Uma objeção comum contra o uso de
filosofia e, consequentemente, uma parte da apologética, é a de que Paulo
rejeitou a filosofia e mudou completamente de estratégia com os Coríntios. Então,
seria esse mesmo o caso? A Bíblia nos diz que a filosofia é ineficiente?
Teria o Apostolo Paulo rejeitado a filosofia?
Primeiro, um pano de fundo
Atos 17 diz que Paulo foi levado
pelos atenienses a Areópago porque ele estava ensinando uma “nova” divindade
(nova, claro, para os atenienses). Esse era o lugar que eles levavam pessoas
que ensinavam essas “novas” divindades, para que o concilio aprovasse-as.
A objeção
Alguns estudiosos tentam
argumentar que essa passagem foi escrita por Lucas pois ele queria mostrar que
era uma estratégia falha. Eles dizem que Paulo tentou, mas falhou e não
conseguiu muita resposta, então ele mudou de estratégia em Coríntios e rejeitou
a filosofia, ficando apenas no evangelho.
Respostas
Paulo usa apologética em Coríntios
Apesar de não ser uma “filosofia”
como a tradicional, Paulo fala de evidencias e testemunhas em 1 Coríntios 2. Isso
certamente é “dar uma razão”!
É um argumento baseado no silencio
Esse é um argumento baseado no
silencio. Só porque Paulo não usa filosofia com os Coríntios, não significa que
ele abandonou a filosofia.
O discurso de Paulo é Cristo-centrico
O discurso de Paulo em Areópago é
Cristo-centrico. É uma estratégia para comunicação através de culturas e visões
de mundo.
Em Coríntios, Paulo esta
enfrentando a arrogância da igreja e a espiritualidade “eu sou melhor”. Ele não
estava indo contra argumentação racional ou “usar a cabeça”.
Paulo usa o mesmo método antes e depois de Atenas
Antes e depois de Atenas, Paulo
raciocina e é persuasivo nas sinagogas e mercados, e se referindo ao testemunho
da Criação de Deus. O método de Paulo em Atenas é ilustrado em 1 Coríntios
9:19-27:
Porque, se
prego de livre vontade, tenho recompensa; contudo, como prego por obrigação,
estou simplesmente cumprindo uma incumbência a mim confiada.
Qual é, pois,
a minha recompensa? Apenas esta: que, pregando o evangelho, eu o apresente
gratuitamente, não usando, assim, dos meus direitos ao pregá-lo.
Porque, embora
seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número
possível de pessoas.
Tornei-me
judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da
lei, tornei-me como se estivesse sujeito à lei, ( embora eu mesmo não esteja
debaixo da lei ), a fim de ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que
estão sem lei, tornei-me como sem lei ( embora não esteja livre da lei de Deus,
mas sim sob a lei de Cristo ), a fim de ganhar os que não têm a lei.
Para com os
fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos,
para de alguma forma salvar alguns.
Faço tudo isso
por causa do evangelho, para ser co-participante dele.
Vocês não
sabem que dentre todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio?
Corram de tal modo que alcancem o prêmio.
Todos os que
competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa
que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre.
Sendo assim,
não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar.
Mas esmurro o
meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros,
eu mesmo não venha a ser reprovado. - 1 Coríntios 9:17-27
Veja que ele diz que “se tornou
judeu para os judeus” e “fraco para os fracos”, tudo para espalhar o evangelho.
Similarmente, ele viu que os atenienses eram “religiosos”(Atos 17:22) e ele
falava com filósofos (Atos 17:18).
Em seu livro “The Gospel in the
Marketplace of ideas”, Paul Copan e Kenneth Litwak notam varias coisas sobre
Atos e Paulo:
- Lucas mostra como Paulo navega
como um mestre nas formas de introduzir uma nova deidade em Atenas.
- O gênero de Atos é
historiografia helenística (uma mistura de fatos, bom estilo literário e
habilidade retórica)
- Os discursos em Atos são
resumos porque eles levam apenas alguns minutos para serem lidos (Êutico dormiu
por causa do “discurso longo” de Paulo)
- Discursos que citam as
Escrituras eram reservados aos Judeus, e aos gentios eles citavam seus poemas
refletindo temas bíblicos.
- Quando Lucas diz que Paulo
recebeu uma resposta mista não é um anuncio de falha, mas uma vitória que
deveria ser imitada. Até mesmo os judeus deram a Paulo uma resposta mista (Atos
28:24-31). Um numero pequeno foi convertido em Filipenses. Em Tessalônica e Beréia
a resposta foi boa, mas eles não resultaram em nenhuma “grande igreja”. A
recepção dos Macedônios foi pequena, e em Atenas não foi diferente.
Paulo nota que apenas uma pequena
parte dos convertidos são elites intelectuais, mas nunca diz para ignorá-los e ele
mesmo nunca os ignora. Lucas nos da dois exemplos de como agir com não-cristãos:
Em Listra é argumentado usando a Natureza e em Aerópago foram usadas citações
de poetas. Os apóstolos não usavam a mesma mensagem sempre pois a situação e os
ouvintes eram diferentes.
Paulo, sendo de Tarso, podia
dialogar com as elites culturais, pois sua educação o equipou para se adaptar
com diferentes audiências. Ele era um Judeu que aprendeu com Gamaliel, enão
podia conversar com Judeus. Também era um cidadão Romano, e assim podia se
relacionar com os Gentios. Atenas era uma cidade bem religiosa que até mesmo
tinha altares dedicados a deuses desconhecidos para evitar ofertas a um deus
que eles não reconheciam. Atenas também era um centro grande de intelectuais,
que nos deu Zeno, Epicteco, Aristóteles, Platão, etc.
Paulo era muito inteligente. Em
Areópago, ele começa com comprimentos tradicionais, falando bem deles por serem
religiosos, usando palavras que filósofos entenderiam como supersticiosas. Ao
longo de Atos, Lucas nos da instruções de como dialogar com os intelectuais e a
elite social. Apesar de Paulo ter ficado entristecido com a idolatria ao seu
redor, ele não mostrou isso. Depois vemos discussões sobre monoteísmo, teologia
natural e correção de caricaturas. Paulo mostra como os atenienses estavam
errados mostrando que Deus não precisa de templos, e que Ele esta próximo. Ele
usa a teologia natural, mostrando fatos da criação e da existência humana para
apontar para Deus. Ele usa termos filosóficos gregos [como theion (natureza
divina) ao invés de theos (Deus)], mas tudo para mostrar a verdade bíblica, não
para afirmar ideologia Estóica. Paulo também apela a poetas que nos chamam de prole
de Deus para chamar pessoas “apateistas”, que não se importam muito. Isso é uma
demonstração de como Paulo conhecia a cultura deles e citou autoridades como
forma de prova. Ele também apela para testemunhas da ressurreição em Atos
17:31. Naquela cultura, o testemunho de alguém era mais valido do que registros
históricos escritos.
Por que Paulo não diz aos Atenienses que Jesus morreu por nossos
pecados?
De certa forma, Paulo diz que
Jesus morreu na cruz por nossos pecados quando diz:
Mas Deus, não
tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em
todo o lugar, que se arrependam;
Porquanto tem
determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem
que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. - Atos
17:30,31
Quer dizer, Deus negligenciou os
pecados do passado (ignorância), mas agora Ele se fez conhecido, é hora de ir
até Ele. Há julgamento para que rejeita essa negligencia. Tanto a negligencia
quanto o julgamento são provados por Deus ressuscitando o juiz dos mortos.
Isso também nos ajuda a entender
todas as outras vezes em que há chamado ao arrependimento antes e depois de
Jesus morrer e ressuscitar. Por exemplo, João batista falando de arrependimento
antes de Jesus morrer por nossos pecados. Deus nos ama. Ele não começou a amar
quando Jesus disse “esta consumado”. Jesus veio ao mundo porque Deus nos amou
(João 3:16), não o contrario. Jesus se sacrificando por nós na cruz foi o amor
de Deus encarnado. Não tem como conhecer esse amor sem arrependimento, sem
voltar ao Deus que salva, que nos liberta da escravidão do pecado ao
conhecimento de Seu amor incondicional.
Ou nós aceitamos o amor de Deus e
vivemos como filhos e filhas amados, ou não, vivendo como escravos julgados. Paulo
nos diz que a única coisa que não podemos fazer, agora que Deus mostrou seu
amor, é viver como ignorantes.
Mas e 1 Coríntios 8:1?
Opositores ao uso de filosofia
também podem citar 1 Coríntios 8:1
Com respeito
aos alimentos sacrificados aos ídolos, sabemos que todos temos conhecimento. O
conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. - 1 Coríntios 8:1
Porem, algumas traduções trazem
como “esse conhecimento”. Esse conhecimento que Paulo diz
provavelmente é o ensinamento gnóstico. Como Anthony Thiselton apontou:
“Pode muito
bem ser que o ‘conhecimento’ Corintiano tivesse uma matiz gnóstica,
antirealista” [Anthony C. Thiselton, “The First Epistle to the Corinthians: A
Commentary on the Greek Text”, 622.]
Conclusão
A experiência de Paulo em Atenas
nos mostra que devemos, não nos adaptar ao “mundo” em que estamos, mas saber
como falar com nossa audiência. Paulo era muito esperto e sabia exatamente como
fazer isso. Devemos seguir seu exemplo e aprender a falar com nosso publico de
forma que eles compreendam e se interessem pela Verdade Bíblica.
Agradecimento:
Christian Apologetics Alliance , “The
Gospel in the Marketplace of Ideas”
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