A Ciência requer Aproximações
Todo o tipo de atividade
profissional muda a forma que você pensa. Ela reescreve seu cérebro de forma
que, mesmo quando você esta fora do trabalho, as coisas começam a parecer
diferentes. Por exemplo, para um programador de computadores, tudo parece com
algoritmos. Para um professor, tudo é pedagógico. Como um físico, o que vem na
minha mente todo o dia são aproximações.
Toda a vez que eu penso sobre uma situação envolvendo buracos negros, ou provo um teorema, ou faço um calculo, eu sempre tenho que manter no fundo da minha mente que tipo de efeito físico eu estou ignorando, que não estou levando em conta. Esse habito se soltou na minha forma de pensar sobre a vida em geral. Idéias não precisam ser verdadeiras ou falsas, ao invés disso, elas podem ser boas aproximações em algum contexto, e más aproximações em outros contextos.
Toda a vez que eu penso sobre uma situação envolvendo buracos negros, ou provo um teorema, ou faço um calculo, eu sempre tenho que manter no fundo da minha mente que tipo de efeito físico eu estou ignorando, que não estou levando em conta. Esse habito se soltou na minha forma de pensar sobre a vida em geral. Idéias não precisam ser verdadeiras ou falsas, ao invés disso, elas podem ser boas aproximações em algum contexto, e más aproximações em outros contextos.
(Parcialmente relacionado: antes
de eu começar a fazer física seriamente, eu acho que eu tinha uma idéia no
fundo da minha mente de que quando eu fosse para a pós-graduação, eu iria
aprender como calcular os problemas realmente difíceis. Mas acabei vendo que
não tem como calcular as respostas para problemas matemáticos difíceis. Apenas
existem truques inteligentes para simplificar os problemas difíceis de forma que
eles virem problemas fáceis. Frequentemente, os truques inteligentes acham
algum parâmetro que podem ser pequenos, para justificar alguma aproximação. A
forma que ela funciona é: primeiro você descobre o que acontece se o parâmetro
for zero, e depois você calcula os pequenos efeitos disso, não sendo exatamente
zero.)
É impossível para qualquer modelo
do universo capturar todas as características da realidade, ou então ele seria
muito complicado para os seres humanos analisarem, ou para comparar os
experimentos, no alto nível de precisão exigido pela ciência. Consequentemente
toda teoria cientifica é aplicável apenas ao alcance limite do fenômeno. Em
outras palavras, ela isola algumas características da realidade que são tão
livres quanto o possível de influencias contaminadoras, e que é simples o
bastante para ser ou medida experimentalmente ou calculada teoreticamente (o
ideal seria fazer ambos, para comparar a teoria com o experimento).
Portanto, Ciência consiste de um
monte de modelos que se sobrepõem parcialmente e que cobrem com diferentes
remendos a realidade. Alguns desses remendos são menores, e cobrem situações
especificas (ex: o principio de Bernoulli para fluidos dinâmicos) e outros
cobrem um grande alcance de situações (ex: Eletrodinâmica Quântica, que cobre
tudo relacionado com eletricidade, química e luz). Nenhum desses remendos cobre
tudo, e os dois maiores remendos, Teoria de Campo Quântico e Relatividade
Geral, ainda não podem ser reconciliadas um com o outro.
Uma das implicações desse
principio é que revoluções cientificas raramente resultam em uma invalidação de
teorias velhas bem estabelecidas. O motivo é que se a primeira teoria explicava
um remendo significativo dos dados, a nova teoria pode apenas substituir a
antiga se ela explicar todas as coisas que a primeira explicava, e ainda mais.
Normalmente isso significa que a
teoria antiga é uma situação limitante ou caso especial da nova teoria. Então a
teoria antiga ainda é valida, apenas em um remendo menos do que a nova teoria.
Por exemplo, a teoria da Relatividade Geral de Einstein substituiu a teoria da
gravidade de Newton, mas ela predisse quase os mesmos resultados que a de
Newton no caso especial de que os objetos sendo considerados estão se movendo
muito mais lentamente do que a luz, e seu campo gravitacional não é muito
forte.
Então, as predições empíricas da
teoria de Newton ainda estão corretas quando aplicadas em domínio próprio. No
entanto, as implicações filosóficas quanto a natureza do espaço e do tempo não
poderia ser tão diferente quanto nessas duas teorias, porque a teoria
Newtoniana trata o espaço e o tempo como fixos, imutáveis, entidades separadas,
enquanto a teoria Einsteiniana trata o espaço-tempo como um campo contingente
único capaz de ser afetado pelo fluxo de energia e ímpeto através do
espaço-tempo.
Filósofos que raciocinam por
descobertas cientificas devem ser advertidos disso: apesar das predições
empíricas de uma teoria normalmente sobreviverem a revolução, as implicações
filosóficas normalmente não sobrevivem. Então, nossas visões cientificas atuais
devem ser tratadas de forma como se fossem provisórias. Por outro lado, seria
ainda mais tolo tentar discutir a natureza filosófica do espaço, tempo,
causalidade, etc. sem levar em conta as mudanças radicais que a Ciência tem
feito as nossas intuições ingênuas sobre esses conceitos. Alguns melhoramentos
em nosso pensamento são melhores do que nenhum.
Traduzido de: Aron Wall, Undivided Looking, “Pillar of Science III: Approximate Models”
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