Sobre questões de países ateus e cristãos, não vejo relevância pra questão da existência de Deus. (Claro, esse não era o tópico do debate, mas o que quero comentar são nos pontos relacionados a existência de Deus.)
Avaliando os argumentos de Daniel Sottomaior
O Argumento Cosmológico Kalam tradicional
Antes de começar, é bom
entender (resumidamente, é claro) o que é o “argumento das origens”:
Premissa 1 – Qualquer coisa
que comece a existir tem uma causa
Premissa 2 – O Universo
começou a existir
Conclusão – Portanto, o
Universo teve uma causa.
Premissa 2 pode ser defendida
tanto com argumentos filosóficos como com evidencias cientificas.
Cientificamente falando, a descoberta de que o universo esta em expansão trouxe
a tona a cosmologia do Big Bang, que diz que, se rebobinarmos essa expansão, o
universo chega a uma origem conhecida como “Big Bang”. Em 2003, Arvind Borde,
Alan Guth e Alexander Vilenkin demonstraram que qualquer universo em expansão
não pode ter o passado eterno, mas deve ter um inicio em uma fronteira do
espaço e tempo. [Fonte: Inflationary
spacetimes are not past-complete] Então, tal premissa esta bem defendida.
Agora, após a conclusão nós
podemos ver quais propriedades a causa do universo deve ter. Já que o universo
abrange todo o espaço, tempo e matéria, a causa do universo tem que transcender
o espaço, tempo e matéria. Não apenas isso, mas essa causa tem que ser um
agente pessoal, já que, se ficou em um estado permanente com condição de criar
o universo, então porque apenas a cerca de 14 bilhões de anos deu origem a esse
novo efeito? Por exemplo, um homem que esta sentado pela eternidade e resolve
se levantar só o faz por ser uma pessoa, que tem livre arbítrio para escolher. Então a unica forma de uma causa permanente dar inicio a um efeito novo como o universo é se ela escolher criar esse universo.
Basicamente, é isso. Agora,
vamos ver as objeções de Sottomaior.
Comentários de Sottomaior
Ele diz:
“Os argumentos
em respeito da existência de Deus são todos facilmente refutáveis. Qualquer um
deles.” (12:28)
Uma breve análise psicológica
aqui nos mostra que Sottomaior está apenas tentando “ser superior”. Essa
afirmação não só da a ele um “status” ao vivo, como também é uma ofensa aos
grandes filósofos que passam anos estudando esses assuntos. Argumentos
Cosmológicos, Teleológicos, Morais, Ontológicos, etc não são “facilmente refutáveis”.
O que Sottomaior precisa fazer aqui é parar de ler Dawkins e ver como os filósofos
da religião contemporâneos defendem esses argumentos. Mas enfim, continuando...
“argumento
das origens [...] a ciência já respondeu, esse é o mais interessante. De onde
viemos? Darwin já nos disse de onde viemos! A cosmologia já disse de onde o
universo veio! E a neurociência já nos disse que tudo que nós somos está no
nosso cérebro! Não há alma, não há espirito. Isso é simplesmente uma ideia de
pessoas de 300 mil anos atrás.” (12:36)
Isso é simplesmente idiota.
Primeiro, Darwin disse como as espécies evoluíram, não como a vida começou. A
origem da vida nada tem a ver com a evolução das espécies. Mas deixemos isso de
lado, já que eu creio que Deus usou métodos naturais para chegarmos aqui.
Quanto a cosmologia, eu
realmente quero saber a que ele de refere. Seria o vácuo quântico? Me desculpe
Sottomaior, mas o vácuo quântico é algo em extrema instabilidade, isso é
admitido até mesmo por Lawrence Krauss. Ele não duraria uma eternidade por
causa de sua instabilidade e mesmo que pudesse, não poderia de repente agir de
forma diferente para criar o espaço-tempo clássico.
Seria o Multiverso? Me desculpe,
mas o teorema Borde Guth Vilenkin diz que até mesmo um possível multiverso
requer um inicio absoluto. Porém, não existe evidencia alguma do multiverso e
ele encontra um problema insuperável: Se fossemos apenas um membro aleatório de
um grande conjunto de universos, seria gigantescamente mais provável que estivéssemos
observando um universo do tamanho de nosso sistema solar. De fato, o universo
mais provável é um em que um único cérebro aparece do vácuo quântico e observa
seu universo vazio. Esse universo é gigantescamente mais provável do que o
nosso. Mas, como nós não temos observações como estas, isso já serve como forte
argumento contra o multiverso. [Fonte: Roger Penrose, “Time-asymmetry and
quantum gravity” em “Quantum Gravity 2”, p. 249]
E que tal a consciência?
Sottomaior alguma vez na vida pegou um livro de filosofia da mente ou de neurociência
de verdade? Consciencia não pode ser um fenômeno físico, me desculpe. Como J. P.
Moreland colocou, “... eu sei que minha consciência não é um fenômeno físico
porque existem coisas que são verdades para minha consciência que não são
verdade para nenhum objeto físico. [...] Alguns de meus pensamentos tem o
atributo de serem verdadeiros. Tragicamente, alguns tem o atributo de serem
falsos. [...] Porém, nenhum de meus estados cerebrais é verdadeiro ou falso.
Nenhum cientista pode olhar para o estado de meu cérebro e dizer ‘oh, olhe esse
estado particular do cerebro é verdade e esse outro é falso.” [J. P. Moreland,
“The Evidence from Counciousness”, em Lee Strobel, “The Case for a Creator”, p.
258]
Ele oferece algum argumento para sustentar sua posição, mostrando o caso do homem que perfurou acidentalmente seu cerebro com uma barra de aço e depois mudou completamente. Mas como eu apontei no meu texto
sobre o Argumento da Consciência, um dualista argumentaria que a relação da mente e do corpo é a de como um musico e seu instrumento: Se o instrumento for danificado, então o musico não consegue tocá-lo corretamente. Da mesma forma que o cérebro pode afetar a mente, a mente pode afetar o físico.
Se tudo é material, então os
ateus não podem dizer que são os “livres pensadores” e donos da razão. Por que?
Simples: Se tudo for material, então seu cérebro é apenas uma massa com química
que obedece as leis da natureza. Mas, se a química do seu cérebro é regida
pelas leis da natureza, então você não tem livre arbítrio, pois tudo é
determinado por uma lei imutável que segue padrões. Com isso, não apenas não
são livres como também não podem raciocinar. Sem pensamento livre = sem razão.
John Lennox conta uma pequena história para demonstrar como esse pensamento é
irracional:
“Eu vejo
meus alunos ateístas e pergunto ‘com o que você faz ciência?” e eles me dizem, ‘com
o cérebro.’ Então eu pergunto, ‘o que é seu cérebro?’ e eles me responderam ‘apenas
matéria fruto de forças cegas e não guiadas’. E eu respondo, ‘e você confia
nisso?‘”
Peter Gearch diz:
Quando
ouvimos de alguma nova tentativa de explicar a razão... de forma natural, nós
deveríamos reagir como se nós fossemos ditos que alguém deixou um circulo com
quatro lados. [Peter Gearch, “The Virtues”, p. 52]
Alem disso, em uma visão
inteiramente materialista, somos apenas fruto de uma evolução cega que se
preocupou apenas com sobrevivência e reprodução. Mas, se tudo o que fomos
adquirindo nesse processo serve apenas pra sobrevivência, como podemos confiar
que ele nos passou informações verdadeiras? Revista Time diz que Biólogo J. M.
Smith “nunca entendeu o porquê de organismos terem sentimentos. Afinal de
contas, biólogos ortodoxos creem que o comportamento, embora complexo, é
governado completamente pela bioquímica, e que sensações criadas – medo, dor,
preocupação, amor – são apenas sombras lançadas por essa bioquímica, não sendo
vitais para o comportamento do organismo...” [Time, 28 de dezembro de 1992, p.
41]
Patricia Churchland diz:
“A ocupação
principal [do cérebro] é colocar as partes do corpo onde elas deveriam estar
para que o organismo possa sobreviver. Melhora no controle sensório-motor
conferem uma vantagem evolucionária: um estilo observador [do mundo] é
vantajoso enquanto ele [...] aumenta a chance do organismo de sobreviver.
Verdade, o que quer que isso seja, fica em desvantagem.” [Journal of Philosophy
(LXXXIV, outubro de 87) p. 548]
Então, se o naturalismo for
verdade, não podemos saber nada sobre a realidade, incluindo se o naturalismo é
verdade. (leia este
texto sobre o Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo também)
Continuando...
“das duas,
uma: ou tudo é criado por outra coisa, ou nem tudo é criado por outra coisa. Se
tudo é criado por outra coisa, então esse Deus foi criado por um outro Deus que
foi criado por um outro Deus então, a ideia religiosa tem um problema. Se nem
tudo é criado por outra coisa, então por que pensar em Deus?” (13:11)
Aqui vemos claramente como
Sottomaior não entendeu o argumento. Como disse acima: O argumento diz que tudo
o que começa a existir tem uma causa.
Porém, a cadeia de causas não pode ser infinita. Então deve haver uma primeira
causa não causada. Se Deus não começou a existir, então Ele não teve uma causa.
Um ser atemporal não tem começo. E antes de dizerem “ah, mas você está redefinindo Deus!” Não, jovem. Eu estou usando o conceito tradicional do Deus
Cristão.
Essa objeção é tão ruim, mas tão ruim, que ela nem ao menos responde ao argumento. Deixe-me listar quatro problemas: (1) Se Deus tivesse uma causa, a causa teria que ser maior que Ele, sendo assim a causa seria Deus; (2) Um ser atemporal não tem começo. Logo, não tem uma causa; (3) Mesmo se Deus precisasse de uma causa, isso não invalidaria a existência dEle. Para se admitir uma explicação como a melhor, não precisamos de uma explicação da explicação (Dã); (4) Deus é por definição um ser Necessário, não Contingente. Um ser Necessário não pode falhar em existir. Perguntar “quem criou Deus” é o mesmo que perguntar “quem criou o ser não-criado?”
Essa objeção é tão ruim, mas tão ruim, que ela nem ao menos responde ao argumento. Deixe-me listar quatro problemas: (1) Se Deus tivesse uma causa, a causa teria que ser maior que Ele, sendo assim a causa seria Deus; (2) Um ser atemporal não tem começo. Logo, não tem uma causa; (3) Mesmo se Deus precisasse de uma causa, isso não invalidaria a existência dEle. Para se admitir uma explicação como a melhor, não precisamos de uma explicação da explicação (Dã); (4) Deus é por definição um ser Necessário, não Contingente. Um ser Necessário não pode falhar em existir. Perguntar “quem criou Deus” é o mesmo que perguntar “quem criou o ser não-criado?”
Qualquer argumento cosmológico
diz que, já que coisas contingentes – ou coisas que começam a existir – existem,
devem haver explicações ou causas para elas. Porém, essa serie não pode ser
eterna, chegando assim a uma primeira causa não-causada. Ou um motor imóvel. Até
mesmo o site Common Sense Atheism concorda que essa objeção é incrivelmente ruim. [Who Designed the Designer?
http://commonsenseatheism.com/?p=6113]
E isso não é tratamento
especial para Deus. Essa é a definição que qualquer teísta daria a Deus: A
Primeira Causa não-causada, o Motor imóvel, um Ser Necessário. Michael Jones,
do canal Inspiring Philosophy, diz:
“O filosofo
ateu David Hume disse que o universo era necessário. Se você tivesse ido até
David Hume e tentado refutar a teoria dele de que o universo era não-causado,
perguntando: ‘Se o universo é a explicação para a nossa existência, então o que
criou o universo?’ Ele teria simplesmente respondido que o universo é necessário
e, portanto, não precisa de um criador.” [Inspiring Philosophy, “Worst Objection to Theism:
Who Created God?” (3:03)
Continuando...
“As pessoas
perguntam ‘por que você não acredita?’ ,as a pergunta na verdade deveria ser ao
contrario, ‘por que você acredita?’. Porque as pessoas como eu poderiam
simplesmente apontar ‘bem, os motivos pra se crer são ruins’” (21:18)
Isso é simplesmente ridículo.
Se você não acha os argumentos bons (o que eu duvido, já que ele claramente
nunca interagiu seriamente com eles), ainda pode ser o caso de Deus existir. Como
filosofo ateu Kai Nielson colocou:
“Mostrar
que um argumento é invalido ou que não é convincente não é o mesmo que mostrar
que a conclusão do argumento é falsa [...] Todas as provas da existência de
Deus podem falhar, mas ainda pode ser o caso de Deus existir. Em suma, mostrar
que as provas não funcionam não é o bastante. Ainda pode vir a ser o caso de
Deus existir.” [Kai Nielsen, “Reason and Practice”, pp. 143-4.]
Ateísmo é a crença de que
apenas o mundo material existe, não a ausência de crença em Deus ou deuses. Se
fosse, então o ateísmo seria uma posição que não requer nenhum pensamento e
estaria no mesmo nível de uma lesma ou uma arvore.
Continuando, Sottomaior cita o evangelho de Lucas:
Quanto,
porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles,
trazei-os aqui e executai-os na minha presença. (Lucas 19:27) (31:00)
Desonestidade intelectual
parece ser o forte de Sottomaior. Jesus estava contando uma parábola.
Um dos princípios de interpretação
Bíblica, é que você não pode interpretar uma passagem de um jeito sem
considerar passagens que negam a sua interpretação. Especialmente de for do
mesmo autor. O cara que disse “amai-vos uns aos outros” e ensinou a “perdoar os
inimigos” não diria pra trazer a pessoa a sua frente e mata-la.
Veja o contexto completo:
Disse pois:
Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino
e voltar depois.
E, chamando
dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.
Mas os seus
concidadãos odiavam-no, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos
que este reine sobre nós.
E aconteceu
que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem
aqueles servos, a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha
ganhado, negociando.
E veio o
primeiro, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas.
E ele lhe
disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades
terás autoridade.
E veio o
segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.
E a este
disse também: Sê tu também sobre cinco cidades.
E veio
outro, dizendo: Senhor, aqui está a tua mina, que guardei num lenço;
Porque tive
medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que não puseste, e segas o que
não semeaste.
Porém, ele
lhe disse: Mau servo, pela tua boca te julgarei. Sabias que eu sou homem
rigoroso, que tomo o que não pus, e sego o que não semeei;
Por que não
puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os
juros?
E disse aos
que estavam com ele: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez minas.
(E
disseram-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas. )
Pois eu vos
digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que não tiver, até o que
tem lhe será tirado.
E quanto
àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os
aqui, e matai-os diante de mim. - Lucas
19:12-27
O que Jesus está dizendo aqui
é uma das tarefas do Cristão é evangelizar. Mas aquele que não usa o que
recebeu para o evangelismo, terá o que recebeu tirado de si. E aqueles que não
se converteram, pois estavam mais preocupados com si mesmos do que com a
adoração a Deus estão indo pro caminho errado. Jesus estava simplesmente usando
“tipos de pessoas” que seriam conhecidas das pessoas da época para dar uma
lição de espiritualidade.
Conclusão
Não vou avaliar o vídeo inteiro,
mas esses são pontos que queria comentar. Eu sei que esse debate aconteceu há alguns anos, mas se Sottomaior quiser manter seu ateísmo de forma racional, ele precisa
urgentemente interagir com apologética contemporânea ao invés de ler Dawkins,
Harris e Hitchens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário