A maioria dos que acompanham o blog não
me conhece pessoalmente. Por conta disso e por conta da minha necessidade
recente de expressar o que penso sobre alguns problemas pessoais, vi a oportunidade
(já que esse é meu blog pessoal) de escrever *um pouco* sobre minha vida
pessoal. Pretendo compartilhar como são as relações da minha família, meus
amigos e como conheci meu Deus.
Eu não nasci em uma família cristã.
Quando digo “família cristã”, não me refiro àquele sentido de “culturalmente
cristã”, que possui apenas os mesmos valores morais, ou ao brasileiro católico
de nome tradicional. Minha família via importância ritualística nos sacramentos
católicos e em participar da Missa, mas nem meu pai, nem minha mãe, nem meus
irmãos entregaram a vida a Cristo e se preocuparam em ser mais santos. Por
isso, digo que minha família não é cristã de fato, é apenas o brasileiro
católico tradicional.
Minha família primária era composta por
mim, meu pai, minha mãe, meu irmão mais velho e meu irmão mais novo. Tínhamos
um “tio postiço” que era como se fosse da família. Na verdade, em termos de
intimidade emocional, eu era muito mais apegado a ele do que a muitos outros
parentes. Poderíamos dizer que ele era um segundo pai pra mim. Além destes, eu
tive uma irmã mais velha a qual não conheci. Ela faleceu com alguns meses de
vida (ou talvez com pouco mais de 1 ano, não tenho certeza).
Nunca fui muito interessado em religião.
Na verdade, em toda a minha infância e adolescência eu tive meio repulsa por
religião e (ironicamente) por estudar. Reflexos do meu desgosto prévio nos
estudos talvez tenham sido percebidos nos primeiros textos do blog, onde
diversos erros de redação eram cometidos (erros de acentuação, concordância,
etc.). Quanto à religião, eu achava os rituais da igreja católica um saco.
Afinal, eu era uma criança, e não via nenhum sentido em ler textos, ajoelhar,
levantar e comer a “bolachinha”, como eu chamava na época.
Nessa fase da infância, minha vida tinha
suas peculiaridades. Meu irmão mais velho e eu saíamos bastante com meu tio. Meu
irmão e eu éramos fissurados em Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Power Rangers, Jiraya,
Jaspion, Black Kamen Rider e todos esses clássicos da TV Manchete. Até hoje eu
gosto desse tipo de programa, mas meu irmão deixou de lado com o tempo. E, com
certeza, esses programas constroem o caráter da criança bem melhor do que os
desenhos infantis de hoje em dia. Minha primeira lembrança com meu irmão foi
jogando Super Mario World em seu Super Nintendo.
Com 5 anos meu irmão mais novo nasceu. A
partir daí, ele virou meu companheiro em várias atividades. Até hoje jogamos
Tíbia, um MMORPG criado pela CipSoft juntos. Nos primeiros anos de sua vida ele
não gostava muito de futebol, o que fazia com que passássemos mais tempo juntos
enquanto os outros assistiam. Quando ficou um pouco mais velho ele passou a
gostar e virou um torcedor do São Paulo. O único jogo que eu consegui assistir
inteiro foi um jogo do Palmeiras, mas isso não é muito relevante.
Aos 9 ou 10 anos eu fiz a Primeira Comunhão
depois de fazer o “curso” do Catecismo na escola. Para mim era só uma atividade
que todo ser humano deveria fazer. Em sentido análogo, podemos dizer que era
algo que eu via como atividade essencial, assim como muitos brasileiros acham
que torcer para algum time de futebol é algo essencial. Basicamente, de modo mais
explícito, fui obrigado a fazer. Como eu era criança, não achei que poderia me
livrar disso, então aceitei. Aliás, a professora disse que ao final do “curso”
nós iríamos simular o sacramento católico do casamento, e eu queria que meu
nome fosse sorteado junto de uma menina que eu admirava. Mas, isso não
aconteceu e ela “casou” com outro indivíduo.
Eu nunca fui um cara popular, pelo
contrário. Na escola, meu tio era o diretor, meu pai o professor de educação
física e minha mãe era a professora de informática. Por conta disso, a escola
me dava uma liberdade zero. Bom, isso não me impediu de ser um dos caras
mais palhaços da minha turma. Afinal, essa era uma das únicas coisas que me
dava atenção positiva por algo que eu fazia na época. Minha família elogiava
apenas meus desenhos, já que sempre gostei muito de desenhar.
Quando digo que recebia elogios apenas
pelos meus desenhos da minha família, digo isso porque é a única coisa que me
lembro que os agradava. Eu nunca recebi elogios por aparência ou qualquer outro
ato, apenas por desenhar. Na escola, recebia elogios pelos desenhos também, mas
chamava a atenção pelas “graças” que fazia. Afinal, se eu não recebia atenção
positiva pela família, eu tinha que receber de fora. Nunca fui encorajado a
fazer nada pela minha família.
Dentre meus pais e meu tio, o único que deixava
mais explícito que acreditava em mim, pelo menos um pouco, era meu tio. Por
conta disso, nunca consegui acreditar muito em mim. Aliado a isso vieram vários
outros problemas que destruíam minha autoestima. Eu sempre fui mais gordo do
que o normal, o que ocasionou em algum bullying na escola. Meus parentes de
longe, para tentarem ser educados, me recebiam com frases como “nossa, como
emagreceu!”, mas eu sabia que era mentira. Isso me levou a desconfiar de todo e
qualquer elogio que eu recebi na vida. Para piorar, no começo da adolescência
meu olho esquerdo deu uma “desviada” para o lado e fiquei estrábico. Imaginem como
é ser adolescente com isso.
Mas, mesmo antes disso, eu já sofria com
algumas ofensas por parte de colegas. Até hoje eu me lembro de uma menina que
sentava na minha frente na sala de aula que, no meio da aula e sem motivo
nenhum, virou pra trás e disse “Nossa, Felipe, como você é feio, hein?”. E depois
tem gente que duvida da Depravação Total.
Minha confiança em mim mesmo e nos
outros não foi algo que teve qualquer melhora por um bom tempo (talvez o que
virá a seguir seja expor demais outras pessoas, mas eu não me importo muito e
vou falar mesmo assim). Meu pai sempre mentiu muito e sempre teve fantasias
muito fortes. Ele é daquele tipo que pensa “vou por coentro no macarrão e dizer
que é salsinha, ninguém vai perceber”. Parece uma mentirinha a toa, não? Agora
imagine mentiras desse tipo em absolutamente todos os aspectos da vida. Quando
eu digo que ele também tinha fantasias muito fortes, eu digo isso porque ele
interpreta o mundo de uma forma o torne o “herói injustiçado e perseguido”. Por
conseguinte, ele sempre foi muito ciumento no relacionamento com minha mãe,
mesmo depois do divórcio. Esse ciúme sempre gerou fantasias muito além do normal,
como, por exemplo, dizer que ouviu nossa mãe no telefone e o cara do outro lado
da linha perguntava se ela podia falar ou se meu pai estava presente.
Agora, com um pai que tem compulsão por
mentir, houve duas consequências: (1) eu e meu irmão mais novo não conseguimos
confiar nele; e (2) meu irmão mais velho vive em uma fantasia contando
inverdades para o mundo inteiro. O pensamento é mais ou menos o seguinte: eu e
meu irmão mais novo pensamos que, se mentir é errado e nosso pai mente
bastante, então ele está sempre errado; por outro lado, meu irmão mais velho
pensa que nosso pai sempre está certo, como ele sempre mente, então mentir não é
errado.
Desde pequeno, meu irmão mais velho tem
uma “pira” de dizer que é mexicano. Ele diz coisas como “soy mexicano en mi
corazon”. Parecia apenas uma fase boba quando era uma criança, mas isso
permanece até hoje. Mesmo com mais de 30 anos, meu irmão vive essa fantasia.
Apesar de ser um gênio em geopolítica e relações internacionais (ele tem
uma pós em jornalismo internacional e escreveu um TCC de 1044 páginas!), ele
mente descaradamente sobre sua nacionalidade. Diz que nasceu em Monterey e que
já trabalhou em vários lugares como colunista ou historiador. Também mente
sobre seus estudos e tudo mais. Por ter um ciclo social majoritariamente
virtual, as pessoas acreditam em tudo que ele diz. Nos últimos 6 ou 7 anos ele
tem gostado muito do Irã, o que o levou a aprender Farsi. Ele tem uma grande
habilidade em aprender línguas (e nem é pentecostal). Apesar de tudo isso, por
não ter desenvolvido nenhuma confiança em si mesmo, ele não teve coragem de
encarar a vida adulta e vive nessa fantasia de “mexicano”, debatendo na
internet diversos tópicos de geopolítica.
Pelo lado da minha mãe, apesar de termos
passado boa parte da infância juntos jogando videogame e fazendo lição de casa
juntos, não há muito mais que isso em nossa relação. Em ambos os casos – do lado
do meu pai e do lado de minha mãe – eu nunca ouvi um encorajamento, um
pedido de desculpas sincero ou um “eu te amo” que não fosse apenas por convenção
momentânea. Além disso, os dois lados esperavam que aprendêssemos coisas “no automático”.
Poucas coisas sobre a vida adulta nos foram ensinadas por eles. Na verdade, eu
mesmo aprendi a lidar com contas e a cozinhar totalmente sozinho.
Três episódios me marcaram muito na
infância: o primeiro foi, em vista do bullying da escola, eu falar pros meus
pais que estava sofrendo pela vida estar difícil e meu pai rir e dizer “o que é
difícil? Ser gordo?”; o segundo foi quando eu pedi ajuda com o dever de casa e meu pai falou com tom irônico “ain, o filhinho quer ajuda com a liçãozinha?”
enquanto socava minha televisão; e, por fim, eu dizendo que sentia que ninguém
gostava de mim e meus pais dando risada disso.
(Edit: isso não é dizer que meu pai nunca fez nada bom ou não tentou aproximação. Eu mesmo, após minha conversão tentei me aproximar e ajudá-lo com algumas coisas. Entretanto, seu orgulho e amor por sua imagem sempre estiveram acima de sua vontade de ter uma relação familiar.)
Em vista disso, você já deve imaginar
que a intimidade familiar é inexistente: meus pais não sabem sobre minha vida
pessoal, sobre meus amigos, "primeira namorada", desejos, planos para o futuro,
medos, anseios etc. Não existe nada – absolutamente nada – de intimidade
familiar nessa casa. A impressão que dá é que o pensamento sempre foi “dei a
vida e pago contas, portanto, sou pai e mando nessa joça”. Um pensamento
extremamente primitivo e, na melhor das hipóteses, burro. Esse tipo de
pensamento e essas atitudes foram o que fizeram com que eu perdesse muito do
respeito que eu tinha pelo meu pai. Apesar disso, ainda o via como meu pai. Por bastante
tempo fui mais “próximo” dele do que de minha mãe, pois eu acreditei em algumas
de suas mentiras por muito tempo.
Bom, aos 13 anos eu tive meu primeiro
contato com um cristão genuíno: Valter, o Taxista (sim, vou me referir a ele
dessa forma). Eu e meu irmão voltávamos quase todos os dias pra casa com o
Valter, o Taxista, e ele nos contava as mais variadas histórias de sua vida.
Certo dia, ele nos contou sobre sua conversão e sua fé evangélica. Eu fiquei
fascinado naquilo por um tempo, pois ninguém em toda a minha vida havia me
falado sobre a fé cristã daquela forma. Pouco tempo depois, me lembro de imaginar
a minha pessoa conversando com Deus (obviamente, um senhor barbudo) e apertando
as mãos dele, como se estivéssemos fazendo um tipo de acordo. Mesmo assim,
toquei minha vida normal, mas me lembro de ter sentido uma paz e uma alegria
muito marcantes naquele dia.
Valter, o Taxista, continuou sempre nos
levando pra casa, até que, no final de 2004, o colégio em que eu estudava fechou.
No ano seguinte, fui estudar em um colégio católico, mas tive que mudar de
escola no final do ano por conta de notas baixas. Nesse ano eu acabei me
tornando meio popular nas duas escolas em que estudei, pois eu comecei a fazer
imitações de pessoas famosas, principalmente pela influência que o Pânico na TV
tinha. Meus pais não gostavam muito dessas imitações, apenas diziam que eu “parecia
louco”. Mas, meus colegas gostavam e, a essa altura do campeonato, isso me
importava mais.
Nesse período eu deixei meu cabelo
crescer bastante. As pessoas me olhavam e perguntavam se eu era metaleiro.
Isso, é claro, teve uma reação dos meus pais. Meu pai mentia continuamente para
que eu cortasse o cabelo. Dizia coisas como “olha, eu fui em *tal lugar*,
mostrei uma foto sua e me ofereceram 10.000 reais pelo seu cabelo!”, ou “eu
ouvi aquelas senhorinhas ali atrás conversando e elas estavam dizendo que não
sabiam se você era homem ou mulher!”. Como eu ainda tinha certa confiança em
meu pai, na época eu acreditei nisso.
Apesar de acreditar em Deus, minha
cosmovisão de adolescência era mais deísta. Mas isso era algo que
mudaria eventualmente. No final do Ensino Médio, cortei meu cabelo, o qual foi
jogado no lixo por não valer nada. Também fui “obrigado” a prestar vestibular
para cursar Design Gráfico, simplesmente por “saber desenhar”. Bom, quem já fez
Design sabe que “saber desenhar” não é nem uma condição necessária e nem
suficiente para se fazer o curso. Essa foi minha primeira graduação. Não fiz
estágio, a faculdade que estudei inventou uma matéria que substituía o estágio
para quem não tivesse feito durante o curso. Mesmo assim, uma empresa me chamou
para uma entrevista pra estágio. Por não ter a mínima confiança em mim mesmo,
eu faltei à entrevista, achando que não era bom para aquilo. Eu gostava um
pouco de Design, mas não me motivei a estudar o bastante por achar que não
adiantaria muito. Por isso, tentei convencer a mim mesmo e à minha família que
não tinha gostado do curso. É claro, isso é só uma manobra evasiva, algo que havia
aprendido com meu pai.
No último ano do curso, comecei a cursar
teatro profissionalizante. Eu gostava de atuar e queria ser um dublador. Na
verdade, depois eu acabei cursando dublagem, mas ainda não consegui me motivar
a continuar nesse caminho. Mas isso não vem ao caso agora. Ao final de 2009 eu
conheci uma garota no falecido Orkut. Por 2 anos, compartilhamos muito de
nossas experiências de vida. Era a única pessoa que parecia ver algo útil em
mim e que fazia eu me sentir importante para algo. Como uma amiga próxima, foi
a primeira vez que alguém disse “eu te amo” e eu achei ser sincero. Claramente,
isso criou uma certa dependência emocional de minha parte, o que ocasionou em
uma tristeza profunda em mim por conta do que aconteceu no final. Ela começou a
namorar um baixista, e o cara, por ciúme, a impediu de falar comigo e ela
concordou.
Depois disso, uma enorme carga emocional
negativa caiu sobre mim (essa linguagem parece meio esotérica, mas foi o melhor
que consegui agora). Fiquei cerca de 6 meses sem vontade de viver e com muito
ódio. Pouca coisa me motivava a continuar vivo e a sorrir. Me lembro de ficar
irritado com Deus. Irritado, mas não descrente. Fazia todo tipo de coisa para
provocar Deus e mostrar minha indignação: ouvia músicas que ofendiam a Deus e
pensava coisas perversas sobre ele. Pensei em várias formas de cometer
suicídio, mas nunca puis nenhuma em prática. Como você deve imaginar, minha
família não sabe de nada disso. A única pessoa que percebeu minha tristeza foi
meu tio, que me ofereceu ajuda psicológica, mas não cheguei a me tratar na
época.
Apesar de ter tentado chamar a atenção
de Deus por métodos, digamos, negativos, eu também tentei por métodos positivos.
Um de meus primos sempre compartilhava no Twitter os tweets da página Leia a
Bíblia e, em um desses tweets, a página citou Tiago 4.8 (“Chegai-vos a Deus,
e ele se chegará a vós”). Por conta disso, segui a página no Facebook e no
Twitter e baixei o app Bíblia do YouVersion no meu primitivo iPhone 3gs para
tentar “me achegar a Deus”. Nesse app, comecei o plano de leitura diário de 1
ano de leitura da Bíblia e toda noite antes de dormir eu lia a Bíblia (admito
que pulei as genealogias e leis detalhadas). Esse movimento de “chamar a atenção de forma positiva” não veio
por mim mesmo. Na época eu havia conhecido dois amigos pelo Orkut que eram
cristãos. Um deles era moderador de uma comunidade do Nintendo Wii comigo.
Pouco tempo depois meu irmão mais novo, por
conta de problemas talvez similares, se tornou ateu. No começo, era um desses
ateus toddynho de internet com argumentos “piores que ônibus lotado”. Mas, como
eu não tinha treino nenhum em apologética (afinal, nem sabia o que era isso), os
argumentos expostos por eles e por seus amigos me pareciam convincentes. Nesse
tempo, me tornei agnóstico, mas também pensei em ver o que o outro lado
pensava.
Certo dia (5 de Janeiro de 2012, pra ser mais exato), a página Leia a Bíblia
compartilhou um vídeo do filósofo William Lane Craig, destruindo, demolindo,
aniquilando os argumentos do ateu Peter Atkins em um debate. Após esse
momento, comecei a devorar os vídeos do Craig: vi seus debates com Atkins,
Christopher Hitchens, Sam Harris e outros. É impossível alguém intelectualmente
honesto assistir a esses debates e achar que o Craig perdeu.
Print do post da página "Leia a Bíblia" |
Bom, você deve saber que, depois disso,
eu aceitei que o cristianismo era a verdade absoluta sobre a realidade e me preparei
para “estar sempre preparado a responder a qualquer um que pedisse a razão de
minha esperança”. Mas, assistindo um dos debates do Craig, uma das coisas que
ele disse ao final me chamou a atenção. Craig é um servo fiel de Cristo, e
disse ao final de um de seus debates:
Existe o
perigo de os argumentos a favor da existência de Deus distraírem a atenção das
pessoas com relação ao próprio Deus. Se você busca a Deus com sinceridade, ele
se mostrará evidente para você. A Bíblia afirma: "Chegai-vos a Deus, e ele
se chegará a vós outros" (Tiago 4.8). Não devemos focalizar toda nossa
atenção nas provas a ponto de não ouvirmos a voz de Deus falando conosco. Para
quem estiver disposto a ouvir, Deus se tornará uma realidade viva e imediata.
Conhecer a obra de Craig não só foi o
método usado pelo Espírito Santo para me convencer do cristianismo, como também
foi algo que mudou muito minha vida. Comecei a me interessar por filosofia e
teologia, mesmo tendo passado a vida inteira detestando estudar e repudiando a
vida religiosa. Então, após ler a Bíblia inteirinha, eu comecei a me preocupar
em ir a alguma igreja. Aquele meu amigo cristão que era moderador no Orkut
comigo me enviou um site chamado “Encontre uma igreja”. Bom, o site só tem
igreja adventista. Consequentemente, eu fui à mais próxima de casa, sem
conhecer sua doutrina. Antes disso eu ia em uma igreja católica aqui perto de casa de vez em quando.
Com pouca pesquisa, vi que Ellen White
estava muito relacionada, historicamente, com a ascensão do criacionismo de
terra jovem nos séculos XIX e XX, algo que eu não concordava, pois já havia ouvido
os comentários de Craig sobre isso. Nunca acreditei em Ellen White, pois, pensava
que se ela tinha errado sobre o criacionismo, em que mais não poderia ter
errado, não é mesmo? Mais tarde, vi que ela havia errado também sobre a data em
que a igreja supostamente teria abandonado o sábado e começado a guardar o
domingo. Na época, um bom amigo meu me indicou um livro de apologética
adventista, que apresentava argumentos até “ok” para a defesa das doutrinas
adventistas. Neste mesmo ano eu também tive alguns problemas musculares que me causavam
uma dor constante. Após ir em vários médicos, um deles me aconselhou a fazer
fisioterapia e pilátes.
Bom, por ser meio cético e não crer em
Ellen White, tive uma certa pressão na igreja. Algumas experiências marcantes
foram: (1) o porteiro perguntando se o pastor havia aprovado os livros que eu
estava lendo; (2) uma senhora pedindo oração por um amigo dela que era pastor
batista por ele ter “descoberto o sábado”; e (3) um debate sobre criacionismo
que participei com o Michelson Borges, no qual fui impedido de falar depois de
refutar o primeiro argumento dele contra o Big Bang com a desculpa de que o
debate tinha “pouco tempo”.
No começo de 2015, comecei a pensar em
sair da igreja por conta das discordâncias de crenças. Meus estudos de teologia
me mostravam que, apesar de haver um número grande de cristãos sinceros naquela
igreja, suas doutrinas não poderiam vir da Bíblia. Decidi sair da igreja quando
o pastor, um grande amigo meu, tentou me ensinar que Jesus e o Arcanjo Miguel
eram a mesma pessoa. Na semana seguinte, no dia 8 de abril de 2015, enquanto eu
ia para a fisioterapia, eu pensava pra qual igreja eu iria. No caminho, passei por
uma igreja presbiteriana e pesquisei na internet sobre ela. Encontrei o site e
o email da igreja e marquei uma conversa com o pastor. Depois da conversa, no dia
seguinte, fui na reunião de jovens e fiquei por lá. Desde o dia 11 de abril de
2015 estou naquela igreja.
Bom, ao final daquele ano comecei a
fazer terapia com uma psicóloga que frequentava essa igreja, mas que eu não a conhecia.
Descobri como lidar com minhas fantasias, neuras, melhorei em partes minha
autoestima e descobri diversas coisas sobre mim mesmo que aconselhamento
bíblico sozinho nenhum faria eu descobrir. Aprendi diversas técnicas para
controle de pensamentos e aprendi a interpretar melhor as pessoas.
Consequentemente, aprendi bem a praticar a autoterapia (Eis a vantagem de se
ter uma psicóloga honesta).
Em 2016 comecei o curso de filosofia.
Mas, a partir daqui, não tem muito o que falar. Em 2019 comecei a teologia. Também
não há muito o que falar. Talvez minha aproximação com meu orientador, seja algo
interessante de se mencionar. Ele me ensinou, melhor do que ninguém, o valor da
filosofia para a apologética. A apologética pela apologética não vai muito
longe. Ela só serve pra respostas rápidas e confortantes (é o que aconteceu com
Norman Geisler e, infelizmente, acontece com muitos apologistas). Foi o que eu
disse no último texto.
Enfim, essa é uma parte da minha vida e
o meu processo de conversão. Falo “processo”, porque não teve um momento único
lindo e maravilhoso onde eu me ajoelhei e senti arrepios e falei “Senhor eu me
entrego a ti e bla bla bla”. Isso não aconteceria comigo, e Deus sabe disso.
Por isso, ele escolheu esse método mais longo e sou grato a ele por isso. Grato
por todos os “avais epistêmicos” que ele me deu na vida de que eu poderia
confiar nele. Deus me convenceu dos meus pecados e mudou minha vida. Foi
através do reconhecimento do sacrifício único de Cristo que fui salvo. Salvo
pela graça, mediante a fé. Não uma fé cega. Fé cega é “fingir saber algo
que não sabe”. Mas, Cristo de tornou uma “realidade imediata” a qual eu “ando
lado a lado” desde então. É, a única âncora segura da vida. O resto, como pôde
ver, pode ser decepcionante. Mas, como diz Inês Brasil: “Graças a Deus porque
Deus existe”. E foi assim, crianças, que eu conheci o meu Deus.