Você deve ter notado que não há nenhum texto novo no blog e que alguns
(muitos) textos antigos sumiram. O texto a seguir explicará parcialmente o porquê
disso ter acontecido e logo em seguida irei para um conselho aos novos apologistas.
No último ano eu dei uma pausa nos posts porque, embora eu tivesse
conhecimento para ser repassado, estava cansado de escrever apenas para um
blog. Por mais que tenha seu valor o ensino passado por meio de blog posts, eu
estava cansado (e ainda estou). Mas esse não é o ponto principal. Ano passado
foi o ano em que eu mais estudei filosofia na vida: mais do que em qualquer ano
do meu curso de filosofia. Digo isso sem medo de errar na precisão.
No ano passado eu comecei um projeto de pesquisa sobre Tomás de Aquino e
os árabes da Idade Média (falsafa e kalam), e quais são as divergências
e convergências dos pensamentos desses últimos com as ideias de Tomás. Claro,
tal tarefa me levou de volta a Aristóteles, mas eu fui ainda além e comecei com
Platão. Nesse último ano, eu percebi algo em mim que não iria aprender nunca se
ficasse apenas na apologética: o valor da filosofia para superar a
própria apologética.
Nesse ponto, não quero que entendam mal, por isso serei mais preciso no
que quero dizer. Em 2013, quando comecei a estudar apologética por meio do
trabalho do filósofo William Lane Craig, eu fiquei fascinado. É claro que, como
doutor em filosofia, a apologética do Craig envolvia muitos aspectos
profundamente filosóficos. Logo em seguida fui para Norman Geisler e continuei
seguindo os estudos em apologética. Mas aqui está o ponto principal: eu
estudava apenas os contemporâneos e acabava conhecendo um certo nível de
filosofia por tabela.
Craig é profundamente filosófico. Por mais que ele tenha uma formação em
teologia, é nítido que sua metodologia é primariamente filosófica. E ele é um
grande filósofo. Na verdade, eu teria que ser muito autocentrado e/ou ignorante
para olhar pra toda obra do Craig e dizer que ele não é um bom filósofo.
Entretanto, ficar “preso” na obra apologética dele (e nele mesmo) é uma
barreira para o crescimento.
Assim como os pressuposicionalistas ficam presos em Cornelius Van Til e
Herman Dooyeweerd, muitos apologistas atuais ficam presos em nomes como Craig,
Geisler, Ravi Zacarias e outros (ouso dizer, sem medo de errar, que Craig deixa
Van Til no chinelo). E, embora exista um conteúdo muito bom nesses autores, é
preciso ir além deles. E o apologista só vai além quando começar a estudar
filosofia de verdade, fora da “bolha apologética”.
A “bolha apologética” é quando você lê Não tenho fé suficiente para
ser ateu e, como meu amigo Gilberto ex-Cristão Contemporâneo gosta de
dizer, acha que Geisler refutou Kant, Hume e todos os desafios modernos à fé
cristã. É também quando o pressuposicionalista acha que pode resolver qualquer
problema perguntando “de acordo com que padrão?” para o ateu. Usarei isso como
exemplo para demonstrar porque estão errados. Imagine o diálogo:
Pessoa A: “Cristãos são imorais.”
Pressuposicionalista: “De acordo com que padrão você julga que eles são
imorais?”
Pessoa A: “De acordo com formas platônicas existentes além do
espaço-tempo que fundamentam os meus julgamentos morais.”
E agora? É realmente só perguntar de acordo com qual padrão?
Existem respostas para a alternativa da Pessoa A? Claro que existem. Mas você
tem que ir além disso. Outro exemplo (continuando com o pressuposicionalismo
por causa do ranço) é a questão do Uno e do Múltiplo. “Apenas a Trindade fornece
uma resposta ao problema do Uno e do Múltiplo!” – Sério? Platão, Aristóteles e
outros nunca buscaram solucionar o problema?
Por conta dessas limitações que a bolha apologética implica que senti que
era necessário fazer uma pausa na apologética e estudar mais de filosofia. A
filosofia é uma arma essencial para qualquer sistema apologético, mas você vai
ficar extremamente preso se ficar apenas em Craig, Geisler e Van Til. Eles não
respondem a tudo e nem tiveram a pretensão de fazê-lo. Na verdade, nem a Bíblia
responde a tudo, gostando ou não disso. E quando eu falo de estudar filosofia,
não é decorar o antes e depois da linha do desespero do Francis Schaffer,
entender um pouco de Dooyeweerd e achar que está manjando dos paranauê tudo.
O que a pausa na apologética contribuiu para a minha apologética? Eu adquiri
mais conhecimento sobre Platão, Aristóteles, Al-Kindi, Al-Ghazali, Avicena,
Averróis e Tomás de Aquino que jamais pensei que iria adquirir. E todos estes
citados têm algo útil para a apologética cristã. Ademais, vi que Craig, apesar
de ter ressurgido com o argumento kalam não é o único defensor dele
hoje. Existem filósofos que vão muito mais além do que ele. Filósofos como Andrew
Loke, Joshua Rasmussen e Robert Koons são defensores de versões mais
atualizadas do argumento kalam. Em suas versões, boa parte das objeções
tradicionais são inúteis (objeções baseadas em teorias do tempo, por exemplo).
Outra coisa que percebi é que neo-ateísmo é o movimento mais burro que a
internet já viu. Mas isso não significa que não existam bons filósofos
ateus. Neo-ateísmo, como aquele predominante na mente de todos os comentários
de ateus deste blog, é uma piada intelectual. (Pelo amor de Deus: um dos memes
dos neo-ateus diz que Jesus mandou levar pessoas à sua frente e matá-las. Eu
apontei em um texto que isso era dito por uma personagem em uma parábola e o
indivíduo vem me dizer que eu “inventei a desculpa de que era uma parábola”,
quando a própria Bíblia diz: “E Jesus lhes propôs uma parábola”)
Mas quando falamos de ateus sérios (e, aqui, não me refiro a Richard
Dawkins, Daniel Dennett, Sam Harris, Stephen Hawking e Lawrence Krauss) vemos
um desafio muito maior. Não que eles tenham refutado o cristianismo, longe disso.
Mas podemos dizer, de forma análoga, que, enquanto você refuta todos esses
neo-ateus citados acima lendo Em Guarda, para responder em pé de
igualdade os ateus sérios você tem que começar com no mínimo Filosofia
e cosmovisão cristã.
Eu não escrevi esse texto com muito ânimo, até porque eu nem queria
postar nada. Mas achei preciso para dar um conselho ao leitor: estude. Estude
filosofia além da apologética; estude história além da defesa da ressurreição
de Jesus; estude crítica textual além de Sean McDowell; estude teologia além
dos apologistas contra-seitas brasileiros (que são bem meia boca); e pelo amor de tudo que há de mais sagrado, estude ciência e exegese além de Adauto Lourenço. Lembre-se:
- Geisler tem seu valor, mas é apenas uma porta de entrada.
- Craig é excelente, mas estudar filosofia o ajudará a superar desafios
maiores.
- Perguntar apenas “de acordo com qual padrão?” é preguiça intelectual.
- Existem ateus inteligentes, mas atualmente na internet você não
encontrará muitos.
- O mundo acadêmico precisa de mais intelectuais cristãos. Venha!
Ah! Os textos que foram retirados não voltarão por um tempo. Eu os
retirei porque: (a) achei que estavam bem mal escritos; (b) eu não concordava
tanto com alguns, e (c) eu fiquei mais criterioso com ABNT e essas normas chatas.
Que Deus os abençoe,
Felipe S. Forti.
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ResponderExcluirFarei um post depois direcionando esse estudo.
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