Objeções ruins contra o
Argumento Cosmológico Kalam aparecem o tempo todo. Tipo essas do Universo Racionalista. Vejamos como eles respondem ao ACK ou KCA (Kalam Cosmological Argument)
e porque suas objeções não vão pra frente.
Refutando as objeções do “Universo Racionalista” ao Argumento Kalam
Formação tradicional do argumento
A forma apresentada no site é
a tradicional, apresentada pelo teólogo muçulmano Al-Ghazali:
1. Tudo
o que começa a existir tem uma causa
2. O
universo começou a existir
3. Portanto,
o universo teve uma causa
Após isso, o defensor do
argumento apresenta uma serie de atributos que a causa tem que ter para chegar
a conclusão de que deve ser uma causa atemporal, imaterial, não-espacial, não-causada,
imutável, extremamente poderosa e pessoal. Que é o que todos chamam de Deus.
O que o site diz (1)
Então, meu
primeiro problema com o Argumento Cosmológico é que ele se apresenta como sendo
baseado em leis universais, entretanto, ele distorce essas leis de forma que o
argumento possa assim ser validado.
Analisando
a primeira premissa, a lei de causa e efeito não fala sobre criação da matéria
ou da energia, isso nunca foi observado e é portanto uma hipótese desconhecida,
incontável e não testável. A lei de causa e efeito se aplica aos estados de
mudança da matéria, seja isso a reorganização de átomos ou a mudança de
estados; de sólido para liquido, gasoso ou vice e versa. Assim como também a
transferência de energia, liberando-a seja através de calor, movimento ou som,
assim como armazenando-a outra vez. Esses são os casos onde as leis de causa e
efeito tem sido observadas e dessa forma não são aplicáveis a criação da
energia e da matéria. Portanto, esse argumento está cometendo a falácia do
equívoco, com a ajuda da semântica coloquial.
Tecnicamente
quando você pinta um quadro ou constrói uma casa, você não está realmente
criando coisa alguma a nível atômico, tudo o que você está fazendo é usando
algo que já existia e transformando-o em algo novo, em escala maior.
Então, para
enfatizar um pouco mais, isso significa que, não está de forma alguma
relacionado a criação nem de energia ou matéria.
Resposta (1)
Então, a alternativa ateísta é
a de que o universo apareceu do nada e por meio de nada. De qualquer forma, o
teísta esta argumentando que se a matéria teve um inicio, então deve haver uma
causa imaterial, já que seria logicamente impossível a matéria ser a causa de
si mesma.
Agora, alguns podem responder
que talvez o Big Bang não seja o inicio da matéria, do tempo e do espaço. Mas,
isso não esta de acordo com a cosmologia contemporânea. De fato, em 2003 surgiu
o teorema Borde-Guth-Vilenkin, que demonstrou que qualquer universo em expansão
cósmica não pode ter o passado eterno. Como Vilenkin diz, o teorema BGV
vale até mesmo para um possível multiverso. Ele concluiu que, “agora que temos
a prova, cosmólogos não podem mais se esconder atrás da possibilidade de um
passado eterno. Não há escapatória – eles tem que encarar o problema de um
nascimento cósmico.” [Vilenkin, Many Worlds in One, p. 176]
Em 2012, ele declarou que “todas
as evidencias que temos nos dizem que o universo teve um inicio.” [Citado por
Lisa Grossman em “Why physicists can’t avoid the creation event”, New
Scientist, 11 de Janeiro de 2012]
Quanto a afirmação de que a
lei da causa e efeito só valem para o que observamos no universo, eu tenho duas
coisas pra falar: Primeiro, comete o que Alexander Pruss chamou de falácia do
taxi. Quer dizer, você usa um principio até onde lhe convêm, mas quando não lhe
convêm, você dispensa como se fosse um taxi. Segundo, o ônus da prova esta todo
no ateu. Nossa experiência é a de que se algo veio a existir, deve ter uma
causa. Mesmo coisas que são rearranjos de matéria, passam a existir em um
determinado momento. Uma cadeira não existia antes de ser causada pelo marceneiro (causa eficiente) e pela madeira
(causa material). De fato, se nós concordarmos que a afirmação “nada começa a
existir” é verdadeira, então nem mesmo o opositor começou a existir e,
portanto, ninguém realizou a objeção.
O site diz (2)
O segundo
problema que tenho com esse argumento é o uso da Falácia da Súplica Especial.
Falácia da
Súplica Especial: súplica especial é a falácia na qual as pessoas aplicam
padrões, princípios, regras, et cetera… a posição opositora, enquanto espera
que sua posição esteja isenta das mesmas regras, sem prover explicações
adequadas para a isenção.
Se tudo
requer uma causa, então nós temos um paradoxo conhecido como regressão
infinita.
Em termos
simples:
“Quem criou
o criador?”
Que
continuaria para sempre (looping infinito).
Resposta (2)
O clássico “quem criou Deus?”
É simples: Como causa do tempo, Deus tem que ser, pela lógica, atemporal.
Portanto, não haviam “momentos de tempo” e, logo, não teve um inicio. Se não
teve um inicio, não teve uma causa.
O site diz (3)
A única
forma de burlar esse paradoxo é declarar que Deus não se restringe as essas
leis de causa e efeito, mas que eles afirmam serem aplicadas ao universo.
Mas qual é
a forma mais simples de derrubar isso? Vamos ao ‘ponto inicial’.
Declare que
a existência do universo também não se restringe a essas leis. Se analisarmos
isso a fundo, todos nós concordamos que o universo passou a existir em algum ponto,
e então eu assumo que ele pode fazer isso sem a necessidade de um criador.
Essa
afirmação segue a mesma linha de que Deus é capaz de existir sem um criador.
Entretanto, entre essa suposição e a ideia de que o universo passou a existir,
eles também necessitam de suposições extras.
Deus
existe.
Deus não
requer um criador.
Deus criou
o universo.
O universo
começa.
Resposta (3)
A diferença aqui é que, como
Deus é (e sempre foi), por definição, um ser eterno (apesar de, teólogos
debaterem se de forma temporal e atemporal), então Ele nunca teve um inicio. Já
o universo teve um inicio e, portanto, tem que ter tido uma causa.
Se você perguntasse a
Aristoteles ou David Hume o que causou o universo, eles diriam “nada, pois é
eterno.” Não se trata de suplica especial, é uma simples questão de lógica:
Algo que não teve um inicio não teve uma causa (Dã).
O site diz (4)
Bem, a
Navalha de Occam é uma ferramenta filosófica que resumido seria “o principio de
que, quando se explicando algo, nenhuma suposição além do necessário deveria
ser feita.”
O argumento
que puder chegar mais longe respondendo questões com o menor número de
suposições é filosoficamente e cientificamente, o superior, e deveria ser
aceito até que novas evidências venham à tona.
O que eu
mostrei com a estabilização do argumento através da rejeição da falácia teísta
da Súplica Especial, “de que somente Deus pode existir sem a necessidade de um
criador” é que Deus é um passo desnecessário.
Resposta (4)
Leia Resposta (2) e (3).
Adicionalmente, o principio da Navalha de Ockham é valido até o ponto em que é necessário
fazer uma suposição adicional. O universo teve um inicio e não foi causado não
explica nada. Portanto, a hipótese teísta é a melhor opção e não faz suposições
desnecessárias.
O site diz (5)
Adicionando
duas novas suposições que são desnecessárias em comparação a uma única
suposição “de que o universo poderia existir sem um criador.” Sem falar que não
importa o quão superior seja meu argumento, se eles provassem a existência de
Deus e então propusessem que Deus criou o universo, essas ainda seriam suposições,
nivelando os argumentos ao mesmo nível. Entretanto, no momento em que eu provei
que são apenas suposições, o Argumento Cosmológico Kalām torna-se obsoleto como
um argumento.
O Argumento
Cosmológico de Kalām requer dos teístas a prova prévia de que Deus existe e que
ele criou o universo, entretanto, ele foi criado justamente para provar esses
pontos.
Portanto, o
Argumento Cosmológico de Kalām é ‘lógica circular’ por natureza, e
auto-suportável.
– O
Argumento Cosmologico de Kalam prova a existência de Deus.
Por que?
– Porque
prova que ele existe.
E isso não
é um argumento de forma alguma.
Resposta (5)
Não, fi. O que se faz no ACK
(e, na verdade, em qualquer argumento da teologia natural) é raciocinar de
efeito para causa.
Se o tempo, espaço e matéria
tiveram um inicio, então a causa tem que transcender o tempo, espaço e matéria.
Sendo assim atemporal, não-espacial e imaterial. Deve ser imutável, já que
mudanças requerem tempo. Deve ser não-causada, já que um regresso infinito de
causas é impossível. Deve ser extremamente poderosa, já que criou algo a partir
do nada (“a única coisa que pode preencher o nada absoluto é algo de poder
infinito.”). Como se não bastasse essas serem características de Deus, essa
causa tem que ser também um agente pessoal, com livre arbítrio. Pense nisso: Se
a causa é impessoal e, portanto, sem a capacidade de fazer escolhas, então ou
ela criaria seu efeito pela eternidade ou jamais criaria. O único jeito do
efeito ter um inicio em determinado ponto do passado é que essa causa tiver
livre arbítrio para escolher quando causar o efeito.
Conclusão
Em suma, essas objeções já foram
refutadas aqui no blog varias vezes. Mas, como o nome “universo racionalista”
parece ter “engrandecido” nas redes, achei bom refutar elas de novo.
O argumento cosmológico kalam
(não “argumento cosmológico de kalam”) nos leva a conclusão de que deve haver uma
causa atemporal, imaterial, não-espacial, não-causada, imutável, extremamente
poderosa e com livre arbítrio. E é isso o que todo mundo chama de Deus.
Felipe, como você refutaria um cara que aparece dizendo que os livros da Bíblia foram escolhidos a dedo no Concílio de Niceia?
ResponderExcluirLeia esses textos
Excluirhttp://olharunificado.blogspot.com.br/2015/01/o-jesus-historico-7-refutando-o-codigo.html
http://olharunificado.blogspot.com.br/2014/10/o-jesus-historico-4-e-os-evangelhos.html
O artigo do Universo Racionalista, em geral, comete a famosa falácia do homem de palha, ou falácia do espantalho, por talvez, uma falsa interpretação ou proposital distorção do argumento cosmológico Kalam:
ResponderExcluir1. O argumento cosmológico não está baseado em observações empíricas, mas em uma necessidade metafísica:[ "Analisando a primeira premissa, a lei de causa e efeito não fala sobre criação da matéria ou da energia, isso nunca foi observado e é portanto uma hipótese desconhecida, incontável e não testável."] A premissa de que tudo o que passa a existir necessita de uma causa eficiente não se baseia na observação empírica, mas no fato de que é impossível que uma coisa venha do nada. Visto que o nada simplesmente não é, ele não possui predicado ontológico positivo. Se o nada criou algo ele tem uma propriedade positiva, então ele não seria o nada.
2. A premissa de que "Deus não está sujeito à lei da causalidade", não se deve a uma falácia do táxi, mas novamente a uma necessidade metafísica: ["A única forma de burlar esse paradoxo é declarar que Deus não se restringe as essas leis de causa e efeito, mas que eles afirmam serem aplicadas ao universo."] O artigo faz uso da argumentação kantiana da antinomia acerca da causalidade. O texto , a partir de um dado momento, passa argumentar com base na seguinte premissa "Se tudo requer uma causa", ignorando o que foi dito no próprio início do artigo: "Tudo que veio a existir, tem uma causa". Não é tudo o que existe que necessita de uma causa, mas tudo o que passa a existir. Deus é um Ser Necessário, o que por definição significa que Ele não pode não existir, portanto Deus não veio a existir, não necessitando de uma causa eficiente.
3. "Deus é capaz de existir sem um criador, mas o Universo não": O motivo disso é claro: O Universo é contingente, e portanto passou a existir. O próprio artigo concorda: " todos nós concordamos que o universo passou a existir em algum ponto". Deus, por sua vez, pode existir sem Criador, porque Ele é um Ser Necessário, e não-contingente.