Quando ouvimos de alguma nova
tentativa de explicar a razão... de forma natural, nós deveríamos reagir como
se nós fossemos ditos que alguém deixou um circulo com quatro lados. – Peter Gearch,
“The Virtues”, p. 52
O Argumento Evolucionista contra o Naturalismo
Um
dos problemas antigos na filosofia, é o problema do ceticismo. Como podemos
estar certos de que o que experimentamos é verdade, e não uma ilusão ou apenas
um modelo útil? Como saber se nosso conhecimento é preciso e não um truque causado
por forças externas? A forma normal ao qual isso é endereçado, é pela posição
do Particularismo Epistêmico. Que é
basicamente a posição de que nosso conhecimento é inocente, até ser provado
como culpado. Não há razão para duvidar de nosso conhecimento, crenças e
intuição a não ser que possamos achar alguma razão para duvidar. Mas e se
existisse uma razão que pudesse nos fazer começar a duvidar de nossas crenças?
E se nossas crenças nos levassem a uma contradição interna e a um circulo auto
refutável?
Graças
a Deus, nem todas as crenças caem nessa posição, mas se você crê no Naturalismo Filosófico, então esse deve ser, de fato, o caso. Naturalismo Evolucionista
Naturalista, é a posição de que não existem entidades sobrenaturais, que o
mundo natural é tudo o que existe e humanos vieram por um acidente através do
trabalho cego da matéria. Nós teríamos evoluído naturalmente, de animais
menores, passando traços e crenças que nos ajudam a sobreviver. Como
naturalista Daniel Dennett diz:
“[A mente] é o cérebro, ou mais
especificamente, um sistema ou organização dentro do cérebro que evoluiu da
mesma forma que nosso sistema imunológico ou sistema respiratório ou sistema
digestivo evoluiu. Como varias outras coisas naturais, a mente humana é algo
como uma bolsa de truques, remendada ao longo das eras por processos não-providenciados
de evolução por seleção natural.” [Daniel Dennett, “Breaking the Spell”, p.
107]
Então,
tudo o que nos torna o que somos teria vindo pela seleção natural para nos
ajudar a sobreviver. Porem, isso incluiria tudo sobre nós mesmos, o que incluiria
a química do cérebro e como ela funciona. O cérebro evoluído do ser humano
teria vindo apenas como uma forma de ajudar o organismo na sobrevivência.
Então, se o naturalismo for verdade, tudo o que o cérebro faz é para a sobrevivência,
o que inclui necessariamente todas as crenças e pensamentos que ele tem. O que
iria ocasionar no fato de que todas as crenças que pensamos ser verdades da
realidade são apenas formadas no cérebro para nos ajudar a sobreviver. Mas,
consequentemente, isso iria incluir a crença no naturalismo. Então, se você crê
que o naturalismo é verdade, então você também tem que crer que você crê que o
naturalismo é verdade porque o seu cérebro decidiu essa crença como benéfica para
a sobrevivência, não porque seja verdade. Então, como Alvin Plantinga
identificou, o Naturalismo Filosófico cai em um ciclo auto refutável:
“Eu
creio que o naturalismo seja a verdade” – “Eu sou um produto apenas do
naturalismo evolucionista” – “Portanto, minhas crenças são programadas em mim
para me ajudarem a sobreviver” – “Isso inclui minha crença de que o naturalismo
seja a verdade.”
[Alvin Plantinga, "Naturalism Defeater"]
De
fato, vários experts identificaram esse problema. Filosofo Richard Rorty diz:
“A ideia de que uma espécie de
organismo é, diferente de todas as outras, orientada não apenas para o seu
próprio aumento da propensão, mas em direção a Verdade, é tão não-Darwiniano
quanto a ideia de que todo ser humano tem uma bussola moral construída.”
[Richard Rorty, “Untruth and Consequences”, p. 36]
Revista
Time diz que Biólogo J. M. Smith “nunca entendeu o porquê de organismos terem
sentimentos. Afinal de contas, biólogos ortodoxos creem que o comportamento,
embora complexo, é governado completamente pela bioquímica, e que sensações
criadas – medo, dor, preocupação, amor – são apenas sombras lançadas por essa bioquímica,
não sendo vitais para o comportamento do organismo...” [Time, 28 de dezembro de
1992, p. 41]
Até
mesmo o grande Charles Darwin tinha essa preocupação:
“Comigo a duvida horrível sempre apareceu,
se as convicções da mente humana, que foram desenvolvidas da mente de animais
menores, são de algum valor ou ao menos confiáveis” [Charles Darwin, Carta a William Graham,
3 de Julho de 1881]
Mas,
claro, a objeção obvia a isso é: Por que não seria o mais benéfico para a sobrevivência
ter uma descrição precisa e verdadeira da realidade? Claro que um organismo com
faculdades cognitivas confiáveis, e sabendo o que é verdade, seria a forma mais
favorável para sobreviver. Portanto, a evolução iria selecionar faculdades
projetadas para saber a verdade. Porem, Plantinga antecipou essa objeção e nos
aponta que a probabilidade disso acontecer seria baixa ou deveríamos nos manter
agnósticos sobre o naturalismo ser verdade.
Primeiro,
não há nenhum equivoco necessário ente “O que é útil” e “O que é verdade”. Algo
pode ser útil, mesmo não sendo verdade. Veja, por exemplo, a Astronomia
Ptolemaica. Por séculos esse modelo foi usado para nos ajudar na navegação e a
fazer gráficos de navegação das estrelas. Era útil, mas não uma descrição
verdadeira da realidade. E claro, depois foi substituído por um modelo mais
preciso. Porem, se o naturalismo for verdade, então nosso conhecimento deveria
ser análogo quanto a astronomia Ptolemaica, simplesmente um modelo útil para
nos ajudar a atravessar o mundo.
Então,
apenas porque nosso conhecimento funciona em medidas praticas, isso não torna
verdade o que a realidade é.
Veja
outro exemplo: qualia, especificamente, a “cor”. Na natureza, objetos externos
refletem ondas eletromagnéticas, que atingem o olho humano para criar estados bioquímicos.
O que é transmitido ao cérebro como padrões neurais ao córtex visual primário.
Se o naturalismo for verdade, o cérebro iria de alguma forma criar a cor, a
partir dessa informação, como um modelo útil. As ondas de ligação originais não
tem cor. A cor é, como John Locke disse, qualidade secundaria ou conteúdo da mente.
Elas emergem como ondas de ligação, são percebidos pelos olhos, e criados no cérebro.
Fora do cérebro, a cor não existe. Então a cor é apenas um modelo útil criado
pelo cérebro, mas não algo que realmente existe na natureza. E se o cérebro faz
isso com a cor, então pode ser facilmente argumentado que ele faz isso com
nosso conhecimento. Não é necessariamente verdadeiro, mas um modelo útil que
nós somos programados para crer que é verdade, passa nos ajudar a sobreviver.
Então,
nós caímos em um ciclo auto refutável: Se o naturalismo for verdade, conhecimento
e crenças são para a sobrevivência, então a crença no naturalismo não é
verdade, mas apenas para a sobrevivência. De fato, experts em filosofia e ciência
notam que não há razão para pensar que a verdade seja algo possível de se obter
se o naturalismo for verdade. Filosofo John Grey diz:
“A mente humana serve ao sucesso evolucionário,
não a verdade. Para pensar o contrario é preciso ressuscitar o erro
pré-Darwinista de que os humanos são diferentes de todos os outros animais. A
teoria Darwinista nos diz que um interesse na verdade não é necessário para a sobrevivência
ou reprodução [...] Verdade não tem vantagem evolucionaria sistemática sob o
erro.” [John Grey, “Straw Gods”, p, 20, 26-27]
Neurocientista
e naturalista, Sam Harris, diz:
“Nossas intuições lógicas, matemáticas
e físicas não foram projetadas pela seleção natural para achar a verdade” [Sam
Harris, “The Moral Landscape”, p. 66]
Patricia
Churchland diz:
“A ocupação principal [do cérebro] é
colocar as partes do corpo onde elas deveriam estar para que o organismo possa
sobreviver. Melhora no controle sensório-motor conferem uma vantagem
evolucionária: um estilo observador [do mundo] é vantajoso enquanto ele [...]
aumenta a chance do organismo de sobreviver. Verdade, o que quer que isso seja,
fica em desvantagem.” [Journal of Philosophy (LXXXIV, outubro de 87) p. 548]
De
fato, com nossa analogia da criação de cor no cérebro, nós podemos até mesmo argumentar
que crenças verdadeiras poderiam ser distrações para gastar energia, causando
organismos a buscar modelos mais simples.
Plantinga
até argumenta que possuir crenças verdadeiras poderia ser desvantajoso, porque
essas crenças iriam requerer o aumento do processo de informação contra modelos
uteis simplificados. Assim como na analogia da cor. É muito mais simples
entender a cor, do que interpretar ondas de ligação. Símbolos menos complexos
de interface do usuário podem ser bem mais eficientes, já que eles requerem
menos processo de informação para serem entendidos. Veja, por exemplo, nos ícones
do computados vs o código de programação deles. Qual deles é mais fácil para a
mente humana aprender e se adaptar? Qual requer menos poder cerebral para se
entender? Similarmente, nosso conhecimento e nossas crenças poderiam ser símbolos
menos complexos de interface de usuário para a sobrevivência, e não uma imagem
verdadeira da realidade. Simplesmente algo que nós somos programados para
pensar ser verdade porque pensar dessa forma nos ajuda a sobreviver.
Agora,
alguns vão argumentar que existem algumas crenças que algumas pessoas tem que
não buscam a sobrevivência. O exemplo obvio, são crenças que encorajam o suicídio.
No naturalismo, pensamentos suicidas seriam criados pelo cérebro, mas não
buscam a sobrevivência. Então, isso não significaria que nem todas as nossas
crenças são benéficas para a sobrevivência? Bom, o que devemos lembrar é que,
no naturalismo, o cérebro de um individuo suicida ainda esta fazendo o que ele
ou ela pensam ser o melhor. Eles foram forçados a crer, por uma química cerebral,
que o mundo é um lugar frio e escuro, e que a melhor opção é escapar dele através
da morte.
Então,
de forma corrupta, eles ainda estariam pensando que eles estão fazendo o que é
melhor para eles, ou escolhendo crenças que vai os ajudar a ir a um lugar mais
seguro.
Portanto,
se o naturalismo for verdade, o cérebro do individuo ainda esta tentando obter
o que é melhor para ele, mas a partir de uma posição com defeito. E a seleção
natural seria o processo de capinar os organismos defeituosos que não conseguem
obter a melhor forma de sobreviver. De fato, todas as crenças criadas pelo cérebro,
seriam iguais para se obter a melhor maneira para sobrevier, já que esse seria
o objetivo que cada organismo estaria tentando obter quando produzem crenças.
Então, a crença no naturalismo pode não ser a crença mais útil para a sobrevivência,
mas ela seria gerada com o objetivo de sobreviver em mente, não na busca pela
verdade. Porem, até mesmo com essa fato simples, poderia ser facilmente
explicado como qualquer visão de mundo metafisica, como o naturalismo ou o teísmo,
podem ajudar um organismo a sobreviver. Porque, se o naturalismo for verdade,
todas as visões de mundo dariam a um organismo a sensação de segurança e
coragem. Eles estão sentindo como se entendessem como a realidade funciona e,
portanto, isso seria benéfico.
Então,
essas são as consequências, se o naturalismo for verdade. Todo o conhecimento
humano estaria funcionando para a sobrevivência, como os especialistas
identificaram. E não há razão para assumir que isso ocasiona na verdade. Então,
o naturalismo filosófico tem um serio problema enraizado em suas próprias implicações.
Então,
o que isso significa? Isso obviamente não demonstra que o naturalismo seja
falso, nem prova o teísmo. O que isso mostra é que, se um individuo começa com
a crença de que o naturalismo é verdade, então eles também tem que crer que
essas crenças vieram por processos naturais, que buscam a criação de modelos
uteis para a sobrevivência. Portanto, a crença no naturalismo é apenas um
modelo útil também. Então, a crença no naturalismo refuta a si mesma. A verdade
seria impossível de se obter, de fato, seria algo insignificante de ser
debatido. Se a razão não é baseada na razão, mas em processos físicos cegos,
então a própria razão esta perdida. E o próprio processo de raciocinar para o
naturalismo e para o materialismo é insignificante e refuta a si mesmo, já que
teria que assumir que raciocinando para a verdade funciona. Mas visões
alternativas funcionam, já que podemos argumentar que propriedades mentais da consciência
e da razão são irredutíveis em funcionamento e, portanto, evitam a implicação
do reducionismo. É por isso que, por exemplo, teístas e idealistas não sofreriam
as mesmas implicações, já que a mente não seria reduzíveis a processos físicos.
Crer que coisas como Ciência, Moralidade e Lógica, são redutíveis, cria mais
problemas do que alguns podem pensar. Mas, de novo, se elas são reduzíveis, nós
estamos realmente pensando sobre isso?
“...em um concurso entre o ateísmo materialista
e algum tipo de visão religiosa teísta, a conclusão materialista deixa até mais
mistérios do que a visão que ve a razão e a consciência como partes da essência
do universo” [Anthony O’Hear, “Philosophy”, p. 125]
Traduzido de:
Inspiring
Philosophy, “Evolutionary
Argument Against Naturalism (An Introduction)”
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