacunas ficam menores e
menores, e eventualmente essas afirmações vão desaparecer também. Se segurar
nesse tipo de Religião é inútil.”
Esse tipo de raciocínio (que é
bem comum, embora eu o tenha colocado com minhas próprias palavras) tende a deslizar
imperceptivelmente de politeístas pagãos populares (que pensavam que havia
divindade para todos os maiores e menores fenômenos) aos Hebreus monoteístas
(que resistiram essa ideia vendo-a como supersticiosa e errada).
Era perfeitamente obvio para qualquer
filosofo pagão ou Cristão primitivo que a Natureza procede de acordo com leis
ordenadas, e processos naturais. A Ciência moderna pode levar credito por
unificar a descrição de vários fenômenos em enquadramentos matemáticos comuns,
mas agir como se a existência de ordem na Natureza fosse uma descoberta moderna
é um absurdo. É verdade que esse fato esta em tensão considerável com certas
formas de Animismo ou Politeísmo Natural. Mas certamente quase todo monoteísta
vivo nos dois últimos séculos, vai admitir que Deus causa a maioria das coisas
que acontecem, não através de caprichos mas por operação de certos processos
naturais, que podem ser entendidos em certa medida pela razão humana.
Nesse sentido, Naturalismo e
Monoteísmo tem compartilhado (com muito sucesso) uma herança comum. Ambos
implicam que o mundo material não pode ser entendido como divino, e que
portanto é apto a estudo e observação impessoal. Agir como se os frutos dessa
pressuposição comum compartilhada fosse algum tipo de falsificação de uma
dessas duas posições é completamente injusto.
Então, todo mundo deveria parar
de usar a frase, Deus das Lacunas. Alem de ser confuso e condescendente, e na
verdade não uma falácia lógica, é quase sempre indicada à presença de um
espantalho oponente. Muito poucas pessoas religiosas acreditam que Deus existe
apenas para preencher a lacuna em nosso entendimento da Ciência. Vamos
argumentar contra a verdadeira posição na mesa.
Traduzido de: Aron Wall, "Undivided Looking – God of the Gaps"
*Exemplo de falacia do espantalho
:
“Senador Jones diz que nós não deveríamos
fundar o programa de ataque submarino. Eu discordo completamente. Eu não
consigo entender o porque dele querer nos deixar sem defesa assim.”
“Bill e Jill estão argumentando
sobre limpar o armário:
Jill: Nós deveríamos limpar os armários.
Eles estão ficando uma bagunça
Bill: Por que, nós compramos
esses armários ano passado. Nós temos que limpa-los todos os dias?
Jill: Eu nunca disse nada sobre
limpa-los todos os dias. Você só quer manter todo o seu lixo para sempre, o que
é ridículo.”
Retirados de: http://www.nizkor.org/features/fallacies/straw-man.html
E o humano fez Deus à sua imagem e semelhança...
ResponderExcluir- A Superstição tende a ser aniquilada pela Religião...
- A Religião tende a ser aniquilada pelo Mito...
- O Mito tende a ser aniquilado pela Ciência...
Então não há razão para a Ciência entrar em conflito com a Religião...
A Religião deve entrar em conflito com o Mito, evolução natural da Religião...
Tivemos:
Religião Egípcia ==> Mitologia Egípcia
Religião Grega ==> Mitologia Grega
Religião Romana ==> Mitologia Romana
Etc...
Teremos:
Religião Judaica ==> Mitologia Judaica
Religião Cristã ==> Mitologia Cristã
Religião Budista==> Mitologia Budista
Etc...
Em nenhuma dessas evoluções houve a participação da Ciência...
Cabe à Ciência apenas a evolução do conhecimento humano com isenção de ânimos assim como cabe à Religião manter a ignorância humana no status atual até que seja aniquilada pela Mitologia...
Repetindo: A Ciência e a Religião falam línguas frontalmente opostas...
Não devemos esquecer:
Muitos cientistas acreditam em Deus assim como muitos ignorantes (não no sentido pejorativo) não acreditam em Deus.
Interessante:
Não há diferença entre os que creem em Deus e os que não creem em Deus...
Ambos acreditam e não provam bulhufas...
Não existe correlação entre Ciência e Religião...